Recentemente, li os três livros extras que foram originados (spinoff) a partir de A Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O’Neill. Nós podemos chama-los de “a trilogia Nemo”.
Quem já leu os demais volumes de Liga, sabe que o Capitão Nemo (também conhecido como Príncipe Dakkar) é um personagem muito importante no que consideremos os volumes I e II (encadernamos no livro 1898, Devir) deste grandioso trabalho de Moore, debruçado sob uma narrativa que se estende ao longo de várias décadas. Acontece que, quando chegamos ao que chamamos da edição Século, que viaja de 1910 até 2009, o Capitão Nemo é substituído por sua filha, Janni Dakkar, que assume o comando do submarino Náutilos.
Se na primeira parte de “Século”, que se passa em 1910, temos a origem de Janni Dakkar, nos capítulos seguintes (1969 e 2009) a personagem é praticamente esquecida, isso porque Moore, com certeza, já deveria ter traçado o destino da pirata ao longo de uma nova série de histórias que se passaria nos anos de 1925 (Coração de Gelo), 1941 (As Rosas de Berlim) e 1975 (Rio de Espíritos), consolidando uma cronologia muito bem pensada onde os acontecimentos do mundo da personagem interage com outros cenários, revelando a “trilogia Nemo” como uma fantástica outra história do século XX, paralela ao que Moore criara anteriormente.
E para construir este incrível mundo, Moore continua lançando mão sobre as mais variadas influencias da cultura pop da literatura e cinema, a exemplo do que fez ao longo de toda essa série, tornando a busca dessas referências uma das brincadeiras mais divertidas e surpreendentes na leitura de qualquer título que compõe o espectro de retalhos que é Liga Extraordinária.
Por isso, lendo este gibi, decidi fazer uma lista que curiosidades que percebi e que descobri lendo a trilogia Nemo. Espero que desfrute.
Parte 1. Nemo – Coração de Gelo
Hildy Johnson
Se você é do tipo de leitor que só lê os quadrinhos e ignora os textos extras com os quais Moore normalmente nos presenteia no final de suas obras, só irá encontrar com Hildy no começo da terceira parte da trilogia Nemo: Rio de Espíritos. Mas se você leu os dois apêndices que temos em Coração de Gelo e As Rosas de Berlim, provavelmente já saberia quem é Hildy Johnson.
A personagem é original do filme estadunidense His Girl Friday (no Brasil, Jejum de Amor), de 1940, considerada uma das melhores comédias de todos os tempos, dirigida por Howard Hawks e conta a história de Hildy (interpretada por Rosalind Russell) e Walter, dois jornalistas que trabalham no mesmo jornal e acabam de se divorciar.
Em Nemo, ela torna-se uma personagem curiosa porque apresenta, muito sutilmente, um certo bom humor escondido nas profundesas de Janni Dakkar, fã dos textos da jornalista e que, por isso, a convida à bordo do Náutilos e para visitar sua cidade natal em datas festivas, para cobrir os acontecimentos e apresenta-los ao mundo.
Ayesha
A feiticeira e rainha branca Ayesha apareceu pela primeira vez no livro She (Ela, a Feiticeira), publicado originalmente em 1887, um best-seller escrito por Henry Rider Haggard, escritor vitoriano de aventuras e fantasia, mais conhecido pelo seu livro As Minas do Rei Salomão (onde criou Allan Quatermain, personagem recorrente do universo de Liga Extraordinária).
O livro narra as aventuras de Leo Vincey e Horace Holly numa região inexplorada da África, onde encontram a civilização perdida de Kor, obediente a uma misteriosa feiticeira: Ayesha, mais conhecida apenas como “Ela”, uma rainha branca, imortal, com mais de dois mil anos, uma feiticeira cuja beleza é capaz de hipnotizar os homens.
Na trilogia Nemo, ela é a origem da maioria dos problemas dos nossos protagonistas e, mais uma vez, Moore nos brinda com uma dose de sua genialidade quando une os universos e os interesses do mundo de Adenoid Hynkel com os de Ayesha: na utopia expansionista e racista de Hynkel, para começar a dominar o mundo, ele precisaria de parceiros na África e, nada melhor para isso, do que uma líder branca em um país de negros. Assim, eles formam uma aliança.
Outra curiosidade é que Moore une as duas obras do autor Henry Rider Haggard quando Allan Quatermain, em aventuras não desenhadas, mas listadas na cronologia da Liga, entre as edições 1898 e Século, encontra o lago africano em Kor que Ayesha usa para tornar-se imortal. Assim, o personagem torna-se o jovem centenário Allan Quatermain Jr.
Cidadão Kane
É um filme norte-americano de 1941, dirigido, escrito, produzido e estrelado por Orson Welles. É considerado uma das obras-primas da história do cinema, não raramente sendo colocado entre os primeiros das listas de melhores filmes de todos os tempos.
O filme conta a história de Charles Foster Kane, inspirado no magnata da imprensa William Randolph Hearst (que durante seu lançamento, proibiu de mencionarem o filme em seus jornais). Narrado, principalmente, através de flashbacks, a história é contada por meio da investigação de um jornalista que quer saber o significado da última palavra que o magnata disse antes de morrer: “Rosebud”.
A participação do cidadão Kane é relativamente discreta na trilogia Nemo, aparecendo apenas na primeira parte da obra, mas sendo responsável por toda a perseguição que os heróis sofrem em Coração de Gelo, pois é ele quem contrata Frank Read e Swyfte para caçarem Nemo por terem roubado a bagagem de Ayesha do porto, em Nova York, em 1925.
Frank Reade
Foi o protagonista de uma série de romances baratos e populares publicados, principalmente, para meninos. O primeiro romance, Frank Reade e Seu homem vapor da pradaria, é uma imitação da obra de Edward S. Ellis (The Steam Man of the Prairies), considerado o primeiro romance de ficção científica dos EUA e reeditado seis vezes de 1868 a 1904.
A versão escrita Harry Enton e serializado na Frank Tousey revista juvenil Meninos de Nova York, de 28 de fevereiro a 24 de abril de 1876, envolvia as aventuras de Frank Reade com suas invenções: vários mecanismos movidos a vapor, como balões dirigíveis e helicópteros, submersíveis, veículos terrestres e robôs.
Uma série muito longa de romances juvenis se seguiu com o filho do personagem: Frank Reade Jr, uma versão adolescente do herói inventor. É este o personagem que aparece em Nemo – Coração de Gelo, mas já como um senhor de certa idade e que interage com outro grande inventor da ficção cinetífica centenário: Tom Swift.
Tom Swyfte
Swyfte é a versão de Alan Moore de Tom Swift, o garoto-gênio criado por Edward Stratemeyer, um dos escritores mais prolíficos do mundo, produzindo mais de 1.300 livros, vendendo mais de 500 milhões de cópias.
Tom Swift é o personagem principal de romances de ficção científica e aventura juvenil publicado pela primeira vez em 1910, mas que são divididas em seis fases que se estendem até os dias de hoje, totalizando mais de 100 volumes, sendo que o último foi lançado ano passado, iniciando a sexta série de livros do personagem.
Entre suas invenções está a arpão elétrica, um precursor do que conhecemos hoje como o taser. Inclusive, o nome “taser” era originalmente “TSER”, uma referência para Tom Swift Electric Rifle”.
Uma das curiosidades que descobri procurando sobre Tom Swift, foi que na primeira fase dos seus textos livros, que dura de 1910 a 1941, existe um consenso de que essas obras contêm forte racismo, representando os africanos como animais brutais e não civilizados, e o protagonista branco como seu salvador paterno. Acredito que Moore quis criar sua versão do personagem, em Coração de Gelo, a partir deste tipo de características, fazendo dele um jovem arrogante e antipático.
H.P. Lovecraft – Shoggoths – Tekeli-li
Não é a primeira vez que Moore usa referências lovecraftianas em suas obras. Ele escreveu Neonomicon e Providence, e mesmo em Liga Extraordinária, durante Século, existe um conto sobre essas criaturas cósmicas e abissais.
Em Coração de Gelo, aparecem os Shoggoths, seres amorfos e geneticamente modificados, criados como criaturas servas pelos Elder Things, que os usaram para construção subaquática. Sua capacidade de moldar seus corpos conforme necessário os tornava máquinas de construção vivas ideais.
Embora criados para serem irracionais, os shoggoths mudaram através dos éons e lentamente desenvolveram consciência, e até se tornaram rebeldes, levantando-se contra seus senhores e os levando à extinção.
Embora raros, alguns shoggoths conseguiram sobreviver na era moderna, e podem ser encontrados em locais isolados da Terra ou nas profundezas de oceanos, por isso Janni Dakkar e sua excursão os encontra na Antártica.
Um comportamento curioso do shoggoth é o repetido grito de “Tekeli-li! Tekeli-li!”, que Alan Moore utiliza em sua história. Acredita-se que essa seja uma frase proferida pelas Coisas Antigas durante os éons de escravização dos Shoggoth, possivelmente com a intenção de estimular os Shoggoth com suas tarefas.
Segundo informações que coletei pela net, Lovecraft inspirou-se no conto The Narrative of Arthur Gordon Pym (1838), de Edgar Allen Poe, de onde teria extraído o grito “Tekeli-li!”, que na língua dos nativos da Antártica, é usado como uma exclamação de aflição e sofrimento.
Professor Augustus SFX Van Dusen
É um personagem fictício de uma série de contos de detetive e dois romances escritos pelo autor Jacques Futrelle, sendo que alguns de seus textos foram originalmente publicadas no The Saturday Evening Post e no Boston American.
O Professor Van Dusen é conhecido como “the thinking machine”, a máquina pensante, pela sua capacidade de dedução e pelo uso da lógica e alcançou fama quando escapou da Prisão de Chisholm, antes pensada para ser à prova de fugas. Ele foi era membro da tripulação de Janni Dakkar durante sua expedição de 1925 às Montanhas da Loucura e sua dedução racional foi fundamental para salvar a equipe contra Tom Swyfte e Frank Reade Jr.
Uma curiosidade sobre o autor Jacques Futrelle é que sua breve vida foi interrompida pelo naufrágio do Titanic. Ao retornar da Europa a bordo do luxuoso navio, Futrelle, um passageiro de primeira classe, teria se recusado a embarcar em um barco salva-vidas, insistindo que Lily May Peel, a esposa, o fizesse, a ponto de forçá-la a entrar. Ela conta que a última vez que o viu, ele estava fumando um cigarro, no convés, acompanhado de outro escritor e proeminente membro de altas classes, John Jacob Astor IV. Futrelle morreu no Atlântico e seu corpo nunca foi encontrado.
Megapatagonia
É um arquipélago no meio da Antártica que faz parte do que é chamado de “The Blazing World” (em tradução literal: Mundo em Chamas), criado pela Duquesa Margaret Lucas Cavendish, que viveu entre 1623 e 1673, uma aristocrata, filósofa, poeta, cientista, romancista e dramaturga britânica. A megapatagonia apareceu pela primeira vez em prosa no livro “The Description of a New World, Called The Blazing-World”.
Margaret Lucas Cavendish descreveu esse mundo como uma representação fantasiosa de um reino utópico e satírico em outro mundo (com diferentes estrelas no céu, semelhantes a cometas) que pode ser alcançado através do Polo Norte. É o único trabalho conhecido de ficção utópica de uma mulher no século XVII, bem como um dos primeiros exemplos do que chamamos agora de ‘ficção científica”, na verdade alguns classificam seu texto como um tipo de proto-ficção científica.
Em Nemo – Coração de Gelo, a passagem pela Megapatagônia é muito ligeira, e lá existem personagens parecidos com cartuns de desenho animado que falam francês de trás pra frente (se você souber o porquê, me diga!).
De acordo com o que lemos em Dossiê Negro, o encadernado que seria a continuação de edição da Liga de 1898, a Megapatagonia seria uma espécia de cópia do “Mundo Brilhante”, o local que Mina e Allan visitam e que tanto ele quanto nós, leitores, precisamos de óculos especiais (aqueles óculos 3D que usamos com lentes de celofane de duas cores) para enxergar corretamente.
Parte 2 . Nemo – As Rosas de Berlim
Armand Robur.
Armand Robur é filho de Jean Robur, personagem da obra Robur, o Conquistador (francês: Robur-le-Conquérant), um romance de ficção científica de Julio Verne, publicado em 1886. O livro tem como elemento fantástico a criação do Albatroz – a máquina voadora mais incrível já construída. De maneira semelhante ao que vemos em 20.000 léguas Submarinas e o domínio dos mares, Robur pretendente torar-se o conquistador do mundo através de sua jangada aérea, explorando temas muito parecidos.
No livro de Julio, é revelado que, em determinado momento, quando o Albatroz explode, ainda restava intacto o suficiente para que, pelo menos algumas das suas hélices, operassem e diminuíssem sua descida, salvando a tripulação, que usou os restos da aeronave como barco. Se você leu Nemo – As rosas de Berlim, sabe que Moore usou muitas referências aqui.Até onde sei, corrijam-me se estiver enganado, Armand Robur, o filho de Jean Robur, é criação de Moore para o mundo da Liga Extraordinária, assim como toda a descendência de Capitão Nemo também teriam sido criados por Moore: a filha de Janni Dakkar, a neta Hira Dakkar e o bisneto Jack Dakkar.
Fritz Lang.
Preferi citar como referência maior em Nemo – As Rosas de Berlim o diretor de cinema expressionista Fritz Lang, porque é ele quem dá a maior parte do tom da obra. A aventura de Nemo em 1941 é moldada por influencias do filme Metrópoles e Dr. Mabuse.
Em Metrópoles (filme de 1927), Rotwang é um brilhante cientista e inventor, cuja maior conquista é a criação de um robô feito na forma de uma mulher (o Maschinenmensch , ou Máquina-Pessoa). Hotwang não aparece neste quadrinho de Moore, ele é mais citado nos apêndices do volume Século, mas o que importa é que sua obra, a robô Maria, e o clima soturno da cidade alemã é preservado nos quadrinhos do senhores Moore e O’Neil.
Quando Maria aparece em As Rosas de Berlim, saindo das chamas e apresentando seu conhecido visual metálico, a cena impressionaria qualquer T-800.
Dr. Mabuse
O Dr. Mabuse é um filme policial, mudo, de 1922, dirigido por Fritz Lang. Trata-se do primeiro filme baseado no personagem Dr. Mabuse, criado pelo escritor luxemburguês Norbert Jacques. O filme tem cerca de quatro horas e é dividido em duas partes, intituladas Der große Spieler: Ein Bild der Zeit (O Grande Jogador: Uma Imagem do Tempo) e Inferno: Ein Spiel von Menschen unserer Zeit (Inferno: Um Jogo para as Pessoas de Nosso Tempo).
O título do filme é ambíguo. Der Spieler significa “o jogador” em alemão, mas também pode ser traduzido como “o apostador”, “o ator” ou “o marionetista”. O personagem-título, que dissimula, brinca com as emoções e engana as pessoas, é provavelmente tudo isso de alguma forma.
Moore utiliza Dr. Mabuse como um dos mais importantes elementos políticos da Alemanha, naquele período, e sua atuação como “apostador” é fundamental para as intenções de Nemo e seu marido durante sua aventura em Berlim.
Dr. Caligari.
Outro personagem importante que aparece na Alemanha de Moore, e que interage diretamente com as forças que representam Maria e Mabuse, é o Dr. Caligari, criado no filme O Gabinete do dr. Caligari, de 1920, dirigido por Robert Wiene e escrito por Hans Janowitz e Carl Mayer.
Caligari é um cientista capaz de controlar as pessoas com técnicas de sonambulismo, o que é muito oportuno para controlar soldados no mundo militaresco que Moore nos apresenta: um arremedo do nazismo que conhecemos.
Hynkel, O Grande Ditador.
Já que falávamos de arremedo de nazismo, outra figura importante e que realça no quebra-cabeças de Moore nessa trilogia Nemo é a presença de Adenoid Hynkel, o ditador que é uma sátira de Hitler que foi imortalizado pela atuação de Charlie Chaplin no filme O Grande Ditador (1940).
Esse elemento fascista é fundamental para realçar o amalgama que representa a Alemanha de Moore na década de 40 ou mesmo o que representaria a herança maldita do nazismo na terceira parte de Nemo, que se passa nos anos 70.
É impressionante ler a forma como todas essas referências se unem numa grande engrenagem do mundo da criação fictícia, nos apresentando um mundo alemão inspirado nesses personagens que se fundem de maneira extremamente azeitada, que só a mente e o conceito que Moore criou com Liga Extraordinária poderia oferecer.
Parte 3. Nemo – Rio de Espíritos
Hugo Coghlan
Hugo foi uma grata surpresa. A primeira cena dele na terceira parte de Nemo, Rio de Espíritos, ele está carregando, nas costas, centenas de quilos de sua bagagem e provisões (inclusive vacas e porcos) para dentro do Náutilos. Ele é um ser superforte, uma característica que aparece pouco em toda a Liga Extraordinária.
Fui pesquisar e descobri que Coghlan é considerado um dos primeiros super-heróis de todos os tempos, criado 36 anos ANTES do Superman! E eu nunca tinha ouvido falar dele! São coisas assim que Alan Moore nos proporciona, nessa incrível e enciclopédica obra que nos oferece.
Ele é conhecido também como Hugo Hércules (o “HH” que aparece em suas malas é uma pista para isso), e foi criado por William HD Koerner, na história em quadrinhos “Hugo Hercules”, entre 1902 e 1903. E como Hércules, trata-se uma maravilha física, com força e velocidade sobre-humanas, capaz de parar carruagens fugitivas simplesmente agarrando-as, ou apanhar um cofre em queda livre com uma única mão, ou de levantar um elefante.
O personagem que Moore criou para Nemo, na verdade, é uma amálgama do Hugo Hercules dos quadrinhos com Cú Chulainn (uma pronúncia para Cú Chulainn é “Coghlan”), um herói da mitologia irlandesa, ambos, claro, bebendo da mitologia grega e sua chegada é o ponto focal do começo da história, com sua presença sendo constantemente sentida ao longo de toda a narrativa.
Hugo Hércules é considerado “uma maravilha do garoto”, um jovem alto, bem vestido e educado que vagueia pela cidade ajudando os necessitados. A versão de Alan Moore para o personagem nos presenteia com todo este carisma e cavalheirismo, até mesmo quando elogia a septuagenária Nemo, oferece-lhe um pouco de sexo “à moda antiga”, o que o deixaria muito honrado.
O Monstro da Lagoa Negra.
O famoso filme de 1954 conta a história de um grupo de cientistas que está procurando por fosseis na região amazônica (que verdade é Jacksonville, na Flórida) e encontra a pata de uma criatura desconhecida. Com a descoberta, surge a ideia de uma expedição que os faz chegar até um local chamado “Lagoa Negra”, espaço de águas caudalosas, escuras e de criaturas abissais.
O visual do filme e do próprio monstro deu à película um ar cult, sendo sempre lembrado na história do cinema e em outras mídias, como na série The Munsters, no filme The Monster Squad e do musical homônimo, Creature from the Black Lagoon. O tal monstro possui mitologia própria, não por menos é que Alan Moore decidiu incluí-lo em seu ponto de convergência de séculos de ficção, tributos, homenagens e metalinguagem (como diria Flavio Pessanha, na introdução de um dos livros da Liga), inclusive incluindo no habitat desses monstros as incríveis ruínas de Yu-Atlanchi.
Ruínas de Yu-Atlanchi.
As ruínas que aparecem em Rio de Espíritos foram retiradas de um romance de fantasia do escritor americano Abraham Merritt chamado The Face in the Abyss, e foi publicada, originalmente, na edição de 8 de setembro de 1923 da revista Argosy All-Story Weekly.
O livro conta a história de Nicholas Graydon e seus parceiros que se perderam no deserto peruano em uma caçada ao tesouro inca. Aparentemente sozinhos nessa região selvagem, eles logo encontraram Suarra, uma mulher misteriosa e bonita que prometeu a Graydon que o ajudaria. Mas a promessa de Suarra levou os aventureiros pelos vales das montanhas de Yu-Atlanchi, onde se depararam com dinossauros, bestas estranhas e inimagináveis, por isso, não estranhe caso encontrar em Nemo – Rio de Espíritos um ou outro bicho estranho ou pré-histórico.
Em determinada parte do Rio de Espíritos, o Náutilos precisa atravessar o caudaloso Amazonas, mas ele é obstruído pelas ruínas de Yu-Atlanchi. É impressionante a cena em que Hugo Coghlan passa horas debaixo d’água, levantando toneladas de escombros como se fosse uma “moleza”.
É importante colocar que é este o cenário final das aventuras de Nemo e, para fechar bem o arco da história, não poderia faltar em meio a esta densa floresta, uma pitada de teoria da conspiração tropical nazista, com réplicas de Ayesha e Hynkel no meio de um milenar refúgio inca.
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