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Crítica | Upload: nova série do criador de The Office e Parks and Recreation brinca com a vida após a morte

Upload
Amazon Studios

Sem um protagonista carismático e engraçado, Upload, a nova comédia de ficção científica do Amazon Prime mostra um futuro próximo em que viver nele precisa pagar para morrer.

Esta resenha ficou grande, mas tudo que é dito nela, foi apresentando no trailer da primeira temporada de Upload. Pode conter spoiler? Não, mas leia com cuidado.

Upload é uma criação de Greg Daniels, cujo nome você pode não reconhecer, mas cujo os roteiros você definitivamente já assistiu.

Daniels é escritor e até vencedor de Emmy que adaptou a versão americana de The Office e co-criou Parks and Recreation, trabalha com comédias há quase três décadas desde que começou com Os Simpsons em 1993. Foi por causa disso que prestei atenção na nova série de comédia do Amazon Prime, Upload.

Minhas primeiras impressões – isso tudo no primeiro episódio – foi um cruzamento de The Good Place, da NBC, e o episódio de “San Junipero” de Black Mirror. Eu não reconheci a maioria dos atores de Upload, mas tudo bem. Já que Greg Daniels tem a capacidade de desenvolver personagens sem usar grandes nomes, decidi deixar acontecer.

As comparações imediatas com The Good Place e “San Junipero” são interessantes e claras, uma vez que o primeiro foi criado pelo co-criador ‘Parks and Rec com Daniels, Michael Schur, e o segundo é série de antologias mais sombrias que existem, que parece bastante diferente de tudo o que Daniels escreveu no passado.

A série acontece em 2033, ambientada em um mundo no qual você pode usar seu carro autônomo de motel, a polícia é, na verdade, apenas iPads conectados a drones e todas as grandes empresas são um conglomerado (como Panera-Facebook e Oscar Mayer-Intel), e o mais importante para a trama, a vida após a morte é digital e garantida – se você puder pagar. Se tem dinheiro, você se torna um Upload.

No entanto, em alguns casos, como o do personagem principal Nathan Brown, toda essa tecnologia pode ser usada contra você.

Embora a tecnologia do futuro e a forma como eles agora tratam a morte e como ela tenha sido praticamente eliminada sejam dois pilares do programa, há temas muito mais profundos e mais sutis nas arestas da série. E, desde o início, somos envolvidos por uma das grandes forças motrizes desse programa: a divisão de classes, algo que é massivamente contextualizado quando você entra na vida após a morte.

Nas cenas introdutórias do primeiro episódio da série, temos uma visão do que a vida após a morte virtual é um “paraíso” para os ricos, uma das empresas mais famosas e líder em vida após a morte digital, Horizen, vende propriedades num lugar chamado Lakeview. Logo descobrimos durante um jantar de Ação de Graças que Nathan, um especialista em codificar linhas de programação e seu parceiro de negócios/melhor amigo Jamie estavam trabalhando em uma versão gratuita desta vida após a morte digital que tornaria acessível a todos, não apenas aos ricos. Mas a caminho de casa, depois do jantar, o carro autônomo de Nathan falha e bate em um caminhão estacionado.

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Upload
Allegra Edwards é Ingrid Kannerman (Amazon Studios)

Ao mesmo tempo em que Nathan está morrendo, também somos apresentados ao outro personagem principal da série: Nora (Andy Allo), uma jovem e desiludida funcionária de suporte técnico da Horizen, que mostra o outro lado da sociedade de 2033, pobre e periférica.

Mas essa distinção de classe é transferida para a vida após a morte, mesmo que pareça idílica para os desavisados que estão assistindo Upload. Quando Nathan chega a Lakeview – ele rapidamente percebe que a maioria das comodidades oferecidas lá, de alimentos que não são oferecidos no buffet e roupas de moletom, custa dinheiro. Dinheiro real. Dinheiro que alguém no mundo externo é responsável se você não tiver dinheiro suficiente para pagar por esses serviços. E como Nathan foi carregado usando a conta de Ingrid, sua namorada no mundo real, ela precisa aprovar todas as transações.

Depois, há as divisões de classes na própria Lakeview, desde aquelas com planos ilimitados como o ultra-rico David Choke até aquelas com quase nenhum plano de dados, conhecido como 2Gigas. É isso mesmo, mesmo na vida após a morte, existem limites para uso de seus dados se você não puder pagar o plano ilimitado. E para aqueles que estão presos no 2Gigas – pensar, falar, ler, escrever e comer consome dados. Então as pessoas 2Gigas, parecem zumbis que precisam fazer as coisas mais básicas em câmera lenta para durar 30 dias, caso consumo seja completo antes de completar o ciclo, eles simplesmente ficam congelados até o mês seguinte.

Mesmo mundo digital, diferenças e acessos diferentes.

Para ajudar a navegar por esse novo pós-mundo, Nathan faz amizade com Luke (Kevin Bigley), um ex-soldado que perdeu as duas pernas na guerra e decidiu virar uma pessoa digital, em vez de continuar vivendo no mundo real. Luke oferece conselhos sobre tudo e sabe burlas o “sistema”, além de fazer as melhores cenas da série. Há também Dylan, um garoto de nove anos de boca suja que morreu quando criança e está preso no mesmo corpo, apesar de agora ter a mente de um garoto de 18 anos.

Além dos amigos que ele faz ao longo dos episódios, Nathan, como todos os moradores de Lakeview (e existem milhões deles), recebe um “anjo”, o termo oficial para representantes de atendimento ao cliente como Nora. E, por ser uma série, você já pode imaginar que Nora é o anjo designado a Nathan. Entendeu o que estou falando, certo?

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À medida que os episódios passam, eles continuam nos mostrando mais vantagens (e falhas) que surgem com a vida após a morte digital – como o sexo funciona com um upload e seu parceiro ainda vivo – e no meio disso tudo, um vínculo começa a se formar entre Nathan e Nora, para o ponto que vai muito além do que é permitido entre anjos e Uploads.

Upload
Robbie Amell (Nathan) e Andy Allo (Nora)

Além de construir o mundo e mostrar ao espectador o que é e o que não é possível na vida após a morte digital, essas relações entre Nora e Nathan e Nathan e Ingrid são o que impulsiona a trama do programa. Mas até o final da temporada, o que começa como uma subtrama da série – as misteriosas circunstâncias que cercam a morte de Nathan – entra em primeiro plano.

Ao contrário da maioria das comédias de 30 minutos, o Upload não é uma comédia que lha fará boas gargalhas. É um programa dirigido por um enredo que constrói um mistério e cria suspense, enquanto distrai você com risadas.

Enquanto Nathan está se adaptando à vida em Lakeview, ele começa a questionar se ele deve ou não estar morto, e o papel que seu projeto de upload gratuito pode ter desempenhado nesse processo. O problema é que, como descobrimos no final do primeiro episódio, alguém excluiu propositalmente alguns de seus arquivos de memória quando foram carregados no sistema Horizen.

E isso nos leva à pergunta mais importante: vale a pena assistir Nathan e Nora por 10 episódios?

A resposta aqui é decididamente sim. Embora a série não tenha as lições filosóficas profundas de The Good Place ou a conexão emocional de “San Junipero”, ele nem tenta ser uma dessas coisas. Upload faz o suficiente para se manter por conta própria como um tipo diferente de programa de pós-vida, capaz de atravessar comédias idiotas e situações tensas com apostas reais.

Na primeira semana de estreia no Amazon Prime, a segunda temporada de Upload foi anunciada. Não é um dos melhores trabalhos de Greg Daniels, mas vale a pena pelo tema. Não estamos longe de viver tudo que acontece em Upload.

A primeira temporada completa está atualmente disponível no Amazon Prime.

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Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.