Outro dia eu estava conversando sobre uma campanha e o pessoal conversava sobre os personagens que fariam. Um dos caras queria fazer um monge e estava indeciso sobre a raça. Como eu via pouca gente interpretando Tiefling, eu sugeri logo esse. Conseguia imaginar aquela figura infernal distribuindo golpes de kung fu. Mas recebi uma brusca e indignada recusa. Perguntei o porquê. “Não faz sentido um monge Tiefling’, recebi como resposta. Confuso, perguntei por que não faria sentido. “Ele só ganha bônus de inteligência e carisma”, foi a resposta. E o monge acabou sendo um elfo da floresta.
Logo, minha mente voltou ao passado e me lembrou de uma conversa em que dois amigos riam porque um terceiro uma vez fez um halfling guerreiro. Na época, na minha cabeça não parecia errado. E daí se ele não era forte? Mas as qualidades e defeitos do mesmo sempre o fizeram melhor para ser ladrão, assim como o elfo era melhor para ser mago, ou um guerreiro que prefere usar o arco, ou o anão para ser guerreiro…e assim ficamos presos a certas combinações não por causa de alguma regra, mas sim por simples matemática.
A meu ver, isso mata a criatividade. E o RPG é, acima de tudo, sobre isso: criatividade. Por que alguns números deveriam impedir a míriade de possibilidades que as combinações de raças e classes nos oferecem? A seguir, vamos falar sobre algumas possibilidades.
Halflings
Antigamente, o que restringia esta classe às mais furtivas era seu bonus em destreza e penalidade em força. Na edição 3.5 ainda tivemos o agravante da introdução das armas pequenas, que causavam menos dados de dano.
Isso até estimulava buscar a opção de mago e clérigo, para os que se frustraram com os dados menores.
A quinta edição de D&D não coloca penalidades em seus personagens, mas ainda assim os vemos mais voltados para personagens ladinos e bardos, devido às suas qualidades. Um resquício do que estamos acostumados.
Na época do 3.5, chutei o balde e fiz um halfling bárbaro. Mesmo com penalidade e um dado a menos nas armas, preferi ousar. Não seria engraçado interpretar aquela coisinha pequena enquanto entrava em fúria e atacava? E foi divertido, rendeu muitas histórias épicas, principalmente pras tentativas de ser diplomata, falhar miseravelmente e partir pro combate, de frente, mesmo sendo pequenininho.
Afinal, o que seria mais legal de contar? A história de um meio-orc furioso que destruiu vários inimigos ou um pequenino halfling que fez o mesmo?
Tiefling
Ganham +1 de inteligência e +2 de carisma.
Nasceram para ser magos, feiticeiros e bardos, né?
Exceto que a descrição da raça os torna interessantes demais para limitá-los assim. Temidos e odiados por terem sangue infernal, sofrem muita desconfiança e preconceito por isso, mesmo não sendo mais predispostos a maldade quanto qualquer outra pessoa.
Mas o que impede ele de ser um guerreiro? Um Tiefling que seja um demônio no campo de batalha pode ser uma visão interessante de se ver, principalmente com um background interessante(um orfão que se impôs ao mundo pela força ou um soldado querendo se provar).
E que tal um paladino? Seria um contraste interessante ver uma figura infernal se tornar um campeão do bem.
Um clérigo também seria interessante. A personagem Jester Lavorre, interpretada por Laura Bailey do canal Critical Role, é um exemplo legal de um tipo que muita gente ignora: o clérigo que usa domínio da trapaça!
E no caso do monge que citamos? Reitero que um demônio com cauda e chifres lutando kung-fu seria uma coisa legal demais pra se ter numa mesa! E, claro, com um bom background: talvez um Tiefling que cansado do preconceito, resolveu procurar paz em um mosteiro isolado. Motivos para se aventurar? Peregrinação, o mosteiro foi atacado, necessidade de proteger os seus e/ou ensinar o que aprendeu… fica a seu critério.
Meio-Orc
Bonus de força e constituição.
Ow bárbaro bom!
São vantagens boas demais para serem ignoradas. Não é muito difícil também imaginar em outras classes marciais, como guerreiro ou mesmo paladino.
Mas que tal um ladino?
O que impede um meio-orc de seguir essa carreira, usando sua aparência para intimidar e os bonus em força para dar aquele gás a mais nos sneak attacks? Além disso, seria interessante ver todos presumindo que o personagem seria de uma classe inteiramente diferente do que todos estão acostumados a ver. Um personagem que não consegue se encaixar nem na sociedade humana, tampouco na orc e se voltou ao crime para conquistar o seu lugar no mundo: simples e instingante!
E que tal um bardo? Conseguem imaginar um meio-orc parrudão porém todo bem arrumado e refinado? Uma criatura de aparência forte, mas com o charme e voz que não deixa nada a dever ao mais belo elfo.
Eu pagaria pra ver um jogador fazendo um(mentira, mas sim queria ver)!
Pode ser também um tipo mais rude, porém exótico enquanto toca tambores de batalha.
Anão
Ou guerreiro ou clérigo.
Herança tradicional, difícil imaginar essa raça com uma classe diferente destas duas. Ainda mais agora que, além do tradicional bonus em constituição, dependendo da sub-raça o personagem pode ganhar ou um bonus de força(anão da montanha) ou sabedoria(colina).
Um anão mago seria interessante? Antes impensável devido a anos de restrições, hoje é perfeitamente possível. E a proposta casa bem, pois a vida de mago é de muito estudo e disciplina, uma classe perfeita para uma raça tão famosa pelo amor ao trabalho.
E por que não um monge? Casa bem com a disciplina da raça. E a descrição de combates com essa criatura atarracada com certeza gerariam sessões interessantes!
E um druida ou ranger? Afinal de contas, as profundezas onde vivem também são um ecossistema. De fato, um druida conectado a esse lugar seria algo bem legal de se ver.
Mas tô errado por jogar por causa de bônus?
Óbvio que não há nada de errado em fazer personagens aproveitando os bônus e vantagens. O que importa, no final das contas, é se todos os jogadores e o mestre se divirtam no final. E, mesmo pensando em matéria de números, ainda dá pra fazer combinações interessantes.
Em Pathfinder, por exemplo, os gnomos tem vários bonus contra criaturas grandes além de outros em combate contra gigantes. Não renderiam bons rangers?
O Guia Avançado do Jogador de Pathfinder dá muitas boas idéias para usar as diferentes raças com as classes disponíveis, diferencia-las com traços alternativos e opções de classes favorecidas. Mergulhe na leitura e expanda os seus horizontes!
E já que mencionamos a segunda edição, o beta dele recentemente trouxe uma adição interessante ao ladino: o enforcer. Quem quiser aproveitar os bônus do meio-orc aqui vai gostar de usar sneak attacks com armas simples(como um porrete) , usando o crítico da arma e ainda podendo deixa-lo com a condição frightened.
O site da Paizo disponibiliza o beta, aventuras e atualizações grátis para quem cadastra-se no site deles.
Site para o Playtest: https://paizo.com/pathfinderplaytest
Eu disse que o céu é o limite? Não é. Em RPG, ainda há os diferentes planos a se explorar.
Abra sua mente e se maravilhe com o resultado!
Sempre me esforcei pra fazer combinações fora do padrão. Meu próximo personagem será um anão bardo. Com toda a dureza e orgulho dos anões, ele tocará trombeta e inspirará seus companheiros nas batalhas.
Outra dica é pensar em personagens femininas. Já joguei com uma anã, e foi muito legal. Ela tinha uma personalidade muito forte, era sarcástica e lutava para se impôr em uma sociedade de anões machistas.