A primeira temporada de “Falando a Real” (“Shrinking”) chegou como um sopro de ar fresco no gênero da comédia dramática, estabelecendo com maestria seu tom, seus personagens e seu conflito central. A temporada de estreia é uma exploração concisa e impactante do luto, conduzida por um roteiro afiado e atuações que servem como o pilar de toda a estrutura.
Muitas pessoas me indicaram a série por todo ano passado, mas só agora parei para assistir e terminei a primeira temporada em apenas dois dias. Que inferno!
Criada por Bill Lawrence e Brett Goldstein (a dupla por trás de “Ted Lasso”) e pelo protagonista Jason Segel, a série do Apple TV+ mergulha no poço do luto para extrair um humor genuíno e uma humanidade cativante.
A premissa, introduzida e desenvolvida ao longo destes dez episódios, é centrada em Jimmy Laird (Jason Segel), um terapeuta cuja vida implodiu após a morte súbita de sua esposa. Afogado em sua própria dor e incapaz de se conectar com sua filha adolescente, Alice (Lukita Maxwell), ele rompe com toda a ética profissional. Jimmy passa a praticar uma espécie de “terrorismo terapêutico”, dizendo aos seus pacientes exatamente o que pensa, para o bem ou para o mal. Essa decisão caótica é o motor narrativo da temporada, gerando consequências hilárias, desastrosas e, surpreendentemente, transformadoras.
E a força da primeira temporada reside na forma como o elenco estabelece seus personagens e a dinâmica entre eles. Jason Segel (Jimmy Laird) nos entrega um retrato visceral de um homem em queda livre. Ele não está apenas triste; ele é ativamente disfuncional. Vemos sua dor se manifestar em uma paternidade negligente e em uma imprudência profissional que é, ao mesmo tempo, engraçada e profundamente preocupante. O arco de Segel na temporada é sobre dar os primeiros e vacilantes passos para fora desse abismo, aprendendo a lidar com as consequências de suas ações, especialmente com seu paciente Sean (Luke Tennie). Harrison Ford (Dr. Paul Rhoades) é, desde o primeiro episódio, a âncora rabugenta da série. Sua performance na temporada de estreia é uma aula de comédia minimalista. Ele é o mentor relutante de Jimmy, cujas respostas monossilábicas e olhar de desaprovação escondem uma preocupação genuína. A revelação de seu diagnóstico de Parkinson ao longo da temporada adiciona uma camada de vulnerabilidade ao personagem, tornando sua fachada de “velho durão” ainda mais comovente e seu eventual (e lento) envolvimento na vida de Jimmy, mais significativo.
Jessica Williams (Gaby) é estabelecida imediatamente como o coração pulsante do trio de terapeutas. Na primeira temporada, Jessica Williams a infunde com uma energia contagiante e um timing cômico impecável. Seu papel vai além da “melhor amiga engraçada”; a temporada também explora sua própria forma de lidar com a perda através de seu divórcio, posicionando-a como uma figura complexa que é tão falha e humana quanto seus colegas. Sua amizade com Jimmy é testada e aprofundada, tornando-a essencial para o equilíbrio emocional da narrativa.
O mais incrível da Jessica é que ela é tão bonita que todos os figurinos dela na primeira temporada destoam dos demais personagens. Enquanto todo o resto é meio cinza e cores fechadas, enquanto ela é brilhante e vibrante, literalmente! Além de falar um palavrão a cada dez segundos. Para mim, a melhor personagem da série.
Foi especificamente o trabalho realizado nesta primeira temporada que rendeu à série aclamação da crítica e importantes reconhecimentos. As indicações ao Primetime Emmy Awards, Golden Globe Awards e Critics’ Choice Awards para Jason Segel (Melhor Ator), Harrison Ford (Melhor Ator Coadjuvante) e Jessica Williams (Melhor Atriz Coadjuvante) foram todas em reconhecimento direto às suas performances nos episódios de estreia. Esse sucesso imediato solidificou a série como uma produção de prestígio desde o seu lançamento.
A primeira temporada de “Falando a Real” é um estudo de personagem quase perfeito. Ela consegue a proeza de ser consistentemente engraçada sem nunca banalizar a dor de seus protagonistas. A temporada funciona como uma história completa e satisfatória, com um arco claro de causa e efeito, ao mesmo tempo que planta sementes para desenvolvimentos futuros. É uma introdução magistral a um mundo de pessoas profundamente imperfeitas que, em meio ao caos e ao luto, encontram um caminho de volta umas para as outras. Uma estreia poderosa, engraçada e com uma quantidade surpreendente de coração.
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