Depois quase 20 anos, Rodolfo Abrantes, ex-vocalista dos Raimundos, em entrevista ao Programa The Noite, comandado pelo apresentador Danilo Gentili, voltou a falar do seu passado de maneira aberta.
Na época em que deixou a banda, a grande impressão que ficou, inclusive para os fãs, foi de que simplesmente Rodolfo havia deixado a banda e “virado” crente. Para o público que se diz punk de raiz, isso é uma verdadeira “blasfêmia”. Algo que o vocalista João Gordo (Ratos de Porão) também sofreu quando resolveu realizar gravações menos sujas e mudar um pouco seu comportamento, e passou a ser chamado de “traidor do movimento punk”.
Tudo foi ainda mais amplificado porque a própria imprensa especializada da época passou a atacar o Rodolfo, sem entender como alguém deixa uma das bandas mais comentadas do momento, ganhando muito dinheiro, “simplesmente para ser crente”.
O grande complicador é que naquele momento tudo ficou mal explicado, até pelo próprio Rodolfo, provavelmente por estar num intenso período de transição, sem saber transmitir tudo que estava passando.
Outro grande impacto foi para os demais integrantes da banda, pelo medo de não saber o que fazer depois da morte da “galinha dos ovos de ouro”, já que alma da banda era o vocalista, pelo seu carisma, pela sua maneira de cantar e pelas letras. Levaram uma verdadeira rasteira.
Na entrevista desta quarta-feira (24) Rodolfo pareceu muito sincero em seu depoimento. Ao ser questionado por Roger Moreira, guitarrista e vocalista da banda Ultraje a Rigor, se a escolha religiosa dele impedia de participar do Raimundos, Rodolfo disse que a dificuldade dele não era com a música, e sim com a forma que ele vivia naquela época.
Rodolfo revela que estava se entregando de corpo e alma ao chamado verdadeiro espírito “rock-star-punk fama”. Muitas drogas, sexo e total descuido com a saúde. Nesse momento surge a grande pergunta: será que para ser um grande rock precisa mesmo se autodestruir? Afinal de contas, lendas do rock como Mick Jagger e Keith Richards (Rolling Stones), James Hetfield (Metallica), Paul McCartney (Beatles) e tantos outros continuam muito bem e produzindo mesmo depois de tanto tempo de carreira.
A resposta talvez não passe por uma “obrigatoriedade”, mas como cada um reage ao ser “incorporado” pela alma do rock. Jim Morrison, Janes Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain não conseguiram fazer essa separação. São símbolos justamente não separar a vida pessoal da astro da música.
Mas antes que comecem a jogar pedras, vale ressaltar que não estou colocando Rodolfo nesta lista de gênios da música. Na entrevista, o músico conta que recebeu a Palavra de Deus e que foi curado de um possível câncer de estômago. Mas, independentemente do motivo, a grande questão é que Rodolfo decidiu mudar de vida, deixar pra trás algo que estava lhe fazendo muito mal. E certamente isso só poderia ser feito através de uma ruptura. Ninguém deixa uma carreira de sucesso, no auge, estando feliz e satisfeito.
Confesso que, por ser fã dos Raimundos, na época também fiquei sem entender nada direito e criei uma cerca raiva do Rodolfo. Tanta gente querendo fazer sucesso e o cara simplesmente joga tudo fora… pensava. O que ele quis deixar claro nessa entrevista foi que por mais que quisesse continuar, até pelo amigos, daquele momento em diante seria “ladeira abaixo”, principalmente pra ele.
Felizmente tá todo mundo vivo e produzindo. Rodolfo (Rodox) e Digão (que assumiu os vocais e continuou com os Raimundos) depois de 20 anos voltaram se falar. Se até eles estão de bem, nós vamos brigar?
Confira o vídeo na integra:
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