Mauricio de Sousa Produções, Panini e DC Entertainment anunciam parceria inovadora
A notícia do encontro da Liga da Justiça da DC Comics e os personagens criados por Maurício de Sousa já circulou no dia 10 de agosto de 2018, após o anúncio na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
O crossover inédito trará as capas e a primeira história das edições de dezembro deste ano das revistas Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento e Turma da Mônica, e duas aventuras completas nas edições de dezembro e janeiro da Turma da Mônica Jovem, publicadas pela editora Panini com os personagens da Mauricio de Sousa Produções ao lado dos super-heróis e supervilões da DC, como Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman, Coringa, Mulher-Gato e muitos outros personagens icônicos.
Os traços editoriais das revistas serão todos desenhados pela Mauricio de Sousa Produções e os roteiros das histórias serão realizados em parceria pelas empresas, para unir os personagens em eletrizantes aventuras.
“Estamos orgulhosos de reunir o divertido e surpreendente mundo da Mônica e sua turma com os heróis icônicos do universo DC. Depois de mais de 15 anos como editores da DC Comics no Brasil e uma década de parceria com o Mauricio de Sousa e a MSP, já estava na hora de dar vida a um time tão incrível como esse. Se você achava impossível misturar o universo do bairro do Limoeiro com as atmosferas de Metrópolis, de Gotham City e de Paradise Island, prepare-se para a grande surpresa que está por vir em nossas publicações”, comenta Marco M. Lupoi, Diretor de Publicações do Grupo Panini.
“Por quase 60 anos, meus quadrinhos têm entretido muitas gerações de leitores brasileiros. Agora, todos eles, assim como eu, vão aproveitar este momento muito especial: o crossover de Mônica e seus amigos com os super-heróis da DC Comics”, diz Mauricio de Sousa.
Sobre o lançamento, as revistas estarão à venda no site da Panini, www.loja.panini.com.br, em bancas de jornal e livrarias de todo o país.
Mas o que isso significa para o mercado de quadrinhos brasileiro?
01 – O lançamento será nas revistas mensais de Mônica e Cia.
É inegável que uma parceria como essa é importante para os dois lados. Em primeiro lugar, a DC Comics vai ter oficialmente os seus personagens em uma das linhas de gibis que mais vendem no mundo. Não que a editora precise tornar seus personagens mais famosos, já que sempre investe em desenhos, filmes e tem uma linha sólida de quadrinhos no mercado mundial.
Para a Maurício de Sousa Produções, esse encontro com os personagens DC é um reconhecimento sobre o grande papel que os gibis da Turma da Mônica tem no cenário mundial. Pois, Mônica e seus amigos vão se encontrar realmente com os heróis da editora americana, onde antes as participações de Superman e Batman vinham através de homenagens divertidas e na linha Clássicos do cinema Turma da Mônica.
Porém, a maior importância desse encontro nasce do fato de que as histórias serão publicadas nas revistas de linha mensal da Mônica. Pelo comunicado oficial, nada de capa dura ou formato de luxo, e, sim, o bom e velho gibizinho. Em dezembro de 2018, as histórias sairão em Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento e Turma da Mônica. E em janeiro de 2019, duas histórias completas sairão em Turma da Mônica Jovem.
Apesar do que o público mais velho pense, quadrinhos são leituras infanto juvenil, feitas para criar leitores, apresentando um mundo mágico para crianças e adolescentes. Dessa forma, não seria salutar lançar um crossover dessa importância em um material de luxo que afastasse os jovens leitores que não tem entre R$ 39,90 e R$ 53,00 (preço médio de um encadernado da DC de 144 páginas e capa dura) para comprar um título.
Hoje, um gibi da Turma da Mônica custa algo em torno de R$ 6,00, sendo que o título da Turma da Mônica Jovem custa R$ 9,50, com 132 páginas. Não há como comparar a questão que um encadernado capa dura é mais bonito e a qualidade do papel é melhor, porém, ao lançar nas revistas mensais de seus personagens, a Maurício de Sousa Produções aumenta o número dos leitores que terão acesso a esse título, já que criar novos leitores é essencial principalmente para um mercado como o de super-heróis, que diminui a cada dia, e vê seu público envelhecer e investir mais e mais em álbuns caros, abandonando as revistas mensais de banca.
02 – Um crossover que pode aquecer o mercado de quadrinhos brasileiro
Para quem é leitor do site, sabe que temos debatido muito acerca da crise que passa o mercado nacional de quadrinhos. Falamos sobre a interrupção de coleções que eram lançadas em bancas pela editora Salvat, Informamos e discutimos que a editora Mythos lançaria serviço de assinatura sem frete grátis para todo o país, sendo uma forma de cortar custos com intermediários, analisamos a crise do mercado brasileiro de quadrinhos.
Tudo isso leva o leitor a acreditar que: 1 – As editoras estão com problemas, provavelmente, de pagamento para com as distribuidoras, o que dificulta um título, mensal ou especial, de chegar às bancas; 2 – O mercado de bancas está com sérios problemas, já que mais e mais bancas fecham a cada dia; 3 – Essa crise afeta até mesmo as mega stores, pois, uma das grandes editoras do Brasil, a Mythos, deixou de fornecer seus títulos para livrarias como Cultura e Saraiva.
Em um cenário desse, percebe-se que a leitura de quadrinhos está se tornando algo de luxo, pois, sem bancas e preços mais atrativos, os leitores que ainda continuam com o hábito são aqueles apaixonados que tem poder aquisitivo para pagar por um título caro e, não, um jovem que tem outros meios de passar seu tempo, como vídeos games e mídias sociais.
Essa é uma situação que a própria DC parece ter percebido. Nos EUA, por causa das vendas serem feitas quase que exclusivamente em Comics Shops, o número de leitores vem caindo a cada ano. Por isso, em uma decisão salutar para o mercado, a editora está colocando títulos que trazem um compilado de boas histórias de personagens, além de algumas tramas inéditas, na rede de supermercado Wallmart por U$$ 5,00. É uma forma de alcançar um maior público em um mercado que abandonou as bancas desde os anos 1990.
Então, em um cenário preocupante pelo qual vive o mercado nacional, o lançamento de um crossover como esse, entre DC Comics e Maurício de Sousa, juntando propriedades intelectuais tão famosas, em um formato acessível a todos e chegando em bancas e livrarias, pode ser um caminho para que mais títulos sejam lançados a preços baixos e que tenham a intenção de formar leitores. Ou o mercado brasileiro pensa que vai sobreviver vendendo uma revista Zagor em bancas com papel jornal e formatinho por R$ 33,00 ou um Dylan Dog, preto e branco com 100 páginas, custando R$ 26,90 e que nem para bancas é enviado ?
03 – Leitura de fácil acesso e que traga humor para prender agradar o público jovem.
Sejamos sinceros, quais títulos mensais existem hoje que podem prender a atenção de um leitor através de uma fácil identificação? A resposta é desanimadora.
Como um leitor da DC e da Marvel desde 1998, pouco identifico em um título uma pegada mais jovem e que traga uma leitura que o público infantil se identifique dentro da linha de super-heróis.
Homem-Aranha? Infelizmente, não. A trama de julho de 2018, traz um embate entre o herói e o duende verde envolvendo invasão de países e guerra, algo bem longe do personagem em outras mídias.
X-men? Também, não. Com o tanto de mutantes viajantes do tempo e tramas sem sal, os heróis da Marvel estão bem longe do seu tempo áureo.
Na DC, a coisa está um pouco melhor desde o Renascimento. Mas boas histórias não querem dizer identificação com um público mais jovem. Talvez, só o título Jovens Titãs, que tem a participação do filho do Superman e o Robin, tenham essa pegada de leitura infanto juvenil que os títulos de heróis parecem que perderam para outros meios, como os mangás, por exemplo.
Então, nesse cenário de crise das bancas e livrarias, com títulos mensais de difícil identificação com os jovens, a parceria da Liga da Justiça com a Turma da Mônica pode ser algo promissor. O humor e a humanidade presente nas histórias de Cebolinha (um dia, ele ainda vai ser o dono da rua), Magali, Cascão e Chico Bento é o que os personagens da DC estão precisando, principalmente, depois dos filmes depressivos como Batman vs Superman que a Warner/DC lançaram.
O formato de histórias curtas e fechadas dos títulos da Turma da Mônica é perfeito para trazer humor, promover encontros (Superman contra a coelhada da Mônica, Cebolinha e Coringa contra a Mônica, e por aí vai) e fazer com que o público jovem ache um quadrinho que ele possa realmente se divertir.
Resumindo, após muitos anos, eu terei gosto em voltar a comprar os títulos da Turma da Mônica, e, agora, com um incentivo a mais, os heróis da DC.
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