Hoje conversaremos um pouco com Heleno Vale, baterista e fundador da Soulspell Metal Opera. O projeto teve início em 2005 e em sua essência trata de “conflitos entre as emoções humanas”. Em meados de junho de 2017 foi lançado seu quarto álbum intitulado “The Second Big Bang”.
Primeiramente obrigado por dedicar um tempo para responder nossas perguntas!
Heleno: Eu que agradeço a oportunidade!
“Metal Opera” é um nome forte. Não é um objetivo nada simples de alcançar. Como surgiu a ideia de criar uma Metal Opera?
Heleno: Eu comecei no Heavy Metal em torno do ano de 1997 e alguns anos depois tive acesso às minhas primeiras Metal Operas. Sempre me fascinou. Eu vislumbrei no mercado do Heavy Metal uma lacuna a ser preenchida e esse foi meu propósito: criar uma banda que levasse uma Metal Opera Teatral para os palcos e não apenas em estúdio.
Como funciona a composição das músicas? Letras e música compostas por você ou há contribuição dos outros músicos?
Heleno: Começa comigo e há contribuição de todos.
Houve influência de projetos que seguem a mesma linha do Soulspell?
Heleno: Sim. Sem dúvida. Há alguma influência de Savatage, Queen, Ayreon, Avantasia e outras bandas que seguiram, ao menos em alguns álbuns, essa proposta de Metal/Rock Opera.
“The Second Big Bang” é o quarto álbum do Soulspell. Foram 5 anos trabalhando nesse álbum, tempo que reflete as dificuldades enfrentadas para realizar um projeto desse porte. Conte-nos um pouco sobre as maiores dificuldades enfrentadas.
Heleno: A maior dificuldade é financeira, mas há muitos outros obstáculos a serem vencidos, como contatos com grandes artistas, divulgação, gerenciamento de muitas pessoas ao mesmo tempo, criar músicas que funcionem individualmente e também no contexto da história, escolher adequadamente as participações etc.
Sobre os participantes, uma pergunta que já ouvi de várias pessoas é “Como são escolhidos os participantes?”. Acredito que a dúvida maior é porque há vários nomes de bandas de peso como Megadeth, Judas Priest, Iron Maiden, Stratovarius, Helloween, Ayreon, Angra e por aí vai. Como funciona a escolha?
Heleno: São vários fatores. O principal deles é o timbre adequado com o personagem. A história existe por si só. Eu não escolho o personagem, eu escolho apenas que timbre cada personagem pode ter. Geralmente defino pelo menos 5 opções de vocalistas para cada personagem, exceto alguns timbres muito particulares. Em seguida, buscamos opções viáveis financeiramente naquele momento e que possuam data na agenda. Claro que é sempre bom contar com Timo Kotipelto, Ralf Scheepers, Fabio Lione, Andre Matos, Oliver Hartmann, dentre tantos outros renomados artistas que participaram nesse último álbum, então sempre tentamos mesclar novos talentos brasileiros com esses nomes já consolidados.
Inicialmente houve uma espécie de concurso para ser vocalista do Soulspell e lembro de até ter falado com amigos para participarem. Existe a possibilidade disso acontecer novamente?
Heleno: Eu penso sim em organizar mais um concurso desse tipo para esse próximo álbum. Não posso garantir, mas isso passa pela minha cabeça. Fizemos 2 concursos para vocalistas, um em 2009 e outro em 2011, salvo engano. Foi maravilhoso em muitos aspectos! De certa forma, o Soulspell lançou muitos nomes no mercado com esses concursos, como Pedro Campos, Victor Emeka, Raphael Dantas, Gui Antonioli etc. No entanto, como você deve imaginar, organizar um concurso desses é um trabalho gigantesco pra muita gente e, pra variar, o povo não dá valor algum pra isso. Muito pelo contrário. O Soulspell só teve despesas e ganhou mais “inimigos” do que admiradores com esses concursos, acredite se puder. A mídia brasileira não deu a mínima atenção também. Nada de patrocinadores também. O povo brasileiro não está preparado, infelizmente, para participar, competir e respeitar seu amigo que se dedicou tanto quanto, ou mais que você, chegou lá e venceu. É mais fácil falar mal de tudo e de todos do que olhar para a própria consciência e estudar mais.
Como é trabalhar com tantos vocalistas de diferentes línguas e estilos musicais?
Heleno: É complicado no início, mas o resultado final é muito gratificante. Os contatos não são fáceis, nunca foram, desde o primeiro álbum. Além de toda a composição, história, letras e shows, essa é uma parte que, penso eu, pode ser considerada uma arte, também. Tem que saber jogar o jogo muito bem, com muito tato e timing e acho que toda a equipe do Soulspell e eu estamos fazendo um trabalho decente. Já se foram mais de 10 anos de muito suor, planejamento e conquistas. Isso é só o começo.
Os álbuns do Soulspell seguem um tema, contam uma história, correto? Você poderia falar um pouco do que o Ato IV traz?
Heleno: Todos os álbuns contam a mesma história de uma forma cronológica. O quarto ato da saga conta um devaneio de Timo sobre o fim dos tempos. É uma loucura, pois tem várias analogias que ocorrem em algumas faixas, como a Dungeons And Dragons que traça uma analogia do RPG com a política atual que vai acabar com o planeta, ou a Game Of Hours que conta da correria em que vivemos de forma análoga com um jogo no inferno etc. Pretendo lançar um livro completo do Soulspell e vender a história pra Hollywood. Vamos ver 🙂 Ah! Esse álbum é contado de trás para frente, numa analogia ao retrocesso da expansão do universo que também pode acabar com nossa existência.
Há vários projetos e vídeos de covers e tributos que levam o nome do Soulspell e que deram bastante visualizações e comentários positivos. Muitas bandas deixam de fazer covers ou tributos quando se tornam autorais. Como você avalia essa questão?
Heleno: Há muitos fatores envolvidos. Um deles são os direitos autorais. Nenhuma banda abre mão disso. Já tive vídeos removidos por gravadoras, mesmo sendo um vídeo bem legal divulgando o material da banda original. Mesmo assim, mesmo deixando todos os direitos para o artista original, penso que divulgar covers no Youtube vale muito a pena, desde que sejam versões próprias e que valham sua existência. Gosto bastante dos covers que o Sonata Arctica faz. Eles colocam bastante a cara deles nas faixas. Acho que todas as grandes bandas começaram fazendo cover de suas influências e penso que seja esse o caminho a ser seguido nos primeiros 10 a 15 anos de banda: mesclar covers com próprias. Inclusive, vamos lançar em breve um álbum completo de covers em versões especialíssimas.
Quanto à distribuição do material da banda e do consumo em si das músicas. Muitos serviços de streaming estão em alta hoje em dia. O que você acha dessa nova forma de comercialização?
Heleno: É bastante estranho ainda pra todos, pois vivemos uma época de transição. Como disse antes, temos que saber jogar o jogo com as cartas que temos. Eu acho que há pontos positivos e negativos. Torna-se mais fácil a divulgação de seu produto para mais pessoas, no entanto, esse produto está cada vez mais “descartável”, pois há muita coisa à disposição e as bandas dependem cada vez mais de shows para sobreviver e não do material físico. Esse é um fator que dá um certo privilégio para bandas já consolidadas que arrastam milhares de fãs para seus shows, em minha opinião. Veja, o público que paga 700 reais para ver o Iron Maiden pela décima vez no estádio a 300 km de sua cidade, não paga 10 reais para ver uma banda de médio ou pequeno porte em sua própria cidade. Não há mais esse interesse. Todos ficamos buscando culpados por isso, mas ninguém é culpado. Esse é simplesmente o jogo. Os serviços de Streaming e Redes Sociais criam a ilusão de aproximar bandas de médio porte de bandas de grande porte, mas estamos cada vez mais distantes, em minha opinião.
A influência da cultura pop, cinema, RPG e música clássica no projeto é bastante visível. Onde começa e termina a referência e passa a ser algo original?
Heleno: Nada de banda alguma é “original”. Tudo será sempre uma mescla de tudo o que você passou em sua trajetória. Não há como fugir disso. Isso é a vida humana e não somente na música, mas em qualquer área de criação. Por isso que quando estou tentando criar algo, tento não escutar música alguma de qualquer estilo. Penso apenas em interpretar musicalmente a história que escrevi, a qual tentei criar de forma mais “original” possível.
Para finalizar, gostaria de deixar alguma mensagem para os fãs e para as pessoas que estão conhecendo o Soulspell nesse momento?
Heleno: Foi um prazer poder conceder essa entrevista e desejo que os fãs continuem buscando novas bandas e projetos. Novos filmes, novos jogos, novas histórias. Há muita coisa boa por aí. Não confiem 100% na mídia, sites, televisão, redes sociais etc. Quem está “vencendo” sempre tentará manter as coisas como elas estão, seja na música, na cultura em geral, na política, ou em qualquer outra área. Mas o que mantém o mundo em evolução são as mudanças, as quebras de paradigma. Busque o novo, abra a mente! Até o próximo álbum! 😉
Você pode encontrar mais informações sobre o Soulspell em:
Leave a Reply