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Quadrinhos argentinos conquistam cada vez mais leitores brasileiros

Crazy Jack é de dois grandes artistas argentinos, Rubén Meriggi e Manuel Morini

Quando surge em uma roda de debates o tema histórias em quadrinhos argentinas, provavelmente, para a maioria dos leitores, a primeira palavra que vem à cabeça é o nome da “Mafalda”, a garotinha esperta criada pelo Quino (1932 – 2020), um verdadeiro pensador gráfico.

No entanto, durante muito tempo, até mesmo para os brasileiros conhecedores de histórias em quadrinhos, a força dos nossos “hermanos” era, praticamente, desconhecida nesta área.

O jornalista e escritor Paulo Ramos, um dos maiores pesquisadores sobre o tema, autor do livro “Bienvenido – um passeio pelos quadrinhos argentinos”, avalia que uma das principais causas disso seja “uma construção cultural formada em nosso país que tende sempre a valorizar mais o que é de fora em detrimento ao que é feito internamente ou na mesma região”.

Segundo ele, isso fez com que os brasileiros valorizassem muito mais os gibis vindos dos Estados Unidos e Europa. Sendo essa a exata razão ou não, o fato é que durante décadas os brasileiros deixaram de apreciar o texto e arte de grandes nomes como Oesterheld, Alberto Breccia, Horácio Altuna e tantos outros.

Uma das editoras que tem proporcionado uma importante valorização desse segmento no Brasil é a gaúcha Tai Editora, responsável por lançar no Brasil obras como o Cazador, personagem argentino de enorme sucesso no país na década de 1990.

De acordo com Taína Lauck, da Tai Editora, “identificação” é a palavra-chave. “Nos identificamos bastante com esse material produzido na Argentina, no entanto, alguns detalhes norteiam as nossas escolhas. Entre eles, o fato de estar sendo publicado aqui no país vários autores de uma das grandes editoras argentinas e nenhum da outra tão grande quanto, a Columba. Esse foi um fator predominante para nós que sempre buscamos ir além do lugar comum, da tendência de mercado. Destaco, principalmente, Crazy Jack, que é de dois grandes artistas argentinos, Rubén Meriggi e Manuel Morini, e claro, Cazador, de Jorge Lucas e Claudio Ramírez”, conta.

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Cazador, segundo lembra, veio por conta do seu sucesso nos anos de 1990 e pelo fato de ser uma publicação da mesma editora da revista Fierro na época.

Cazador fez um enorme sucesso na Argentina na década de 1990 e passou a ser publicado no Brasil pela Tai Editora

“Todas as demais publicações, que vieram a seguir pela Tai Editora, são ramificações de contatos com uma gama de artistas que ainda estão em atividade e produzindo seus trabalhos, a maior parte deles, premiados nos dias de hoje”, destaca.

E foi exatamente o que aconteceu com umas obras que será lançada, em breve, pela Tai Editora, a história em quadrinhos Zumbis Vikings, de Jok e Rodolfo Santullo, que foi eleita como o Melhor Quadrinho Nacional de 2021 no prêmio de cultura pop Fênix, na Argentina.

Taína lembra também que, já para o mês de abril, entrará em pré-venda a HQ, também argentina, “Lanegra”, de Toni Torres (Caballeros) e Gustavo Desimone (Bunker), uma espécie de “versão feminina do Cazador”, como diz o próprio Toni. Lanegra foi publicada em três edições em 1995. Tem uma pegada despótica na linha de Tankgirl, com um humor ‘nonsense’ e muita ação. A edição da Tai Editora reúne os três volumes, além de mais uma HQ inédita e em cores.

Jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí com mais de 20 anos de atuação na área, sempre com destaque para área cultural, principalmente no campo das histórias em quadrinhos, cinema e séries.