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“Recebo menos de R$ 300 por ano de direitos autorais”, diz biógrafo Gonçalo Jr

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Gongalo Júnior é jornalista e escritor e um dos proprietários da editor Noir

Em entrevista ao Canal P.Q.P – Papo, Quadrinhos e Participações (Youtube), o jornalista e escritor baiano Gonçalo Júnior revelou que o retorno financeiro de quem trabalha com a produção de livros no Brasil pode ser ainda pior do que se imagina. Pelo menos para quem não atua dentro do circuito da grande mídia.

“Vou falar sério: não faturo trezentos reais por ano. Vinte reais por mês, no máximo. Quem ainda me paga direito autoral é a editora Companhia das Letras”, revelou Gonçalo.

Sem revelar o nome, o jornalista relatou uma situação vivida com uma editora que publicou um trabalho seu sobre um cartunista e colocou no contrato que o autor só começaria a receber algum valor depois que a edição vendessem 3 mil cópias. O problema é que só foram impressos 1.500 exemplares. “Quando cobro o que tenho a receber eles só argumentam que ‘está no contrato’ e pronto, ou simplesmente não respondem nada”, lamenta.

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Gonçalo Júnior deu o depoimento em entrevista ao Canal Papo, Quadrinhos e Participações

Outra situação complicada relatada por Gonçalo Jr durante a entrevista envolveu a editora Devir, ainda em 2004, com a publicação do livro do artista Júlio Shimamoto chamado “Claustrofobia”. “Isso já tem 16 anos. Nunca mandaram o contrato pra assinar. Deram um adiantamento de R$ 1.500 para o Shimamoto. Quando ele foi cobrar o restante, eles disseram que só venderam cento e poucos livros e mandaram foi uma conta para o Shimamoto pagar porque, segundo eles, não tinham vendido suficiente para arrecadar os R$ 1.500 que havia dado a ele”, diz. O jornalista conta que o livro foi visto sendo vendido em outros países como Espanha e Portugal, em vários pontos de São Paulo, entre outros locais.

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A obra teria sido vendida até na Europa

A reportagem entrou em contato com representantes da editora Devir, mas até o momento nenhum posicionamento foi enviado a Redação do QUINTACAPA.

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Essa relação conflituosa com as editoras não é causada apenas por questões financeiras. “Publiquei um projeto antigo que eu tinha que conta a história do Bandido da Luz Vermelha. Assinamos contrato com uma editora multinacional e depois queriam cortar 60% do livro. Mandaram 40% do livro para eu aprovar. Nem li”, ressaltou.

Na avaliação de Gonçalo, o principal cerne da questão é que biografia e livros teóricos realmente não vendem muito. “Na verdade eu escolhi personagens que não vendem, que geralmente são à margem do sistema, meio marginais. Por exemplo, o Benício (o ilustrador José Luiz Benício da Fonseca) que fez quadrinhos, cartazes de cinema e livros de bolso, mas é um cara que poucas pessoas não conhecem”, afirmou. Pra ele, o grande motivador é o prazer, é desejar que as pessoas conheçam a história de alguém.

A solução encontrada para esse problema foi montar sua própria editora, a Noir, junto com o amigo designer gráfico André Hernandez. Só assim conquistou total independência, no sentido de não se submeter a censura de conteúdo, de não precisar ficar anos esperando para publicarem o livro simplesmente por não vender bem.  Além de suas obras, a editora de Gonçalo publica autores como Carlos Castelo, Daniel Brandão, Renato Guedes, Marcus Ramone e outros.

Jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí com mais de 20 anos de atuação na área, sempre com destaque para área cultural, principalmente no campo das histórias em quadrinhos, cinema e séries.