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Resenha | Marcha para morte ! (Shigeru Mizuku)

 Marcha para morte! é um dos grandes quadrinhos/mangás lançados no final de 2018, misturando a realidade da Segunda Guerra Mundial, que o Autor viveu e lutou pelo Japão, e um traço que varia entre a caricatura de seus personagens e o realismo da ilha do pacífico onde o pelotão japonês estava.

 

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Sim, essa obra é autobiográfica. Shigeru Mizuka, mangaka conhecido no Japão por seus trabalhos envolvendo mais tramas sobrenaturais habitadas por yokais (espíritos/demônios, em japonês) realmente lutou na Segunda Guerra Mundial, tendo sido enviado para o Pacífico. E isso parece ter afetado-o muito, como bem se pode perceber pelo relato de Noriyoki Adachi ao final desse volume lançado pela Devir no Brasil.

Não seria para menos, afinal, Mizuka perdeu um braço em um bombardeio.

Então, estaríamos diante de um relato de guerra por alguém que estava lá, retratando fielmente os acontecimentos? A resposta é sim. Mas a fidedignidade de uma guerra não são os confrontos e a morte pela mão do inimigo. Relatar guerras é saber o lado humano que as guiam, em especial, os homens dos pelotões que estão ali, lutando pela sua pátria, mesmo que seja em um lugar distante, enquanto seu país é bombardeado por potências estrangeiras, como muitos personagens se indagam incrédulos.

E esse é o foco inicial de Marcha para morte!: o dia a dia do pelotão que é enviado para a ilha de Bien, no oceano pacífico. É um retrato cru, porém, com muito humor negro, afinal, o traço do autor é muito estilizado, cartunesco, na verdade. Já encontramos o pelotão debatendo sobre serem enviados para uma ilha que é o paraíso, enquanto fazem fila em uma cabana onde há prostitutas para servi-los. Detalhe que há tantos homens que eles chegam ao cálculo de que cada um só terá 30 segundos com uma mulher. Como disse, é engraçado, de uma forma bizarra, mas não deixa de espelhar a realidade devido às condições ali presentes.

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E todo o lado humano é explorado nessa primeira parte do mangá: o dia a dia dos homens na nova ilha, os abusos de autoridade dos oficiais superiores, mostrando que um soldado vale menos que um animal (esses abusos são tão frequentes que se tornam uma ferramenta narrativa para fazer o leitor rir, mesmo que seja de nervoso) e a facilidade de ser morto, não pelo inimigo, mas por fatores da região, como cólera, febre amarela e, até mesmo, engasgado por um peixe.

A única queixa que se pode fazer nesse começo do mangá é o excesso de personagens, fazendo o leitor se confundir sobre quem é quem, mesmo a edição brasileira tendo publicado no começo uma lista dos personagens. Mas isso é compreensível, já que a história gira sobre os acontecimentos do pelotão na ilha de Bien. Mas, verdade seja dita, o leitor vai ser sentir confuso com tantos personagens.

 

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Mas, se o começo é sobre o dia a dia daquele pelotão, tudo muda na segunda parte quando os inimigos americanos chegam para travar o confronto.  É nessa parte que percebemos que a história será mais centrada no soldado de 2ª classe Maruyama, uma espécie de avatar do autor. Também, fica claro que o centro das atenções é o pelotão japonês, já que, mesmo ocorrendo tiroteios e explosões, os soldados inimigos não são mostrados, como se a obra tentasse passar que o inimigo não é humano, sendo um ser oculto, pois só é mostrado os aviões, tanques e navios americanos.

E isso é um grande acerto do mangá. Até mesmo os desenhos mudam quando se precisa retratar as máquinas de guerra inimigas e a paisagem de Bien. Sai de cena o traço cartunesco e entram os desenhos detalhistas e fotográficos para retratar tudo.

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A guerra em Bien prossegue até chegarmos ao terceiro ato e último ato, quando percebermos que o título do mangá na verdade é pra ser interpretado como algo literal, pois, os soldados japoneses estão em uma marcha para morte tanto figurativa como de forma concreta, tudo em busca da honra que os japoneses tanto prezam. Nesse momento, o leitor já foi fisgado pelo mangá, ficando apreensivo pelos próximos acontecimentos.

 

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A edição da Devir, lançada no selo Tsuru, está muito bonita, mantendo o padrão de qualidade das outras obras do selo, como O Homem que passeia, Uzumaki, Tekkon Kinkreet e Nonnonba, do próprio Mizuki. A edição conta com alguns erros de digitação, coisa que tem se repetido muito no selo, mas não chega a incomodar, mesmo sendo um mangá de luxo caro, onde o cuidado deveria ser maior.

Porém, há muito informação sobre a obra, sobre o autor e os personagens, fazendo esse ser um volume perfeito para acompanharmos os relatos da Segunda Guerra Mundial pelos olhos de Shigeru Mizuki.

 

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Contando com uma história do dia a dia das tropas japonesas no Pacífico, Marcha para morte! é um grande mangá, que mistura autobiografia em desenhos cartunescos e realistas, só incomodando no começo pelo excesso de personagens. É um daqueles títulos que são lançados no final de ano, mas que chamam a atenção de todos pelo bonito formato, repleto de informações sobre o mangá, e pela qualidade da história, mesmo a edição tendo alguns poucos erros de digitação no texto.

 

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Ficha Técnica

  • Capa cartão, com jaqueta,  com 368 páginas
  • Editora Devir
  • Lançamento em novembro de 2018
  • Preço de capa: R$ 74,00
  • Tamanho: 24 x 16,6 x 2,2 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.