O Último voo das Borboletas, lançado pela editora Pipoca & Nanquim em 2019, é mais um mangá pelo selo Drago que se junta a O Preço da Desonra e Virgem Depois dos 30. Porém, foge à tradição das histórias em quadrinhos japonesas quando tratam do passado do Japão, já que não se foca em lutas, samurais ou a figura das gueixas, mas, sim, está centrado na vida das prostituas do século XIX no país.
Existe uma diferença entre gueixas e mulheres que vendem o corpo para atos sexuais no Japão, conforme o glossário ao final da edição de O Último voo das Borboletas deixa claro. A diferença entre a gueixa, japonesa treinada desde jovem nas artes da dança, do canto e da conversação para entreter os fregueses de casas de chá, banquetes, e a tayu, prostitutas de alta classe, é um dos centros narrativos do mangá que foi lançado em 2015 originalmente e que chegou em 2019 no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim.
A vida de Kichou, a protagonista, tida como a mais bonita do bordel do luxurioso bairro de Maruyama, em Nagasaki, é um dos centros narrativos deste conto, que tem o seu norte a abordagem voltada mais para o sentimental e, não, para o pornográfico, como se esperaria de uma história sobre prostituição. No começo, Kichou é vista de forma fria, enquanto a vida do bordel nos é apresentada, mas, aos poucos, vamos descobrindo a história dela, quando nos é mostrado o contato com um médico holandês, baseado em uma figura real, no Japão do século XIX, já que a Europa começa a ter contato forte com o país.
Através dessa relação, que envolve afeição em vez de sexo, outros personagens principais são mostrados, em especial, um que tem uma doença grave, sendo um possível tumor cerebral, e seu filho. Os dois estão em condições paupérrimas, situação essa que o filho atribui a culpa à prostituta, já que o homem foi uma pessoa rica, mas gastou muito para tirá-la do bordel, prática da época. Só que Kichou sempre os ajuda às escondidas, já que não os abandonou em vão.
A trama tem várias camadas, sendo a primeira a vida das prostitutas no Japão do século XIX. A segunda, e principal, é a relação de pai e filho com a personagem principal, já que a família caiu na pobreza pelo fato do pai ter dispendo alto quantia para tirar a prostituta dessa vida, havendo um embate entre filho e a antiga mulher de seu pai até o fim, quando nos é mostrado o passado dos dois.
E a terceira camada do mangá, que é deveras interessante, é a mudança que o Japão do século XIX enfrentava, deixando de ser um país feudal, já que estava saindo da era Edo para entrar na era Meiji, passando a ser um país com maior contato com estrangeiros. Isso se mostra através de comentários de clientes do bordel onde se passa a história e pelos próprios personagens, como o médico holandês e a região onde os estrangeiros habitavam.
Esse contato do mundo exterior também significa uma morte do Japão tradicional, o qual é mais subtendido do que mostrado em O Último voo das Borboletas. Uma demonstração dessa mudança de hábitos se dá pela própria jaqueta que cobre o mangá. Enquanto na jaqueta está a foto do Japão tradicional, com a personagem principal, ao retirá-la, vemos dois turistas estrangeiros no mesmo lugar, demonstrando a passagem de tempo.
Porém, apesar do roteiro bem construído e das camadas da história, O Último voo das Borboletas falha na caracterização de seus personagens quando se trata dos desenhos. A artista Kan Katahama peca, infelizmente, no rostos das personagens, em especial, as femininas. Eles são muito parecidos, não havendo diferenciação de uma para outra, podendo até o leitor se perder em alguns momentos sobre quem são.
Se a caracterização dos personagens fosse melhor, o mangá poderia ser mais marcante. Para nossa sorte, a autora é boa na criação das roupas e na criação dos visuais, que tem um visual próprio, porém, com rostos semelhantes, principalmente, nos primeiros momentos do mangá. No final, o leitor já se familiarizou acompanhando com todas, mesmo não sendo graças aos desenhos.
A edição mantém o alto padrão dos mangás lançados pela editora Pipoca & Nanquim, como foi em O Preço da Desonra e Virgem Depois dos 30. O Último voo das Borboletas contém 8 capítulos e os extras com o posfácio da autora e um glossário muito muito bem trabalhado, contextualizando alguns momentos da trama e explicando costumes da época, enriquecendo a história e a edição.
Os mangás da editora, o qual O Último voo das Borboletas se junta, se destacam no mercado nacional, junto com os do selo Tsuro da Devir.
O Último voo das Borboletas não falha em seu bom roteiro, com várias camadas a serem apreciadas pelo leitor, e com uma história emocionante. Mas, infelizmente, os desenhos deixam a desejar, principalmente na caracterização do rosto das personagens no início da trama.
Ficha Técnica
- Capa cartão, com jaqueta e 172 páginas
- Editora Pipoca & Nanquim
- Lançamento em setembro de 2019
- Preço de capa: R$ 44,90
- Tamanho: 15,5 x 22 cm
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