Em Surpreendente X-men – A vida de X, o roteirista Charles Soule abusa dos clichês envolvendo os mutantes, só sendo salvo quando a história cai na paródia. Mas o batalhão de competentes desenhistas responsáveis por cada capítulo da história faz valer a pena essa edição.
Infelizmente, os X-men enfrentam seu pior inimigo e estão perdendo. E, não, não é Magneto, Apocalipse ou até mesmo o Rei das Sombras, principal vilão da trama da nova formação de Surpreendentes X-men. O principal adversário hoje dos mutantes é a nostalgia, que está levando à repetição de histórias, formatos e situações.
É esse o grande mal dessa história orquestrada por Charles Soule e pelas tramas dos X-men desde a saída de Joss Whedon do título original de Surpreendentes X-men. Sejamos sinceros, apesar de todos os elogios que a fase de Whedon merece, ela vinha em compensação à fase Grant Morrison, que verdadeiramente chacoalhou os filhos do átomo. Enquanto Morrison colocou os mutantes como figuras pops e abriu a escola Xavier para o mundo, Whedon, ao lado do desenhista John Cassaday, trouxe uma trama de heróis, mutantes que lutam contra o preconceito e vilões. Basicamente, o que Cris Claremont e John Byrne fizeram na década de 1970 e 1980 com os personagens. Ou seja, Surpreendentes X-men de Whedon era uma história clássica (e ótima!) de super-heróis.
E é essa a melhor definição para a interpretação que Charles Soule dá aos novos Surpreendentes X-men, que de surpreendentes não tem nada: uma história clássica (no sentido de repetição de eventos) dos mutantes.
Na trama, o vilão Rei da Sombras está tentando escapar do plano astral, tendo que dominar uma mente de um poderoso telepata para isso. Ao tentar possuir a x-man Psylocke, a guerreira ninja reúne os heróis mutantes mais próximos para irem combater o vilão no plano telepático, enquanto tenta conter os danos que ele causa no plano físico. Tudo isso enquanto o vilão mantém preso no plano astral um mutante dado como morto (não tem problema, esse mutante já morreu uma centena de vezes antes).
E os clichês vão se acumulando, como Wolverine encarando seu passado, seus medos e sua ira, os X-men tendo que encarar uma retrospectiva do seu passado, humanos que não confiam em mutantes e querem matá-los, etc, etc.
As repetições são tantas que chega uma hora que Soule parece perceber o absurdo daquilo tudo e ri da trama em si. Em um momento em que Vampira e Gambit discutem a sua relação (ELES ESTÃO FAZENDO ISSO HÁ QUASE 30 ANOS!!!), Fantomex e Mística aparecem andando de jetski, dançando em festas, brindando. É definitivamente fazer piada com essa repetição eterna entre o casal mutante que não pode se tocar.
Com esse emaranhado de clichês que os fãs dos X-men estão cansados de acompanhar (ou não), a trama só se salva pela qualidade de seus desenhistas. Cada parte é desenhada por um desenhista diferente e que faz o leitor babar em quadrinhos tão bonitos (será que esse não é outro clichê mutante? Desenhistas que chamam mais atenção do o roteiro).
Temos Jim Cheung, Mike Deodato Jr., Ed Mcuinnes, Carlos Pacheco, Ramon Rosanas e Mike Del Mundo. Esse volume 01 da Panini de Surpreendentes X-men é para aplaudir pelo rodízio tão grande de desenhistas de tão alta qualidade.
O volume da Panini não foge do padrão de lançamentos capa cartão da editora: capas originais e variantes e só. Não há um editorial contando a história do título ou alguma informação sobre o roteirista e desenhistas. É um capa cartão bonito, mas direto e (ainda) barato, que serve só para os fãs acompanharem uma história dos X-men cheia de ação e clichês.
Contando com um roteiro que abusa das repetições de situações que os mutantes já viveram, brilhando só quando cai na paródia propriamente dita, Surpreendentes X-men de Charles Soule decide se abraçar de vez na nostalgia das histórias mutantes. Sorte dos fãs que verão uma história com desenhos excelentes.
