Não deixe de conferir nosso Podcast!

Revistas com papel jornal são ótimas para a formação de leitores

Na década de 90 os quadrinhos de heróis eram em formatinho

Essas últimas semanas foram recheadas de notícias ruins para o mercado de quadrinhos brasileiro (leia mais aqui). Para os nerds, os últimos anos foram os melhores na quantidade de publicação e promoções. A crise, porém, parece não dar tréguas para os quadrinhos e, mais do que notícias ruins, é necessário pensar em soluções. Não pense em ler um texto aqui que vai apresentar as 7 maneiras mágicas de tirar o mercado de quadrinhos do buraco, mas refletir sobre como investir em publicações voltadas para a formação de leitores seria importante nesse momento.

Todos aqueles que começaram a ler quadrinhos de heróis há mais de 30 anos, como eu, iniciaram pelos formatinhos em papel jornal. Neles estavam os heróis que a gente via na TV. As revistas tinham formato mix, isto é, quando você comprava a revista do Homem-Aranha também lia as histórias do Quarteto Fantástico e provavelmente um outro que você ainda não havia visto. Isso era em todas as publicações de heróis, sempre vinha outros para compor o mix. Cada revista era de um tamanho menor do que temos hoje e era impresso em papel jornal. Assim, se ofertava um produto com cerca de 80 páginas por meros R$ 1,50! É bem verdade que estou falando de 1994, mas naquela época esse era um preço irrecusável para aquele pai que via quadrinho como bobagem e economizava cada centavo.

Assim se fizeram os nerds colecionadores, alguns deles ainda podem ser vistos por aí com os seus cabelos brancos lendo uma hq do Batman enquanto a esposa prova roupa. O mercado de quadrinhos atual é bem diferente daquela época. Hoje, além do formato maior, são raras as revistas com mix e as revistas dos heróis Marvel e DC todas têm papel LWC (um papel melhor e mais caro). A moda são as publicações capa dura. Há poucos anos foram lançadas coleções capa duras com lombadas lindas que juntas formavam uma só figura. O sucesso veio com um baixo preço para um produto voltado para os leitores mais exigentes com as suas coleções.

LEIA TAMBÉM:  Dois grandes eventos de quadrinhos movimentam o Sul do País no início de setembro
A alegria dos “lombadeiros”

A falência de editoras e livrarias, além de comentários sobre uma enorme dívida que as distribuidoras e lojas especializadas deixaram para as editoras (não sei até quando o silêncio ensurdecedor sobre esse assunto persistirá!) tornou inviável vender uma edição de luxo por R$ 25,00 ou menos. Assim, o que temos hoje é um cenário em que as publicações estão pelo menos R$ 30,00 mais caros que o normal e “aceita que dói menos”! Leitores antigos como eu, vimos nisso uma tragédia anunciada.

Vou enfatizar apenas um dos motivos que me fazem pensar assim: boa parte dos leitores ou colecionadores de quadrinhos permanecem com essa mídia por no máximo dez anos. Se você tem mais do que isso, pense em quantos amigos seus perderam a vontade de ler gibis…

Por isso, a formação de leitores é imprescindível para o mercado de quadrinhos. As revistas para o público infantil e os mangás fazem isso muito bem. Porém, os quadrinhos de heróis, não! Quem nunca leu quadrinhos se assusta com os preços, por isso a necessidade de ter sempre disponível um produto que possa custar o mais barato possível e que seja destinado àquela pessoa que acabou de sair do cinema ou que está pirando com o seriado da Supergirl. Um material descartável como um papel jornal com um mix de outros heróis poderia ser tão encantador quanto foi para mim quando eu era criança.

O caro leitor poderia pensar o quanto sou hipócrita por pedir um material que não vou consumir, mas é fato a necessidade de haver no mercado um material que não seja para mim. A revista do Homem-Formiga que saiu no ano passado no mix de Avante Vingadores, diferente de outras revistas, é adequada para quem acabou de sair do cinema, tem a mesma pegada. Diferente de quem acabou de assistir ao filme dos Vingadores e vai na banca e pega uma revista com a Miss Marvel, a Garota Esquilo e o Marvel Azul.

LEIA TAMBÉM:  Dica de Leitura | Mágico Vento: Graphic Novel Deluxe Volume 2 (Mythos Editora)

Acho incoerente você fazer um filme ruim como Thor Ragnarok, para atrair o grande público, e não aproveitar isso para ter uma publicação de um deus nórdico risadinha. Os expectadores precisam ser atraídos para os quadrinhos e lá permanecerem. Com isso o mercado se aquece e eu poderei ler mais histórias tão boas quanto o Visão de Tom King. Esse é o momento da Editora Panini, que detém os direitos da Marvel e da DC, refletir e buscar soluções não apenas para que eu continue comprando, mas que outras pessoas que nunca leram possam sentir entusiasmo nos quadrinhos como quando o Thor chegou em Wakanda no filme Vingadores Guerra Infinita.

Sou psicólogo por profissão e um nerd em tempo integral. Eu gosto de cinema, séries, filmes, livros mas a minha paixão são as histórias em quadrinho que estão presente em minha vida desde a infância. Atualmente cismei em querer escrever, opinando sobre essa minha paixão.