O escritor Cristovão Tezza aporta nas livrarias brasileiras com três novidades, entre romances e palestras. Nelas, é possível apreciar o gênio criativo responsável por obras de destaque como O Filho Eterno e A Tradutora. Nessa leva de lançamentos quase simultâneos, que saem por três editoras diferentes, Tezza expõe sua presteza com as palavras e a evolução de seu trabalho, sendo uma ótima oportunidade para o leitor adentrar em seu universo literário; ambientado em Curitiba.
O que primeiro se destaca é seu novo romance, A Tirania do Amor, que sai pela Todavia. Nova no mercado, a editora tem no autor um de seus trunfos, que chega com uma proposta provocadora, tendo como pano de fundo o cenário político atual do Brasil (o escritor discorre melhor sobre suas intenções na entrevista para Folha de S. Paulo que você lê clicando aqui). Em contraponto à novidade, ressurge Trapo, lançado originalmente em 1988 e que agora ganha edição especial de 30 anos pela editora Record. Apesar do conteúdo não ter sido detalhado, espera-se material adicional, em vista das 50 páginas a mais em relação à edição anterior.
Por fim, Literatura à Margem, que chega pela editora Dublinense, reúne sete conferências que Tezza nos últimos anos em diversos eventos literários, dos quais participa com frequência: aqui no Piauí, por exemplo, já veio tanto para o 13º SALIPI, São do Livro do Piauí, em 2012; quanto para o 5º SALIPA, Salão do Livro de Parnaíba, realizado dois anos depois. Nessas ocasiões, o escritor costuma discorrer sobre o fazer literário, seus desafios e recompensas, os métodos a que recorre e o lugar da ficção do mundo contemporâneo. Leitura mandatória para seus fãs e apreciadores de sua extensa produção literária.
Seguem maiores detalhes sobre cada lançamento:
A Tirania do Amor (editora Todavia, 176 páginas, preço sugerido R$ 44,90): Através da crise pessoal e professional de um economista, Cristovão Tezza constrói um panorama atualíssimo do Brasil em tempos de Lava-Jato. Sozinho no carro, o economista Otavio Espinhosa toma uma decisão radical: abdicar do sexo. O que parece piada se revela uma profunda crise pessoal: um casamento falido, problemas com o filho militante político, o fim humilhante de sua carreira acadêmica e a experiência sui generis de ter tentado enriquecer como guru de autoajuda. Também a carreira de Otavio parece estar em perigo: tudo indica que ele será demitido da empresa de investimentos onde trabalha. O leitor vai aos poucos destrinchando a investigação de um esquema no qual Otavio pode ou não estar envolvido, desenhando o panorama de um país em ruína econômica, cultural e moral. No lugar da literatura ou filosofa que pautavam as obras anteriores de Tezza, é a matemática – esta “arte sem afetação”, que promete uma forma lógica de pensar o mundo – que impulsiona as digressões de A tirania do amor. Otávio, porém, logo perceberá que nem a racionalidade serve para domar a vida, nem ele mesmo é tão racional quanto gostaria de acreditar.
Trapo Edição Comemorativa (editora Record, 304 páginas, preço sugerido R$ 54,90): Edição comemorativa de 30 anos da obra que consagrou Tezza como um dos expoentes de uma nova geração de escritores brasileiros da década de 80. Em uma noite comum, o professor aposentado Manuel recebe em sua casa uma visita estranha e um pedido inusitado: uma dona de pensão com aparência vulgar entrega dois pacotes contendo originais de um jovem poeta, marginal e suicida. A mulher quer que Manuel leia o espólio de Trapo, o artista em questão, e decida se aquilo tem valor. Enredado pelo encantamento da situação, o professor percebe que apenas a leitura é insuficiente, e passa a investigar os motivos que levaram o jovem ao suicídio. Procura amigos, entrevista pessoas, conversa com o pai do rapaz e tenta achar a jovem Rosa, a quem Trapo endereça suas cartas-poemas. Nesta obra, Tezza mostra extrema habilidade em costurar no romance a narrativa conduzida por Manuel e as tresloucadas cartas de Trapo.
Literatura à Margem (editora Dublinense, 160 páginas, preço sugerido R$ 39,90): Nesta coletânea de sete conferências apresentadas nos últimos dez anos em eventos literários, universidades e na Academia Brasileira de Letras, e revisadas especialmente para esta edição, Cristovão Tezza discute a criação literária sob uma ampla gama de temas, que abarcam desde a relação da literatura com a psicanálise até as fronteiras entre a ficção, a biografia e o ensaio. Em linguagem clara e pontuada pelo humor, com um rigor conceitual que passa longe do jargão acadêmico, o premiado autor do romance “O filho eterno” fala de seu processo criativo, das origens de seu desejo de se tornar escritor, dos pressupostos éticos da literatura, do sentido da ficção no mundo contemporâneo e das contingências históricas, políticas e culturais de sua geração.
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