Ano passado foi um ano sabático para mim, estava sem notebook, tentando manter as dívidas em dias, mas finalmente, graças aos leitores do site, consegui comprar um novo ‘usado’ aparelho. Era questão de honra, para mim, fã do Wintersun, escrever a resenha definitiva de toda a internet sobre um dos álbuns mais inacreditáveis da história do metal melódico.
O final da Saga finalmente concluída
Time II do Wintersun foi lançado mundialmente no dia 30 de agosto de 2024 não foi apenas o lançamento de um álbum; foi um evento sísmico no mundo do metal. O peso da expectativa sobre Time II era colossal. Não se tratava de uma mera continuação, mas da segunda metade de um todo prometido desde 2014. A narrativa em torno do álbum foi tecida com fios de frustração e esperança: atrasos intermináveis, falhas de hardware, bloqueios criativos, campanhas de financiamento coletivo que deram errado e a busca incessante de uma sonoridade perfeita que parecia inatingível.
Esta longa e tumultuada gestação elevou Time II de um simples produto musical a uma profecia que nunca iria se cumprir. A questão que pairava no ar não era apenas se o álbum seria bom, mas se a sua própria existência era possível.
No canal oficial da banda, Jari Mäenpää, o criador do projeto, postava vários vídeos explicando cada elemento do novo álbum, seus medos, frustrações, além de diversos problemas técnicos, financeiros e burocráticos. Ele estava mais ansioso que a gente para o fim desse projeto.
No entanto, contra todas as probabilidades, a profecia foi cumprida. E o triunfo foi imediato e retumbante. Longe de ser um lançamento de nicho, Time II explodiu nas paradas internacionais, alcançando a primeira posição na Finlândia, a oitava na Suíça, a nona na Áustria e a décima primeira na Alemanha. Este sucesso comercial não foi apenas uma vitória para a banda; foi uma validação para a legião de fãs que nunca perdeu a fé. Demonstrou inequivocamente a relevância duradoura do Wintersun e a lealdade inabalável da sua base de fãs. A chegada do álbum transcende a sua música; o seu significado primário reside no cumprimento de uma promessa de longa data. O álbum tornou-se um artefacto cultural que justificou anos de devoção e a luta artística do seu criador.

O Arquiteto e a Sua Orquestra
No centro deste universo musical está uma figura singular: Jari Mäenpää. Ele não é apenas o líder da banda; ele é o seu arquiteto, o compositor de todas as músicas e letras, e o intérprete dos vocais, guitarras e teclados. A história de Time II é inseparável da sua jornada pessoal. Em entrevistas, Jari revelou uma evolução de uma pessoa outrora muito negativa para alguém que teve de trabalhar conscientemente a sua resiliência e positividade. Ele admitiu ter sofrido um “pequeno esgotamento” e sentir-se “desapontado consigo mesmo” por ter feito os fãs esperar quase sete anos desde do último álbum, pintando o retrato de um artista profundamente empenhado, atormentado pela sua própria visão perfeccionista. O avanço criativo só ocorreu quando, ao trabalhar em quatro novos álbuns ao mesmo tempo, ele finalmente encontrou o “som certo” que sentiu que faria justiça ao projeto Time. Perseverança e teimosia às vezes ajudam muito o nosso lado criativo, meus queridos. Sejam persistentes, teimosos que sai coisa boa no momento mais obscuro da nossa vida.
No entanto, seria um erro considerar o Wintersun um projeto de um homem só. Jari está ao lado de um dos seleto grupo de músicos da elite melódica finlandesa, cuja lealdade ao projeto é talvez o maior testemunho da sua qualidade.
Kai Hahto: O Primordial
Membro fundador e a natureza rítmica do Wintersun, Kai Hahto é uma força da natureza. As suas linhas de bateria para o projeto Time foram gravadas em 2006 (Isso mesmo, as linhas que a gente escuta no novo álbum já tinha seus protótipos gravadas há quase 20 anos), um testamento de quanto o projeto é antigo. Alguns críticos não gostaram disso, mas eu achei poderosa, complexa e colossal. Kai ficou famoso sendo o baterista do Nightwish nos últimos anos, mas isso é injusto. O cara é um animal.
Jukka Koskinen: A Fundação
Tal como Hahto, o baixista Jukka Koskinen é um veterano da banda, tendo-se juntado em 2004, e também empresta o seu talento prodigioso aos Nightwish. Em Time II, a sua contribuição é técnica e o som está mais limpo, você escuta as linhas de baixo do Jukka muito bem. Pela primeira vez na discografia da banda, o baixo não está enterrado sob camadas de orquestração; ele corta a mistura com clareza e poder, dando um peso necessário às composições e uma nova dimensão de profundidade ao som da banda.
Teemu Mäntysaari: O Virtuoso
Descrito como o “jovem prodígio” , mas não tão jovem assim, Teemu Mäntysaari juntou-se à banda em 2004 e evoluiu para se tornar um dos maiores pupilos do Kiko Loureiro, tanto, que ele entrou no Megadeth para fazer o que mestre deixou para fazer rs. Em Time II, a sua performance é nada menos que espetacular. Os seus solos são descritos nas críticas que li para escrever essa como “majestosos”, “espantosos” e “virtuosos”, uma fusão de técnica e inteligência melódica. Como co-produtor das guitarras ao lado de Jari, o seu papel sempre é fundamental.
O fato de estes três músicos, com carreiras exigentes em algumas das maiores bandas de metal do mundo, terem permanecido dedicados à visão de Jari durante duas décadas de incerteza, fala mais alto do que qualquer crítica. A sua lealdade transforma-os de meros “membros da banda” em guardiões de um legado.
Desconstruindo o Cosmos: Uma Odisseia Faixa a Faixa
Para apreciar verdadeiramente a magnitude de Time II, é preciso abordá-lo não como uma coleção de canções, mas como uma única e contínua jornada. As faixas fluem umas para as outras, criando uma paisagem sonora imersiva que exige uma audição atenta e completa. Esta é uma visita guiada a essa odisseia.
1. Fields of Snow (4:05)
O álbum abre com uma introdução atmosférica e de influência oriental que é, por si só, uma obra de arte. Descrita como uma das “orquestrações mais deslumbrantes” que a banda já criou, estabelece um clima cinematográfico e esperançoso, pontuado por motivos melódicos japoneses. Funciona como uma abertura temática, introduzindo a melodia que mais tarde florescerá em “Silver Leaves” e preparando o ouvinte para a tempestade que se avizinha. No entanto, nem todos ficaram convencidos, com alguns críticos a acharem a faixa pouco inspirada, comparando-a à “música do Crash Bandicoot”.
2. The Way of The Fire (10:08)
A primeira faixa completa do álbum é uma explosão de energia, um marco dos concertos da banda que finalmente recebe a sua versão de estúdio definitiva. É um turbilhão de blastbeats, é uma faixa triunfante literalmente. Os riffs são rápidos e incisivos, evocando a glória do álbum de estreia e dos primórdios do Ensiferum. Os solos, partilhados entre Jari e Teemu, são uma demonstração de virtuosismo que serve a canção em vez de se exibir. Representando o lado mais power metal do Wintersun, é considerada por muitos uma música “quase perfeita”.
3. One With The Shadows (6:18)
Uma faixa mais contida e de ritmo médio, a versão do álbum de uma balada poderosa. Possui uma atmosfera arrebatadora e envolvente, com riffs heróicos e um equilíbrio sublime entre os vocais guturais e limpos de Jari. Esta faixa dividiu opiniões: alguns consideram-na a mais fraca do álbum , enquanto outros a aclamam como uma das favoritas, destacando um dos melhores solos que já ouviram.
4. Ominous Clouds (2:21)
Um interlúdio instrumental curto, mas eficaz. Tem um solo de guitarra limpo como bunda de bebe recém nascido, funciona como uma ponte tensa e atmosférica. Com sons ambientes de vento e chuva, cria um palpável sentido de drama e antecipação para a “Tempestade” que se aproxima.
5. Storm (12:15)
A faixa central de death metal melódico do álbum e favorita para muitos críticos e fãs. A canção constrói-se a partir de uma introdução calma e chuvosa para um riff tenso e furioso. É uma aula de atmosfera, conjurando vividamente as imagens do seu nome com uma bateria veloz, melodias neoclássicas e vocais teatrais. Vista como uma versão mais eficaz de “Autumn” de The Forest Seasons , é uma obra-prima de dinâmica e poder. Para mim, essa faixa é uma parada única, ela estremece todas as células de nosso corpo. É a faixa musical que faz você acreditar que Deus existe. Stormi é doideira, loucuragem!!
E sobre Autumn do álbum The Forest Seasons de 2017 é a música mais importante da minha vida. Eu já escrevi três livros só por causa dessa música.
6. Silver Leaves (13:30)
O épico de encerramento de 13 minutos é uma balada agridoce e introspectiva que mergulha de cabeça nas influências japonesas, utilizando instrumentos como o erhu e o koto. As letras falam sobre encontrar paz e satisfação no final de uma jornada, um tema refletido no jardim de cerejeiras da capa do álbum. Sendo a canção mais misteriosa e aguardada antes do lançamento, a sua receção foi complexa. Alguns acharam-na decepcionante ou repetitiva, mas a maioria aclamou-a como uma obra-prima e a conclusão perfeita e esperançosa para a saga Time. Um ponto de consenso universal é o momento mágico em que Jari começa a cantar em finlandês, um toque de génio que eleva a canção a um plano etéreo.
Sobre o Som e a Produção de Time II
A faceta mais debatida de Time II é, sem dúvida, a sua produção. As opiniões dividem-se em dois campos diametralmente opostos. Por um lado, muitos críticos e fãs descrevem a mistura como uma “muralha de som” impenetrável , excessivamente comprimida. Esta abordagem resulta numa falta de dinâmica, fadiga auditiva e instrumentos que se perdem na densidade sonora, principalmente sobre a questão da bateria parecer métrica demais. Por outro lado, um número igualmente grande de ouvintes argumenta que este é o melhor som que a banda já fez, uma melhoria significativa em relação a Time I e The Forest Seasons (Eu não acho). Estes elogiam a clareza recém-descoberta, notando que as guitarras estão finalmente na frente e o baixo é consistentemente audível pela primeira vez.
Esta dualidade não é um acidente, mas sim o resultado de uma escolha artística deliberada. Jari Mäenpää afirmou que o seu objetivo era criar uma “muralha de som” inspirada no trabalho de Devin Townsend. A abordagem maximalista, um bilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo, faz parte do DNA do Wintersun. A mistura comercial padrão não é uma falha, mas a declaração artística pretendida por Jari, por mais desafiadora que seja para o ouvinte casual.
Jari quando fez o financiamento coletivo criou trocentos presentes diferentes para quem pagava pouco e, claro, para quem pagava mais. O “Time Package”, disponibilizado através da campanha de financiamento, não contém apenas o álbum. Inclui misturas alternativas e mais dinâmicas (com atenuação de -1db e -2db) e, crucialmente, todas as faixas instrumentais isoladas de cada música. Esta decisão transforma este álbum numa experiência musical única. As faixas isoladas também fizeram que os fãs criassem as suas próprias mixagens, tornando-se efetivamente os produtores finais da sua experiência musical. Em vez de um produto estático com uma mistura “defeituosa”, Time II torna-se um projeto de arte dinâmico e participativo. Jari apresenta a sua visão intransigente, mas simultaneamente confia e capacita o ouvinte a criar a sua própria versão “perfeita”. O que poderia ser visto como uma falha de produção é transformado numa característica única e profundamente envolvente.
O Veredito: É Time II o Álbum do Ano?
Responder a esta pergunta exige que se definam os critérios para “o melhor”. É a inovação técnica, a produção imaculada, ou o impacto emocional e o significado narrativo? Num ano repleto de lançamentos de metal de alta qualidade, a competição é feroz.
No entanto, a grandeza de um álbum, especialmente para o fã apaixonado, mede-se por mais do que a sua mistura ou novidade. Time II é um monólito emocional. É o som de uma promessa cumprida, de uma história concluída e de uma jornada pessoal — tanto do artista como do fã — que atinge a sua conclusão triunfante. Para alguns, a sua chegada foi uma experiência literalmente afirmativa da vida, até mesmo salvadora. Nenhum outro álbum em 2024 carrega tanto peso narrativo ou proporciona uma sensação tão profunda de catarse. Enquanto outros podem ser a escolha da cabeça do crítico, Time II é a escolha do coração do fã. E num gênero construído sobre paixão, essa é a métrica que mais importa. Sim, é o melhor álbum do ano.
O futuro do Wintersun
Com a conclusão da saga Time, um fardo imenso foi finalmente tirados dos ombros de Jari Mäenpää. Esta conclusão não é um fim, mas uma libertação. Jari já manifestou a sua intenção de se concentrar em lançar músicas novas com mais frequência, mergulhando no vasto número de composições que fez, segundo ele, material para cerca de dez álbuns!
Na verdade, no canal do YouTube ele posta música nova e versões de músicas antigas toda semana, basicamente.
O inverno foi longo e rigoroso. A tempestade passou. Mas com a chegada de Time II, o sol novamente brilhou sobre o universo do Wintersun, e o futuro para a banda e os seus devotos seguidores nunca pareceu tão brilhante. A espera valeu a pena, não apenas pelo álbum que recebemos, mas pela promessa de toda a música que ainda está para vir.
Leave a Reply