“Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn“
O post desta sexta-feira não será exatamente dedicado a H.P. Lovecraft, mas a interpretações de seu universo feitas em O Despertar de Cthulhu em Quadrinhos, uma publicação da editora Draco, lançada em 2016.
Antes de tudo, devo ressaltar que, ao contrário do que podem imaginar, não é uma adaptação em quadrinhos do conto mais famoso de H.P. Lovecraft. A obra é, na verdade, uma coletânea de 8 histórias que exploram o rol das criaturas e horrores criados pelo autor, tendo como inspiração primária o nosso querido “Cleiton”.
A HQ tem 168 páginas lindamente coloridas em preto, branco e verde, o que foi uma decisão bem acertada, pois dá uma personalidade a mais para as histórias. A obra, que foi organizada por Raphael Fernandes, tem como responsável pela arte da capa João Pirolla. Além disso, traz uma releitura do universo dos Mitos de Cthulhu assinada por nada menos que QUATORZE artistas, entre roteiristas e ilustradores, todos brasileiros.
A seguir, vou dar uma sinopse de cada uma das histórias, fazendo o meu melhor para não entregar uma vírgula mais do que o necessário.
O Salmo do Sangue Antigo
Roteiro e arte de Dudu Torres, a história apresenta um rapaz que vai visitar a mãe de um velho amigo que se matou, mas a senhorinha acaba mostrando para ele um paradigma inimaginável.
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Os Tambores de Azathoth
Essa foi uma das histórias que mais gostei. Ela tem como personagens duas figuras que impactaram o mundo: Oppenheimer (que dirigiu o projeto Manhattan para a criação da bomba atômica) e o mago que dispensa apresentações, Aleister Crowley. Ela envolve pesadelos medonhos, conexões bizarras e teorias que vão te deixar pensativo. O roteirista é Antonio Tadeu e o ilustrador, Lucas Chewie.
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Macio
Essa história se passa num vilarejo que está sendo assolado por uma epidemia. No desespero, elegem uma família como bode expiatório para a praga e acham justificado destruí-la. Essa história tem a participação especial do que julgo ser um parente do nosso querido Black Phillip e foi escrita por Airton Marinho e ilustrada por Fabrício Bohrer.
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Sob a Insana Luz
Aqui temos uma história mais próxima das atmosferas criadas por Lovecraft. O enredo traz dois detetives que vão até uma pacata cidadezinha investigar o desaparecimento de uma equipe de cientistas pesquisava sobre a água do lugar, mas como nas obras de Lovecraft, a cidade e seus moradores não são o que parecem à primeira vista. O responsável pelo roteiro é Caiuã Araújo e pelo desenho é Márcio de Castro.
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Clhithmaek’ Tyivh
Com esse nome tão lovecraftiano, a história escrita e desenhada por Lucas Pereira, tem como protagonistas uma dupla de estudiosos que parte em busca de uma tribo indígena remota, para estudá-la. O inesperado é que o deus e os costumes religiosos da tribo são muito mais bizarros do que práticas como empalamento e canibalismo.
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A Língua da Fé
Aqui, o roteirista Raphael Fernandes e o ilustrador Samuel Bono nos mostram como poderia haver coisas piores que o charlatanismo conhecido dos programas religiosos da TV. Para isso, a história nos mostra um alcoólatra que vê num show desses sua última esperança de deixar o vício e realinhar sua vida. Obviamente, o culto com que ele se depara não é muito convencional e o desfecho vem acompanhado de algumas reflexões pouco ortodoxas.
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O Caso da Truta Salmonada
Este foi o conto mais bizarro de todos, na minha opinião. O protagonista é um sushiman, que após o contato com um cliente que parece ter vindo diretamente de Innsmouth, começa a ficar extremamente perturbado. A cada quadro sua agonia vai crescendo e junto, o desconforto do leitor. A arte e o roteiro são de Jun Sugiyama.
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O Que Dorme
A história que encerra a HQ tem roteiro de Barbara Garcia e arte de Elias Aquino. Ela se passa no meio de uma epidemia de insônia e a privação do sono vai drenando completamente as forças das pessoas, impossibilitando até que os cadáveres sejam enterrados. Nessa atmosfera caótica a insanidade encontra um terreno fértil. Essa história tem umas referências interessantes como o livro lido pela protagonista ou as fitas cassetes espalhadas em sua estante.
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Todas são boas narrativas, mas é importante você não ir com expectativa demais. Particularmente, fiquei bem feliz de ver artistas brasileiros mostrando seu trabalho numa edição tão primorosa e ainda homenageando um universo tão incrível. A edição traz uma pequena biografia dos artistas que trabalharam na HQ e com certeza são nomes para manter no radar.
A Coleção lançada pela Draco conta também com um quadrinho inspirado n’O Rei de Amarelo, de Robert. W. Chambers e outro nos Demônios da Goetia. Também nesse estilo de preto, branco e uma cor em destaque, que são respectivamente amarelo e vermelho.
Se eu puder deixar uma ressalva, essa vai ser o preço. Cada uma das HQ’s dessa coleção custa em média 45 reais e acho meio salgado.
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