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A terceira temporada de Big Mouth é uma ode ao constrangimento adolescente de uma forma genial

Big Mouth
ScreenRant/Netflix

Esta é uma resenha sem spoilers da terceira temporada de Big Mouth que está disponível na Netflix.

No começo, lá nos anos 80, existia um filme chamado Porky’s – que de alguma forma na versão brasileira ficou A Casa do Amor e do Riso – que se tornou um dos momentos mais importantes da cultura pop no cinema, no caso, o filme era horrível, mas serviu de modelo para outros filmes que usavam a mesma fórmula de Porky´s: Jovens Nerds querendo transar de qualquer maneira.

Essa ladainha caiu no ostracismo, claro, mas ‘American Pie’ no final dos anos 90 retornou o que já estava morto, mas Jason Biggs transando com uma torta fez novamente história, mesmo que a ‘jornada do herói’ desse filme era novamente, uma exclusiva jornada sexual de homens brancos e heterossexuais. E lá no fundo essa ‘comédia’ que surgiu com Porky´s volta e meia retorna.

Hoje, há toda uma geração de séries e programas de TV que exploram o despertar sexual na adolescência a partir de uma ampla variedade de perspectivas, desde a divina e estranha Chewing Gum (Michaela Coel) até a deslumbrante e precisa Pen15 (Maya Erskine). Mas nada se compara até agora com Big Mouth, que retornou para sua terceira temporada na Netflix esta semana.

Para aqueles não conhecem, escrevi uma resenha da segunda temporada, mas vamos lá de novo; Big Mouth é a obra-prima dos comediantes Nick Kroll, Andrew Goldberg, Mark Levin e Jennifer Flackett, eles explicam tudo o que é estranho na adolescência dos amigos Nick Birch (dublados por Kroll) e Andrew Glouberman (John Mulaney) no caminho incerto até a sétima série. O desenho animado conta ainda com a nata americana da comédia: Jenny Slate, Jason Mantzoukas, Jordan Peele e Maya Rudolph, todos fazendo as vozes dos personagens principais – fazendo talvez, o trabalho de suas carreiras. (Às vezes, Kristen Wiig aparece como uma vagina gigante que fala).

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Desenhos infantis grosseiros para adultos não são novidade – afinal, South Park (que acaba de ser banido da China) está na 23ª temporada – mas Big Mouth nunca se importa se aquela piada é a coisa mais pervertida que você assistirá na sua vida. Milagrosamente, porém, a grosseria nunca vista antes num desenho para adultos, permite uma terceira temporada hilária e incrível.

A genialidade de Big Mouth reside na maneira como ela se move para além do paradigma de ‘American Pie’, para mostrar que a adolescência é – e sempre foi – o pior momento da vida do ser humano, não importa quem você seja. De mães na menopausa a lésbicas no fim da vida, a todo o estado da Flórida afundando como uma punição divina, ninguém está a salvo de Big Mouth. Para todas as piadas sobre garotos heterossexuais, há uma história cuidadosamente executada sobre romance estranho ou masturbação feminina. Ali Wong faz uma participação como uma estudante pansexual da sétima série que cativa a atenção de suas colegas de maneira realista, mas o programa é cuidadoso para não fazer de sua sexualidade o alvo da piada. Ainda assim, não espere nenhuma grande reviravolta: Big Mouth ataca genialmente todas as histórias que se propõe a contar com a mesma alegria enlouquecida. Além de Ali, existem mais alguns convidados impressionantes que não direi para não estragar a reação de vocês.

A temporada tem alguns erros iniciais – um episódio sobre o vício em celulares que poderia passar batido – mas também muitos acertos, ampliando seu escopo para dar aos personagens menores arcos totalmente importantes, hilários e educativos. Desta vez, algumas coisas que antes não funcionavam muito bem: o mágico Jay, que passou a última temporada em um triângulo amoroso profundamente perturbador com um travesseiro e uma almofada no sofá, obtém material mais carnudo este ano, explorando sua identidade bissexual via Netflix, além disso, ele meio que vai ser criado pela família de Nick e isso o ajudará profundamente a entender como funciona de fato uma família. Sua busca se desenrola, da maneira típica que Big Mouth mostra, através de uma música alegre e instrutiva (“Existe um nome para qualquer coisa que você queira ser, não vê? / No espectro da sexualidade”). É refrescante ver um programa feito por adultos abordar a complexa questão da fluidez sexual com humor que não deriva de um ângulo cínico e malicioso.

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A terceira temporada de Big Mouth equilibra com sucesso o bizarro e o relacionável; embora os momentos fantásticos e de alto conceito da série sejam divertidos, ele realmente brilha quando avança em uma história de menor escala, como a sexualidade sensata e levemente tensa de Jessi (Jessi Klein). Enquanto Andrew (toca de coelho) tem um relacionamento sexual incestuosa, cheia de vergonha e iniciada por um feriado judaico que deixaria Philip Roth orgulhoso, Jessi aprende a se masturbar em um dos melhores episódios da temporada. Jessi, há muito tempo ocupa o que passa pelo alto nível moral do programa, então é bom lembrar que, no final do dia, ela é tão curiosa, sensual e fundamentalmente nojenta quanto qualquer outra pessoa no mundo. Como qualquer adolescente desde tempos imemoriais, é. Em uma era de adolescentes habilmente inventados e cansados do mundo por causa das redes sociais e da sociedade moderna, porém, mais opressora do que nunca, um pouco (ou uma quantidade enorme) de constrangimento adolescente genuíno percorre um longo e divertido caminho.

Simplesmente imperdível a terceira temporada de Big Mouth. Recomendo.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.