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Crítica | Yasuke, a história não contada do samurai negro no Japão

Yasuke
Netflix

 

Com um enredo cheio de robôs, ficção científica e poderes sobrenaturais, Yasuke da Netflix não é o que você achou que fosse.

 

Eu fui assistir Yasuke sem ao menos ver o trailer e foi um choque de cultura para mim assistir os primeiros minutos do anime. Ainda assim, a animação é uma lição sobre um pedaço inexplorado da história japonesa e não apenas um drama biográfico animado.

 

Centrado na vida real do samurai de ascendência africana, Yasuke, que serviu ao shogun (senhor feudal) do século 16 Oda Nobunaga, o anime toma muitas liberdades criativas com a história. Ele tenta elevar o pouco que se sabe sobre essa figura com elementos sobrenaturais, ficção científica com mechas gigantes que mudam de forma e tecnologia. Como eu não havia assistido o trailer, foi surpreendente, claro, no começo fiquei confuso, mas acabei compreendendo os motivos de tanta adaptação que vou explicando ao longo do texto.

Yasuke da Netflix foi criado e dirigido por LeSean Thomas (The Legend of Korra, Cannon Busters) ao lado do estúdio de animação japonês MAPPA (Jujutsu Kaisen e da temporada final de Attack on the Titan). Lakeith Stanfield, que recentemente estrelou Judas e o Messias Negro, dubla Yasuke e também atua como um dos produtores executivos – era a única informação que eu sabia sobre o anime. Yasuke é a mais recente tentativa da Netflix de diversificar suas produções e amplificar mais vozes e talentos negros, especialmente na esteira do movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matter).

Yasuke, o anime, começa de onde os registros históricos chegam, a um beco sem saída sobre a vida desse samurai africano. Duas décadas após a morte de Nobunaga (dublado por Takehiro Hira de Giri / Haji-fame) através do suicídio ritual (seppuku), Yasuke vive uma existência solitária na zona rural de um vilarejo. Ele transporta pessoas pelo rio, pesca e passa o resto do tempo bebendo saquê num boteco, assombrado pela morte de Nobunaga, a quem ele ainda permanece fortemente fiel. No passado ele foi uma das forças de seu mestre, invencível e leal no exército do shogun, narradas no anime como lembranças em forma de flashbacks fragmentados pelos capítulos. Stanfield como protagonista não traz muita emoção ao personagem, já que Yasuke é estoico na sua postura, na forma como fala. Então a interpretação de Stanfield está mais nos detalhes como ele respira ou age sobre determinada ação ou batalha.

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Essa monotonia é bruscamente modificada quando ele é convidado a acompanhar uma jovem garota chamada Saki (Maya Tanida) e sua tutora Ichika (Gwendoline Yeo) a um médico especial longe de sua pacata aldeia. Saki não é uma garota comum, ela possui, em suas palavras, “superpoderes da mente”. A partir disso, os problemas vão surgindo quando Saki se torna alvo de vários vilões, fazendo de Yasuke seu guardião.

O foco da história não mira tanto em Yasuke, mas como ele vai manter uma garota segura das garras de pessoas. Talvez a 2ª temporada, se sair, seja explorado mais sobre Yasuke propriamente dito. O resto do anime é apenas sequência após sequência de lutas e confrontos violentos que são um pouco longos demais, ocupando a maior parte do espaço dos episódios.

Yasuke também contém um grande número de antagonistas que vêm e vão, não há nenhum em particular que prenda sua atenção, exceto talvez o padre doido de pedra que no primeiro episódio quebra o pescoço de um refém aleatório e depois espanca e tortura Yasuke. Ele não tem nenhuma motivação lúcida para manter Saki como sua prisioneira, exceto para trazer paz. Como os poderes dela trariam paz, ele nunca se preocupou em explicar direito isso. Não há histórias de fundo interessantes para qualquer um dos outros vilões, de onde eles vieram e por que estão no Japão como mercenários de aluguel.

Yasuke também vive em um mundo onde as pessoas estão habituadas a tudo que é diferente, de feiticeiros a robôs gigantes, mas não à cor de sua pele. Aonde quer que vá, ele fica sujeito a olhares e pessoas boquiabertas, um aspecto no qual a história nunca se aprofunda. O que se pode inferir aqui é que o mundo real está aceitando muitas coisas, mas se detém na questão da raça.

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O anime tem visuais lindíssimos e cores vibrantes, especialmente as texturas 3D da exuberante paisagem japonesa, bem como as sequências de guerra elaboradas e cenas sangrentas com uma quantidade terrível de sangue jorrando de corpos. A partitura esotérica de jazz de Flying Lotus aumenta qualquer emoção e tensão em cada cena. 

Apesar de suas falhas, Yasuke é uma tentativa inovadora de reviver uma figura japonesa há muito esquecida e unir duas culturas distintas. A primeira temporada poderia conter mais episódios, são apenas seis, cada um com 30 minutos de duração, Yasuke é um ótimo ponto de partida para os fãs de animação. Ainda assim, recomendo.

E da próxima vez, eu paro para assistir o trailer e não ir com muita sede ao pote.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.