Com uma estrutura narrativa lenta e complexa, Tales from the Loop se é uma série para pessoas com tempo sobrando, ou seja, todos nós.
Você está preso em casa, vendo o tempo passar lentamente como uma geleira derretendo? Você não sabe que dia da semana é? O mundo se tornou um lugar desconhecido e vazio, com pedaços interessantes de coisas acontecendo e não acontecendo ao mesmo tempo?
Se você confirmou tudo que perguntei, o Amazon Prime Video tem uma série nova para você. Os criadores de Tales from the Loop talvez nunca ousaram sequer imaginar que dariam à luz essa ficção científica dramática de oito episódios, complexa e lenta, em um mundo perfeitamente adequado para recebê-lo. Não apenas a vida em quarentena é surpreendentemente sugestiva ao cenário real e a cidade fictícia de Mercer, Ohio, contando com o fato que todo criador de ficção científica complexa e lenta sonha: pessoas em casa com tempo para assistir.
Em parte, o ritmo pode ser atribuído à gênese da série. Tales from The Loop foi inspirado em um livro de 2014 com o mesmo nome do artista sueco Simon Stalenhag, que é fascinado em desenhar representações deslumbrantes de uma Suécia de realidade alternativa – uma paisagem linda e misteriosa povoada por robôs, dinossauros e máquinas misteriosas. É claro que alguém decidiu que o público global não seria capaz de lidar com um cenário sueco, mas esta versão da América é igualmente remota e suas maravilhas tecnológicas são igualmente melancólicas.
Diferentemente de The Twilight Zone ou Amazing Stories, que têm premissas semelhantes, Tales from the Loop tenta ao menos contextualizar seus acontecimentos estranhos, apesar de não tentar explicá-los. Mercer está no topo de um acelerador de partículas gigante, o Loop, onde os cientistas realizaram experimentos físicos. The Loop é dirigido por Russ Willard (Jonathan Pryce) e o primeiro episódio começa com ele falando diretamente para a câmera. “Todos na cidade estão conectados ao Loop de uma maneira ou de outra”, ele fala. “E você conhecerá muitas de suas histórias – com o tempo.” Assisti a série porque simplesmente vi o nome do senhor Jonathan Pryce, para ser bem sincero. Ele novamente me levou para uma bela aventura de interpretação e narrativa.
Tales from the Loop talvez seja melhor entendido como arte visual do que como uma narrativa convencional. O design de produção e a trilha sonora fazem jus às obras originais, e a partitura de Paul Leonard-Morgan e Philip Glass empresta lastro às imagens. Muitas vezes, é lindo de se olhar e suas peças de teatro recebem mais tempo para ficar na mente do que em uma série com um enredo mais denso. Crianças se deparando com um robô ferido em um bosque nevado. Uma anomalia gravitacional que faz a neve cair para cima. Uma família de gênios contidos que aceitam perda e mortalidade. Cenas que parecem telas de um desenho. Preste atenção, é tudo muito bonito de verdade.
Ninguém acusaria Tales from the Loop de ser empolgante, mas tem outras qualidades, raras em uma era de séries frenéticas e explosivas: é atencioso, paciente e sem medo de deixar suas grandes perguntas em aberto. Esta é uma série lenta para dias lentos, e para todos os telespectadores que se desligam por alguns minutos do de um mundo estranho e pandêmico, Tales from the Loop será curioso.
Tales from The Loop está disponível no Amazon Prime Video.
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