O “o dilema das redes” de Jeff Orlowski alterou a relação com a tecnologia. Agora disponível na Netflix, está prestes a mudar a sua também.
Jeff Orlowski não sente falta das redes sociais.
“Honestamente, eu era muito viciado em redes sociais”, diz o cineasta. “Eu verificava meus perfis diversas vezes por dia. Enquanto escrevia uma cena, por exemplo, as notificações do Facebook me distraia completamente” complementa o documentarista numa entrevista.
De acordo com o mais recente documentário de Orlowski, “o dilema das redes (The Social Dilemma)”, as notificações do Facebook funcionam exatamente para isso, lhe prender nela. O documentário ilustra os efeitos prejudiciais que a mídia social tem na sociedade e argumenta que essas plataformas não estão simplesmente sendo mal utilizadas por humanos falíveis, mas, em vez disso, direcionando esses humanos para o seu pior estado – pessoas inseguras, desinformadas, distraídas, deprimidas e, em alguns casos, radicalizado como massa de manobra.
Essas ideias não são novas, mas sob a direção de Orlowski, o documentário as apresenta diretamente de pessoas que entendem do assunto: os criadores do Facebook, Twitter, Pinterest que estão lá falando para deixarem as redes sociais para sempre. Muitos dizem que abandonaram totalmente as plataformas. Orlowski seguiu o exemplo deles. Particularmente eu ainda não consigo fazer isso. Eu amo o Twitter e todo lixo que aparece ali. Facebook e outras redes sociais, basicamente não uso mais. Mas isso é só para vocês saberem se eu consigo mesmo escrever esse texto.
“Vejo paralelos entre a indústria de combustíveis fósseis e a indústria de tecnologia”, fala Orlowski. “Quando descobrimos o petróleo pela primeira vez, foi este recurso realmente excelente que teve muitas oportunidades. E só anos depois percebemos que era muito ruim para o clima. Acho que o mesmo se aplica às redes sociais. Apesar de os benefícios individuais que podem advir dessas plataformas, existem consequências, tanto para o indivíduo como para a sociedade, que temos de enfrentar agora.”
Os espectadores da Netflix gostam das produções de Orlowski feitos sob a égide de sua produtora Exposure Labs. É dele também e disponível para assistir “Em Busca dos Corais” de 2017. Nesse, ele rastreou eventos de branqueamento de corais nos recifes do oceano, ganhou um Prêmio do Público no Festival de Cinema de Sundance. Mas seu trabalho com documentários que mostram ações humanas e como elas afetam o meio ambiente é mais antiga.
Em comparação, “o dilema da redes”, com sua linha de especialistas da indústria de tecnologia, pode parecer um pouco diferente do trabalho anterior de Orlowski. Mas Orlowski diz que nunca foi seu plano fazer apenas filmes ambientais – iluminar as forças que mudam irrevogavelmente o mundo sempre foi o objetivo.
Então, quando ele viu o especialista em tecnologia Tristan Harris postando em seu perfil sobre as muitas manipulações da mídia social, ele ficou intrigado. As preocupações de Harris, um ex-especialista em ética de design do Google que estudou como o mecanismo de pesquisa remodelou as mentes e a capacidade de atenção das pessoas, parecia combinar com outra ideia: filtros de bolha. Tópico de uma Ted Talk de Eli Pariser, os filtros de bolhas são o resultado da corrida das plataformas da internet para fornecer aos usuários as informações que os farão voltar. O problema, claro, é que mostrar apenas o que gostamos nos inibe de aprender novas perspectivas.
Com esses conceitos em mente, Orlowski começou a fazer muitas perguntas a muitas pessoas. Ele conversou com um ex-designer de software do YouTube, ex-vice-presidente de engenharia do Twitter, ex-presidente do Pinterest e ex-líder de engenharia do Facebook que inventou o botão “curtir”. Muitos têm a palavra “EX” antes de seus títulos porque o que viram nas empresas mais icônicas do Vale do Silício os perturbou – plataformas projetadas para fornecer dopamina aos cérebros dos usuários, como notificações de que foram marcados em uma foto ou receberam mais “curtir” em uma postagem. Depois que os usuários entram na plataforma, vários detalhes dificultam a saída. Quando um vídeo se aproxima do fim, um algoritmo desenterra outro que acha que você vai gostar; Essas reticências piscando quando alguém está escrevendo uma mensagem de resposta não são por acaso.
Essas entrevistas tornam-se a espinha dorsal de “o dilema das redes”, que postula que a mineração de dados possibilitada pelas plataformas, bem como os problemas de saúde mental e divisão social resultantes, representam uma crise existencial tão agourenta quanto as mudanças climáticas.
O que acontece atrás de uma tela – ou no cérebro de um observador do YouTube – é mais difícil de descrever. Para remediar essa abstração, a equipe de Orlowski criou um componente narrativo para o documentário. A família retratada luta para entender como as Mídias sociais estão alterando suas vidas. “Eu queria que os espectadores pudessem se identificar emocionalmente com a história”, diz Orlowski, “e não que fosse apenas um monte de conversa intelectual sobre algoritmos.”
Para Orlowski, entender como a mídia social influencia o desejo das pessoas por conexão e afirmação fez com que o uso dessas plataformas parecesse algo ruim. Embora ele ainda precise usá-los – para promover o filme. O site do documentário, thesocialdilemma.com, fornece um link para um kit de desintoxicação de dados para tornar o uso da tecnologia mais seguro e saudável, bem como conselhos sobre como definir regras de uso de mídia com sua família. O site ainda revela maquinações de plataforma. Clique em determinados botões e uma janela pop-up explica como funcionam para mantê-lo ligado. Vale muito a pena.
“Este projeto mudou completamente minha relação com a tecnologia”, diz Orlowski. “Estou muito mais consciente de quando algo é uma ferramenta que está me ajudando a realizar o que quero fazer na vida, do que quando tem seus próprios objetivos para tentar me fazer algo por isso.” Ele diz que está se sentindo mais feliz, motivado e criativo – então os fãs podem esperar outro projeto revelador em breve.
“o dilema das redes” está disponível na Netflix e vale cada segundo seu. Me lembrou quando assisti pela primeira vez “Uma Verdade Inconveniente” de 2006.
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