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Resenha: Marada. A mulher-lobo (por Chris Claremont & John Bolton)

Não há dúvida quanto à qualidade gráfica e o primor no acabamento na publicação MARADA, A MULHER-LOBO, da editora Pipoca & Nanquim. É uma publicação de luxo, que conta com 112 páginas, capa dura, tamanho 22,5 x 30,5 cm, preço de capa R$ 54,90, gravuras da capa em alto relevo, e um detalhe em dourado nas páginas, o que faz essa publicação ser uma das mais lindas no mercado brasileiro, sendo objeto de desejo para os fãs que anseiam por um tratamento diferenciado no material que tem em mãos.

A editora Pipoca & Nanquim, dessa forma, manteve o elevado padrão pelo qual está se tornando famosa. Com obras como ESPADAS E BRUXAS, CANNON, MOBY DICK, BEASTS OF BURDEN – RITUAIS ANIMAIS e UM PEQUENO ASSASSINATO, a editora tem em MARADA, A MULHER-LOBO mais uma edição singular a ser posta na estande e dar orgulho a qualquer colecionador.

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Porém, tudo passa. A empolgação por ter um quadrinho de luxo passa, principalmente, quando há outro a ser comprado. A dedicação que o comprador tem ao analisar o acabamento gráfico da obra passa, em especial, no mercado brasileiro de quadrinhos de hoje, haja vista a enorme quantidade de material de luxo que desagua nas lojas especializadas. Dessa forma, o quadrinho, até então de luxo, se torna mais um na estande, onde o colecionador poderá contemplar a sua bela lombada ao lado de muitas outras.

O que fica e é guardado na memória afetiva do leitor é o conteúdo das páginas do quadrinho, seu roteiro, sua arte deslumbrante que faz com que o leitor se sinta impelido a lembrar daquela obra singular. Mas MARADA, A MULHER-LOBO, de Chris Claremont e John Bolton, consegue entrar nesse rol de histórias a serem lembradas, ou ficará apenas relegado a uma estante qualquer? Será merecedora de tanto esmero no quesito gráfico ou apenas mais uma história regular e logo esquecível?

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A resposta para solucionar tão difícil questão está na forma como o leitor interpreta o que são os quadrinhos. Se partimos do ponto de vista que quadrinhos são a junção do trabalho de roteiro, contado através de belos desenhos, que transmitem em imagens o que os autores tinham em mente ao desenvolver determinada trama, sim, MARADA, A MULHER-LOBO, é um excelente quadrinho. E não só isso, é um excelente quadrinho do gênero Espada e Magia.
Há que se observar que a obra é fruto da década de 1980, sendo lançada através do selo MAVEL EPIC, onde trabalhos autorais eram publicados pela editora, porém, os direitos sobre a obra eram dos autores. Nesse período, Chris Claremont estava no auge, pois era o roteirista do título dos X-men, tendo lançado a seminal Saga da Fênix Negra. O inglês John Bolton ainda era um ilustre desconhecido na época. Da reunião desses dois autores surgiu MARADA, A MULHER-LOBO, tendo sido publicado pela primeira vez em 1984 na revista Epic Illustrated 10. O leitor que tem a obra em mãos pode descobrir como foi criado esse quadrinho ao ler as introduções da editora do título original Jo Duffy e de Steve White.

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Como toda boa história do gênero de Espada e Magia, há uma excelente construção de mundo no qual estão inseridos os personagens. Acompanhamos Marada, a Mulher-Lobo, a maior guerreira que o Império Romano já conheceu, cuja menção do nome faz até mesmo os homens mais corajosos tremerem, uma mulher capaz de derrubar impérios, jaz alquebrada, derrotada, entregue e indefesa. Quem ou o quê teria sido capaz de dobrar os joelhos da espadachim dos cabelos prateados? (Sinopse oficial do quadrinho).

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Como se pode ver, Claremont mesclou as histórias de Marada do mundo real, usando como base o começo do Império Romano (inclusive, Marada é neta do imperador Júlio Cezar), com o universo característicos do gênero Espada e Magia.  Ou seja, nas histórias que fazem parte desse encadernado brasileiro encontramos demônios, feiticeiros, lugares exóticos, piratas e caravanas sendo atacadas. Tudo desenhado e colorido por John Bolton.
Estão presentes no volume as 03 únicas histórias da personagem: A espada estilhaçada, Caçada real e A farsa do bruxo. Interessante notar que as duas primeiras histórias foram publicadas em preto e branco, ganhando cores apenas muito depois quando a obra ia ser encadernada. O trabalho de Bolton é magnífico, já que há um esmero em respeitar os ambientes pelos quais estão sendo contadas as histórias. Dessa forma, o tom de preto é presente no primeiro conto (A espada estilhaçada); há calor passado pelas cores quentes quando a história se passa na África em Caçada real; e em A farsa do bruxo, única história originalmente colorida no momento de sua publicação, os tons de vermelho estão mais vivos.

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O texto de Claremont não foge ao que o gênero Espada e Magia sempre apresenta, somando, claro, com os típicos vícios do escritor (o leitor pode esperar o clichê: “Marada foi a mais valorosa das adversárias!”). Porém, o que se pode dizer a favor de Claremont é que o autor sempre dá um tom humano aos seus personagens, desde X-men. Mesmo acompanhando Marada pelo deserto africano, fugindo ao lado de Arianrhod, as dúvidas e aflições das personagens são mostradas de forma natural. Esse é outro ponto positivo da obra, se o leitor interpretar assim. A narrativa e o texto faz com que esse quadrinho não seja lido apenas em 15 minutos. A beleza da arte nos quadros, com a narrativa dos textos, nos fazem lembrar de como eram escritas histórias em quadrinhos antigamente, quando o ritmo cinematográfico ainda não havia dominado as hqs.

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Interessante notar que, mesmo sendo uma obra com mais de 30 anos, em MARADA, A MULHER-LOBO encontramos uma personagem feminina forte e decidida, mesmo estando alquebrada no primeiro conto que abre o encadernado. E é nessa parte que o texto de Claremont se destaca novamente, pois o retorno de Marada para sua forma guerreira não ocorre de uma forma súbita, sendo trabalhado a cada momento. Ou seja, essa é uma excelente trama para acompanharmos a jornada de uma heroína forte e a frente de seu tempo, seja no período histórico (em Roma), seja no momento de sua publicação (1984).

Infelizmente, nem tudo são flores nesse trabalho. Como dito, apenas 03 contos foram produzidos com a personagem e resgatados agora pela editora Pipoca & Nanquim. E isso causa um mal estar imenso ao leitor. Praticamente, a narrativa que estava se desenvolvendo é interrompida abruptamente, não podendo o leitor saber o final da jornada de Marada e nem mesmo alguns elementos que foram colocados na trama que seriam abordados no futuro, como o porquê da força mágica da personagem. E, talvez, nunca saibamos o final da história, já que seus autores não planejaram e não planejam um final para MARADA, A MULHER-LOBO.

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Sendo lançada em uma década que teve Monstro do Pântano, V de Vingança, Cavaleiro das Trevas e Watchmen, além, claro, da concorrência com seu parente distante e famoso Conan, Marada é uma saga que merece ser conferida pelos leitores que são fãs das sagas de Espada e Magia, não merecendo ser relegada a uma estande apenas para criar volume, pois o seu roteiro e arte trarão lembranças ao leitor, mesmo que seja um péssimo sentimento de que uma boa história foi interrompida quando chegou na metade.

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Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.