Título solo do Titã Louco tem seu maior destaque na arte do brasileiro Mike Deodato Jr
É inegável que o vilão Thanos sofre de transtorno dissociativo de identidade, coloquialmente chamado de dupla personalidade, pois, ao ser abordado por outros autores tem uma personalidade, e quando é abordado por seu criador, Jim Starlin, o vilão age de outra forma. O transtorno dissociativo de identidade (TDI) é uma condição mental em que um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio.
Dessa forma, quando é abordado por Starlin, Thanos é um dos seres mais inteligentes do universo, seu niilismo só se compara aos seus planos não de dominação global, mas sim de sua busca por poder que possa remodelar o universo ao seu desejo. Seja através da Manopla do Infinito, seja através de Cubos Cósmicos, como na saga original em que o herói Capitão Marvel participou na década de 1970.
Porém, quando é escrito por outros autores da Marvel, como Jason Aaron em A Ascensão de Thanos, o vilão tem seu lado sádico, de poucas palavras e violento aflorado, como se o motivo de se destacar como um dos seres mais perigosos do universo fosse o seu sadismo e o horror que espalha pela galáxia. O maior exemplo de roteirista que interpretou o Thanos dessa forma foi Jonathan Hickman na saga Infinito. Ali, o vilão espalhava o terror ao lado de seus subordinados, a Ordem Negra, em um mundo que estava sem proteção dos maiores heróis da terra, com o objetivo único de assassinar seu filho Thane.
Sabendo dessas duas abordagens que o vilão cósmico possui, uma sob a supervisão de seu criador e outra através do ponto de vistas de diversos autores, o leitor brasileiro pode se deparar com o lançamento de THANOS – THANOS RETORNA, publicação da editora Panini, e chegar a seguinte conclusão: O escritor Jeff Lemire é mais um a abordar o vilão como alguém sanguinário e que se impõe pelo terror.
Na história, temos Thanos voltando ao seu local de domínio, o Quadrante Negro, e tendo que recuperar o seu reinado das mãos do seu antigo subalterno Corvus Glaive. Usando de muita violência, o Titã Louco tem outro inimigo que o preocupa: uma doença mortal, que, como um câncer, o consome e o enfraquece. Enquanto isso, seu filho Thane, ao lado de Nebulosa (com um visual saído diretamente dos filmes dos Guardiões da Galáxia), Starfox (irmão de Thanos) e Tryco Slstterus, buscam um meio de acabar de vez com a vida do vilão, nem que tenham que bater de frente com Terrax, outrora arauto de Galactus.
Percebe-se que o roteiro de Lemire é muito influenciado pelo trabalho de Jonathan Hickman, usando quase toda a base de coadjuvantes que foram criados na saga Infinito.
A história é direta e chega aos seus destinos rapidamente, desde a doença de Thanos até a busca da cura pela mesma. E essa é a parte que realmente incomoda quem conhece o personagem. O vilão tem uma relação umbilical com a Morte (entidade do universo Marvel), sempre buscando o seu afeto e a sua companhia. A busca pela cura da doença é feita de forma muito direta, não ocorrendo questionamentos interiores que expliquem porque Thanos quer viver a todo custo, tornando o vilão apenas um rolo compressor que encara seu pai, enfrenta a Guarda Imperial Shiar, tem que fugir de uma cadeia e é confrontado por Thane. O fator psicológico que sempre rendeu mais nuances ao personagem desaparece no texto de Lemire. E o mesmo pode ser dito dos outros personagens. As motivações de Thane, Nebulosa e Starfox não são bem trabalhadas, porém, sendo apenas claras, já que eles apenas querem porque querem acabar com Thanos, como muitas vezes tiveram chance e falharam.
E por falar em motivações, Thanos vem sofrendo da falta delas há bastante tempo na Marvel. Na Totalmente Nova e Diferente Marvel (iniciativa da editora), o vilão já apareceu sendo detido pelos heróis da Terra no começo de Guerra Civil II, quando foi preso por tentar roubar um Cubo Cósmico, e libertado por Hela, deusa asgardiana da morte, na minissérie O Indigno Thor.
Porém, se o roteiro deixa a desejar quando se trata de aprofundar as motivações dos personagens, o leitor é brindado com os excelentes desenhos do brasileiro Mike Deodato Jr. E é nesse ponto que a revista brilha. Se a trama é direta e com várias cenas de ação desenfreada envolvendo seres de nível cósmico, Deodato acerta na mão ao fazer com que Thanos mal caiba nas páginas, mostrando a imponência do vilão e sua força, mesmo estando abatido pela doença.
A ação é grandiosa e condizente com o texto, fazendo com que a composição de quadros das páginas auxiliem nos momentos de diálogos e, principalmente, nos momentos de ação. As cores ficaram por conta de Frank Martin, costumaz colaborador de Deodato.
Porém, não é bom o leitor se empolgar. Deodato não fica muito no título, já que o desenhista foi chamado para ilustrar a nova fase de O Velho Logan. É uma pena, mas os desenhos dele em THANOS – THANOS RETORNA fazem valer a pena o encadernado.
Contando com um roteiro pouco inspirado e que não aprofunda a motivação de seus personagens, THANOS – THANOS RETORNA é mais uma história do Titã Louco que abusa de seu lado violento e sádico para mostrar o porquê o nome Thanos é temido no universo. Pelo menos, a arte compensa e muito ler essa história.
Nota:
Roteiro: 06/10. Com um roteiro que não aprofunda as motivações dos personagens, THANOS – THANOS RETORNA está longe de ser uma das melhores histórias com o personagem.
Arte: 09/10. Com cenas de ação incríveis e um Thanos tão imponente que nem cabe nas páginas, Mike Deodato Jr. é o grande responsável por fazer valer a pena esse quadrinho.
Narrativa: 07/10. Roteiro e, principalmente, arte criam cenas de ação muito boas, apesar do pouco desenvolvimento dos personagens.
Acabamento da edição nacional: 7/10. A Panini lança uma edição burocrática, como vem fazendo com outros encadernados da fase Totalmente Nova e Diferente Marvel, como Gavião Arqueiro, por exemplo. Contando apenas com as capas originais e algumas capas extras, THANOS – THANOS RETORNA não possui nem mesmo um resumo contextualizando o atual momento do vilão.
Nota Final: 7,25/10.
Ficha Técnica:
Formato: Americano (17 x 26 cm)
Lombada quadrada
Preço de capa: R$ 21,90
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Boa análise e bom texto. Vai influenciar na minha decisão em adquirir ou não esse exemplar!