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Resenha | NADA A PERDER (Jeff Lemire)

NADA A PERDER É UMA PUBLICAÇÃO QUE TRAZ O MELHOR DA ESCRITA DE JEFF LEMIRE: O DRAMA DAS RELAÇÕES HUMANAS E O CONFLITO COM O PASSADO

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Após os lançamentos de Condado de EssexO Soldador Subaquático Black Hammer, o nome de Jeff Lemire vem crescendo no meio dos quadrinhos, sendo sinônimo de qualidade quando faz tramas autorais, mais focadas no lado humano. É dessa forma que mais uma trabalho do quadrinista canadense chega ao público brasileiro, dessa vez, através da editora Nemo: NADA A PERDER.

Ao leitor que conhece o trabalho de Lemire em outras publicações sabe o que pode esperar: uma trama muito focada no drama de seus personagens (explorar o lado humano dentro da narrativa é claramente o forte do autor), a ambientação que chega a ser inóspita (aqui, como em Condado de Essex, Lemire ambienta a trama em seu país natal, o Canadá, país onde o norte gelado é opressor), ter que lidar com os fracassos pretéritos ou os dias de glória que já se foram, e o hóquei (esporte popular no Canadá, e conhecidamente violento).

Nada a perder (ou Roughneck, no original, que seria uma gíria para trabalhador que usa da força bruta e que, também, é muito usado pelas equipes de esporte para significar trabalho pesado) trata da história de Derek Oulette, antigo jogador de hóquei que, após ter alcançado uma relativa fama no esporte, vive uma vida miserável em uma cidadezinha no Canadá. Acostumado a responder com violência à qualquer provocação, Derek vive no armário do zelador do estádio de hóquei local, relembrando o passado, enquanto tem problemas com a polícia por causa de suas atitudes violentas. Até que o passado reaparece e ele precisa fazer algo para ser alguém melhor e, com isso, salvar da perdição a única parente que ele ainda se importa nessa vida.

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Com o resumo da obra, percebe-se que Nada a perder não vai economizar nas situações onde o drama será intensificado. E o leitor que pensar que o excesso de dramatização transforma a obra em algo maçante está muito errado. Jeff Lemire é muito hábil em fazer com que a trama avence enquanto trabalha seus personagens, sendo quando dá pistas sobre os passados dos mesmos ou quando cria uma simbologia muito forte em suas imagens (note a figura do cachorro que sempre acompanhará o personagem e como o animal faz parte de dois traumas que arruinaram a vida de Derek Oulette).

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O autor, como faz na maioria das suas obras, com exceção de Black Hammer, assume os desenhos da obra também, e aqui faz o seu melhor trabalho, estando a qualidade dos desenhos muito acima de Condado de Essex, por exemplo, que é a obra mais premiada de Lemire. Os desenhos em quadros, quando a história precisa, dão lugares a enquadramentos tortos, páginas inteiras são usadas para destacar determinada ação e, principalmente, a uma interessante transição de cores devido aos acontecimentos da história.

Sem dúvida, ao lado do roteiro, a colorização usada por Lemire é o ponto alto da obra. Usando as cores azul, cinza e um branco opressor, Lemire consegue estabelecer bem o ambiente de ruína emocional e frieza que seus personagens se encontram. Porém, o destaque é mesmo para quando o passado é apresentado para os leitores. Saem de cena as cores do inverno canadense e entra as cores fortes, dando um sentimento de calor à obra, como se o passado fosse mais acolhedor que o presente miserável. A colorização é tão importante que quando há um acidente que muda o destino da trama, as cores parecem se esvair, dando lugar ao branco.

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Porém, se a cor branca se destaca na obra, o vermelho também. Usado não só para ilustrar a cor do sangue, o vermelho é sinal de perigo constante para os personagens, até mesmo quando surge um indivíduo  que pode arruinar os planos de Derek em salvar a única parente pelo qual ele se esforça o vermelho está presente nas cores da camisa do “vilão” da trama. É genial a transição entre cores, podendo chegar até a ser comparado com o trabalho que Sin City, de Frank Miller desenvolveu lá nos anos 1990, onde tudo era em preto e branco até que uma cor, como o vermelho, entra-se para demonstrar alguma sensação.

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O trabalho da editora Nemo é apenas bom, mas com algumas escorregadas, fazendo com que a edição nacional de Nada a perder seja apenas regular. Não contando com numeração de páginas, um editorial que apresente a obra, nem mesmo a data de lançamento original da mesma, o volume brasileiro não conta com nenhum extra, apenas um páginas de agradecimentos de Lemire e uma rápida biografia na orelha do livro, além de elogios à obra.

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Contando com um roteiro carregado no drama, mas que não se torna maçante em nenhum momento, Nada a perder pode ser colocada lado a lado com os outros excepcionais trabalhos de Lemire, como Condado de Essex. Os desenhos e a transição de cores fazem desse um dos trabalhos mais completos do autor e uma leitura essencial aos leitores já fãs do quadrinista canadense e para aqueles que querem acompanhar uma boa história de drama pessoal.

Cover Image

Ficha técnica:

  • Capa comum, com orelhas
  • 272 páginas
  • Editora: Nemo
  • Lançamento: 8 de maio de 2018
  • 22,6 x 17,2 x 1,6 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.