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Resenha | O Ninguém de Jeff Lemire (Editora Pipoca & Nanquim)

Em O Ninguém, Jeff Lemire adapta O Homem Invisível de H.G. Wells em um quadrinho que toca em temas comuns ao escritor canadense: personagens trágicos e a melancolia passada pelo local onde se passa a história. O que faz com que esse encadernado lançado pela editora Pipoca & Nanquim seja mais uma excelente leitura, apesar dos vários pontos em comuns com outras obras do escritor, como Nada a Perder e Condado de Essex.

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Uma obra de Jeff Lemire para chamar de sua. Essa é uma ótima anedota que as editora brasileiras que publicam quadrinhos devem contar. O autor canadense é uma máquina de produzir hqs.

A Panini tem Sweet Tooth, Trilium e vários outros, como Arqueiro Verde e X-men. A Mino tem O Soldador Subaquático, Condado de Essex, Gideon Falls e Apanhadores de Sapos. A Nemo tem Nada a Perder. A Intrínseca tem Descender e Black Hammer. E, agora, o pessoal do Pipoca & Nanquim tem O Ninguém em seu catálogo.

Se formos pegar as publicações de Lemire em solo brasileiro, veremos que nos últimos anos ele é o autor mais publicado no país quando se fala de quadrinhos.

Mas quantidade não significa qualidade. Porém, para sorte dos leitores, Lemire mais acerta do que erra. E pode-se dizer que ele não errou em O Ninguém, mesmo que ele tenha utilizado de elementos que podemos dizer que são a sua zona de conforto: drama humano que se passa em um lugar melancólico, que afeta seus personagens.

O escritor adapta a obra de H.G. Wells , O Homem Invisível, transportando os personagens do século XIX para os anos 1990, na isolada cidade de Boca Larga. Nessa cidade ao norte, retratada sempre em tons de azul, os quais reforçam a ideia de tristeza e abandono pelos quais os personagens passam, um homem com faixas da cabeça aos pés chega, querendo o que o lugar mais pode propiciar: isolamento!

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Porém, a estranheza de sua condição e a curiosidade de uma adolescente não o deixará cuidar de reverter a sua condição, já que John Griffen está invisível, tendo um segredo que, também, está envolvido com seu isolamento, além de sua condição fantástica.

Se o leitor conhece a obra original de H.G. Wells, é bom esquecer as discussões morais e a falta de moralidade de Griffen. Lemire está interessado no drama de seus personagens, como o fez em obras anteiores, mesmo que para isso tenha que transformar Griffen em um ser trágico e, não,  o amoral do livro de 1897.

Para falar a verdade, todos os personagens estão em uma sintonia só, a da tristeza. Seja pelo que aconteceu com Griffen e o que ele fará para continuar se escondendo, ou até mesmo com Vick, a adolescente que foi abandonada pela mãe e que tem planos de sair de Boca Larga (mesma atitude de sua genitora).

O drama norteia O Ninguém, não as escolhas morais de seus personagens.

Porém, é inegável que a história é muito bem contada e atrai o leitor, mesmo em apenas 156 páginas e com a evidente falta de camadas que os personagens necessitariam para nos aprofundarmos em seus dramas.

É interessante como Lemire usa um traço cartunesco, fazendo com que seus personagens sejam “feios”, podendo o leitor até pensar que os desenhos são mal feitos. Mas esse é o estilo do desenhista/escritor, que mostra um incrível domínio sobre a narrativa através da transação dos quadros da história. Basta o leitor acompanhar as páginas onde Griffen conversa com Vick, enquanto uma borboleta voa pelos dois. Esse é só um de vários exemplos que o leitor que quer extrair mais da obra perceberá o quanto é fluído o traço.

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A edição da editora Pipoca e Nanquim manteve o alto padrão que tem publicado as obras que fazem parte de seu catálogo. Em capa dura, a edição conta com as capas originais, um excelente texto do editor Alexandre Callari e uma biografia completa de Jeff Lemire.

No final das contas, O Ninguém é mais uma história com assinatura peculiar de Jeff Lemire, com os elementos comuns ao autor, que pega apenas a ideia do personagem principal de O Homem Invisível de H.G. Wells, nos mostrando uma boa trama sobre solidão e tristeza, mesmo que várias facetas sobre a moralidade presentes na obra original tenham sido descartadas.

Ficha Técnica

  • Capa dura, com 156 páginas
  • Editora Pipoca & Nanquim
  • Lançamento em junho de 2019
  • Preço de capa: R$ 59,90
  • Tamanho: 26,2 x 17,2 x 1,4 cm
Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.