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Janeiro Literário | Um Dedo de Prosa, Por João Luiz

Ilustração: Bernardo Aurélio

O convidado de hoje sou eu, o João Luiz (Pikachu), segundo o editor do Janeiro Literário, esse espaço é mostrar os talentos literários locais. Bem, não sei como cheguei aqui, mas vamos lá.

 

Arlequim

“A Vida de um Arlequim buscando seu coração”

 

– O Senhor da Noite –

 

Arlequim nasceu sem coração. Por causa disso, vivia sempre triste. Ninguém da sua família gostava dele, falavam que o mundo já estava cheio de tristezas, não queriam mais um triste em suas vidas. Quando completou 12 anos num sábado frio e cinzento, arlequim resolveu ir embora para um lugar que pelo menos as pessoas falassem com ele, um lugar onde sua existência era percebida.

 

Então, caminhou… Caminhou até encontrar depois de vários dias, uma pequena cidade, seus habitantes eram todos tristes e de olhar vago, aquele olhar que sempre busca por uma coisa, mas se desvia facilmente e acaba perdendo o que buscava. Arlequim achou que aquela cidade era o lugar que ele procurava. Os habitantes o mandaram embora da cidade, disseram para ele procurar outro lugar, pois eles na verdade, estavam procurando e esperando uma coisa chamada e esquecida para eles de felicidade, e não mais um triste.

 

Arlequim ficou ainda mais triste e chorou durante vários dias sentados numa pedra. Percebeu que seu mundo era cinza, felicidade não existia mais para ele e ninguém, achava que ela, a felicidade, tinha morrido. Até que no terceiro dia aparece uma garota.

 

Ela perguntou por que ele estava tão triste e sozinho naquele lugar. Ele falou sobre sua vida ate o dia que parou naquela pedra para chorar a amargura de nascer num mundo cinza e de viver tão sozinho. A garota disse que sabia a resposta para todos os problemas do arlequim, de suas tristezas e o lugar que procurava.

 

Arlequim ficou muito curioso com aquela garota. Uma menina magra de cabelos cacheados loiros, usando um vestido de babados suja e maltrapilho. E aquele olhar. O olhar mais profundo que arlequim já viu na sua vida. Como, como uma garota que saiu do nada poderia saber as respostas para ele que já buscava por tanto tempo. Ele pediu a resposta para aquela garota. Ela disse que daria a resposta se ele fizesse duas coisas para ela. Arlequim nunca tinha conversado tanto com uma pessoa, por causa disso, e também porque queria a resposta topou fazer os pedidos da garota.

 

O primeiro pedido da garota era para ele visitar uma casa muito especial. A casa do Senhor da Noite, a última casa do lado norte do mundo. Chegando lá, teria que perguntar para o senhor da noite por que existia noite, se sempre o dia era melhor para se viver. Arlequim disse que não conhecia o caminho para a última casa do lado norte do mundo, não tinha certeza que isso existia realmente, se existisse, será que o Senhor da Noite iria recebê-lo realmente? A garota disse que era só deixar o sol do lado esquerdo e seguir para o norte, sempre. Falou ainda, que quando ele soubesse a resposta era para voltar para a mesma pedra onde estavam conversando. Ela estaria esperando por ele.

 

Então arlequim partiu ainda suspeitando daquela garota e se senhor da noite existia de verdade. Ele queria aquela resposta, mesmo que no final, ela fosse apenas uma brincadeira de uma menina suja e de olhar longe. Andou sempre mantendo o sol ao lado esquerdo, ele havia se esquecido de perguntar o porquê daquilo, mas já estava distante para voltar e atrasar sua viagem resolveu que iria perguntar quando voltasse. Passado vários dias, arlequim sentiu que o sol estava ficando cada vez menos brilhante, no décimo oitavo dia o sol desapareceu. Arlequim desesperou-se com aquilo, achou que estava perdido com toda aquela escuridão sem fim. Sol era sua referencia para manter o caminho certo, e também, por causa da luz. Andar por aquelas bandas era quase insuportável, era um caminho seco e cinzento. Pare ele, no seu caminho não viu uma pessoa sequer ou animal, a paisagem era solitária demais.

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Pensou em voltar, mas achou que complicaria mais as coisas, pensou em gritar por socorro, melhor não gritar, apesar de não ter visto ser nenhum ate aquele momento, talvez existisse por aquelas bandas criaturas que ficavam na espreita para pegar uma presa como ele, sem nada para se defender. Então teve uma idéia para afastar aqueles pensamentos negros. Resolveu cantar. Enquanto seguia, percebeu uma coisa que ele ainda não tinha percebido, apesar de toda escuridão. Havia as estrelas. Na verdade uma Estrela. Quando ele era mais novo encontrou um livro no lixo, esse livro continha histórias sobre estrelas, principalmente sobre a estrela polar, a partir desse dia passou a admirar as estrelas, pois sentia que elas também eram sozinhas. Lembrou que no livro continha músicas sobre estrelas, a que ele mais gostava era sobre a estrela polar, ele costumava canta-la quando ficava sozinho na noite fria. A música é assim:

 

Quando estou sozinho ela me guia
Quando estou perdido ela me leva
Estrela, estrela brilhante,
Brilha para os sozinhos do mundo

Ó, estrela me leva com você
Ó, estrela brilhe para mim
Mas você tem nome
Será que posso dizer?

Estrela, estrela brilhante,
Brilha para os sozinhos do mundo
Ó, estrela brilhe para mim

Agora posso chamar você?
A mais brilhante no céu da noite
Sim, e seu nome é polar
A estrela polar do norte

 

Norte? É isso! Falou arlequim, era sé seguir a estrela polar que ela te guiava para o norte. Seguindo a estrela e cantando a música, arlequim seguiu sua viagem.

 

Quando completou 31 dias de viagem, arlequim avistou uma grande casa. Era toda branca, ficava entre duas grandes arvores que eram também brancas. Quando se aproximou da daquela casa branca, observou que por detrás dela, não havia mais nada, nem chão, nem estrelas, só o escuro mais preto que arlequim tinha visto na sua vida. Achou que ali seria a última casa do lado norte do mundo. Da casa saiu um homem. Estava vestindo um manto branco que irradiava uma luz branca opaca. Quando arlequim o viu levou um grande susto, pois viu majestade e poder naquela pessoa que estava parado na porta daquela casa branca, não queria acreditar naquilo.

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O homem acenou para ele se aproximar mais. Apesar de receoso ele fez o que o homem estava pedindo.

 

Quando estava bem próximo do homem, viu que ele era muito belo. Tinha cabelos brancos que vinha ate no meio das costas, olhos negros e sábios, uma feição de uma pessoa que viveu muito e não se espanta com as coisas do mundo, uma feição serena e calma.

 

Ele sorriu para arlequim e pediu para ele entrar em sua humilde casa. Arlequim fez isso sem pensar duas vezes, achou que seguiria aquele homem para qualquer lugar do mundo. Quando entrou na casa, observou que ela era bem humilde. Possuía uma grande sala com uma mesinha no meio, três cadeiras numa das paredes, havia um arco que divida a sala em outra sala menor, ela possuía uma mesa empilhada de papeis e uma pena num tinteiro, do lado esquerdo desse quarto havia outra porta. O homem levou arlequim para aquela porta. Era a cozinha. Tinha uma mesa com duas cadeiras num canto, um fogão a lenha no outro canto, em cima do fogão havia uma chaleira fervente.

 

O homem o conduziu para a mesa e o fez sentar em uma das cadeiras. Tirou a chaleira do fogo e serviu numa xícara para arlequim, colando umas folhas. Depois tirou das costas um bolo, arlequim estava muito cansado para perceber isso. Ele pediu para arlequim comer e beber, iam o fazer ficar melhor. Arlequim comeu e bebeu num só gole, havia dias que só comia raízes que encontrava no meio do caminho. Aquele chá e bolo era a coisa mais gostosa que ele havia provado na sua vida. Enquanto o homem apenas ficava olhando para ele com aquele sorriso maroto no rosto.

 

Então ele falou: – o que traz você aqui menino arlequim, um lugar tão longe para uma criança da sua idade?- Sua voz era bem suave, mas continha um jeito de falar mais nobre. Arlequim achou que aquele homem gostava de cantar, pois aquelas palavras saíram mais cantadas do que faladas. Arlequim apenas olhou para aquele homem, como ele sabia seu nome? Isso está meio estranho, mas afinal de contas, o que era o termo estranho naquele local? Pensou arlequim. Arlequim perguntou como ele sabia o seu nome. O homem apenas riu outra vez e falou que esperava a chegada dele. Ele havia apenas falado aquilo por causa das boas maneiras de receber uma pessoa que caminhou muito tempo.

 

Arlequim finalmente perguntou como era o nome daquele homem. Ele disse que se chamava Senhor da Noite, mas arlequim poderia chamá-lo apenas de? Noite. Arlequim disse que achava que o senhor da noite era apenas historia para fazer as crianças ir dormir mais cedo. O senhor da noite apenas sorriu daquilo. Disse que sabia dessas historias onde ele parecia um bicho-papão horripilante. Disse que arlequim precisava descansar, pois sua viagem foi longa e solitária. Aquelas palavras pareciam que eram mágicas, pois arlequim sentiu um cansaço que nunca teve sua mente só pedia por um canto qualquer para dormir, ate mesmo aquela mesa servia. E adormeceu ali mesmo. Continua….

 

Texto: João Luiz

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.