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A Máfia dos Tigres revira o lixo branco dos Estados Unidos da América.

Ao mostrar o absurdo que é a falta de regularização na criação de grandes felinos nos EUA, A Máfia dos Tigres, da Netflix, se foca em figuras excêntricas do sul americano. Em um documentário onde o white trash tem em Joe Exotic sua figura central, um caipira de mullet que é o símbolo de uma América paranoica, armamentista e midiática.

Imagem de A Máfia dos Tigres.
A Máfia dos Tigres nos apresenta uma fauna de personagens mais perigosos do que felinos de 200 kg e dentes de 8 cm.

US$ 5.000,00 (5 mil dólares). Na cotação da data deste texto, aproximadamente R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais). É esse o preço que um estadunidense pagaria para ter um tigre, um grande felino, que corre o risco de entrar em extinção, como seu animal doméstico.

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Mas o preço, relativamente, barato não é só a informação que mais causa estranheza em A Máfia dos Tigres. Somos informados que, só nos EUA, existem cerca de cinco a dez mil grandes felinos em cativeiro. Sabe quantos existem no mundo todo na natureza? Em torno de 4 mil.

Pra falar a verdade, os tigres e esses números bizarros, além da falta de controle por parte do governo americano em regular a criação desses animais, serão o fator menos bizarro em A Máfia dos Tigres, documentário sensação da Netflix que estreou em março de 2020.

Não, o principal interesse do telespectador que assistirá o documentário/série serão os personagens desse “mercado”, em especial, Joe Exotic, uma espécie de Beetlejuice white trash de mullet e gay, que hipnotiza quem assiste A Máfia dos Tigres pelas suas excentricidades, paranoia e atitudes psicopatas.

Imagem de A Máfia dos Tigres
Além de estrela de A Máfia dos Tigres, Joe Exotic se empenha em sempre ser o centro das atenções.

A série/documentário da Netflix em 7 episódios, além de nos apresentar o já citado mercado de grandes felinos nos EUA, acompanha a história de Joe Exotic e outros criadores de tigres na América do Norte. Sempre com um episódio que gira em torno de um simbólico título (“Não é um cara qualquer“, “Culto à personalidade” e “Destronado“, por exemplo), A Máfia dos Tigres nos mostra uma sociedade interconectada de conservacionistas e colecionadores de grandes felinos, mostrando os zoológicos e santuários privados, onde se criam esses animais de estimação bem mortais.

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Joe Exotic é o centro da série. Ele é o dono do G.W. Zoo, zoológico que criou em homenagem ao falecido irmão e que chegou a ter mais de 300 grandes felinos, em especial, tigres. Ao explorar em passeios e shows, principalmente em shopping centers, os felinos, Joe chama a atenção de  Carole Baskin, protetora dos animais e dona do Big Cat Rescue, santuário de proteção. Os dois entram em uma batalha ferrenha, que envolve e-mails que prejudicam Joe em seus tours por shopping, vídeos nas redes sociais de Joe afirmando com frequência que matará Carol e a crescente paranoia de Joe, que beira ele ser um stalker de Carol, mesmo ele sendo gay.

Sim, Joe Exotic é um homossexual, com dois maridos, em um estado conservador como é o Oklahoma. O que mostra o quanto esse personagem autodestrutivo é magnético, pois suas atitudes são as típicas de caipiras americanos que vemos nos filmes. Branco, cantor country, com mullets (cabelo rabo de cavalo, mas aparado dos lados, símbolo do white trash americano) e amante de armas, Joe é um show de maluquices que transcorrerão pelos 7 episódios principais da série. Duvida como você não vai conseguir tirar os olhos dessa série da Netflix? Olhem esse vídeo abaixo de 3 minutos seguidos de puro ódio de Joe contra Baskin.

Tudo cairia num conflito hermético de bem contra o mal, de um lado, aquele que explora os animais, do outro, a preservacionista protetora dos grandes felinos, se essa fosse uma série comum. Sim, cairia, se Carole Baskin não fosse suspeita, e o documentário dedica um episódio todo para isso, de assassinar seu marido mais velho e roubar a herança dele. Você leu correto, Joe Exotic não é o único personagem maluco mostrado aqui, outros são parte dessa história, como Baskin, que utiliza de um sistema onde ela também explora animais para enriquecer, explorando, também, mão de obra voluntária.

Além de Exotic e Baskin, aparecerão na série um traficante que, esse sim é comprovado, deu um informante para os tigres comerem; um dono de zoológico que cria em torno de si um culto, onde belas mulheres são aliciadas para o seu círculo de influência; um caipira dono de zoológico de beira de estrada; um dono de um bar de stripper; um produtor que quer fazer um reality show sobre Joe Exotic; e um golpista de fala mansa, mas que passa a perna em todos que encontra.

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Personagens de Tiger King.
Os personagens de A Máfia dos Tigres são tão chamativos quanto Joe. São as entranhas de uma América midiática e sem regulação.

Porém, se todos os personagens “brilham” nessa trama rocambolesca e destrutiva, Joe Exotic é o dono do picadeiro. É uma pena que a tradução para o Brasil do título do show tenha perdido esse impacto. Tiger King, nome original da série/documentário da Netflix, significa rei tigre, e é isso que Joe é. O animal central dessa narrativa trágica. Seja aliciando seus maridos, que nem como homossexuais se identificavam, pois eram fisgados pelos vários presentes de Exotic, ou usando as redes sociais como trampolim para o seu ódio contra Baskin, o personagem tem um trágico final, vítima de sua paranoia e loucura.

Mas nisso a série deixa uma ponta de dúvida, mostrando o quanto é complexa, sendo hábil ao explorar várias facetas da trama. O telespectador sairá de A Máfia dos Tigres com a impressão de que armaram para Joe e mais fatos virão (uma segunda temporada, talvez?), já que tudo é muito nublado e rápido quando envolve a condenação de Exotic.

E aqui vai uma opinião bem sincera: sorte dos americanos que Joe foi preso. Como mostrado na série, ele conseguiu 19% dos votos na eleição para governador do Oklahoma. Um sujeito desequilibrado, mas que você não consegue tirar os olhos, poderia vir a ser um importante ocupante de cargo público, mostrando como as redes sociais, e ser anti sistema político, elege figuras nefastas como Trump e Bolsonaro nos tempos atuais.

Imagem de Trump e Tiger King.
Se você não sabe como um empresário fanfarão conseguiu ser o presidente da maior potência ocidental, A Máfia dos Tigres explica como figuras exóticas e anti sistema político podem crescer a ponto de conseguir milhares de votos.

Um oitavo episódio estreou em abril de 2020, mas, aqui, nos é apresentado apenas o ator Joe Mchale entrevistando quem apareceu no documentário. É bem dispensável esse episódio e não conta com a presença de Joe Exotic, o que pode diminuir o interesse dos espectadores, fazendo com que esse extra seja mais uma forma da Netflix manter o interesse sobre a série em alta devido ao grande sucesso. É bem dispensável.

A Máfia dos Tigres é daqueles documentários que é tão absurdo que só poderia ser real. Centrando em seu personagem mais chamativo e que a personifica, a série é um espelho dos EUA recente, que ganha as notícias pelo mundo: armamentista, absurdo, destrutivo e midiático. Tanta destruição e loucura nos prendem e nos fazem não tirar os olhos dos 7 episódios originais na Netflix.

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.