https://www.youtube.com/watch?v=mM6Ezis2sPQ
Antes de tudo, deixa logo eu dar a notícia.
Agora, por que você deve ir? Pra responder, deixa eu contar uma história sobre cenas, luz, sexo, drogas, muito sangue e nanquim…
Como passei tanto tempo sem conhecer Vigor Mortis? Só pode ser o grande descaso do público brasileiro com relação ao que nós mesmo produzimos. Mas vamos do princípio.
Na nossa livraria Quinta Capa Quadrinhos, tenho os dois volumes de Vigor Mortis Comics. Lembro de ter visto algum comentário elogioso sobre o quadrinho em algum site especializado, mas sabe como é, a gente tem tantos “narutos” e “batmen” na vida pra ler, porque iríamos nos dedicar a um gibi nacional do qual, efetivamente, nunca havia ouvido falar ou lido sobre? Então eles ficaram lá, na prateleira…
Nas últimas semanas, movido por um sentimento de angústia, separei alguns quadrinhos nacionais para ler, aqueles que, aparentemente, ninguém notava e decidi lê-los e resenhá-los. Foi nesse processo que “descobri” o Memória de Elefante (leia a crítica aqui). Depois, entre uma leitura e outra, que realmente mereciam o esquecimento, separei o Vigor Mortis Comics. Fiquei, particularmente, encantado pela capa do volume 2: uma montagem belíssima de um rosto feminino morto, com o sangue escorrendo pelo nariz formando o título do gibi.
Quando comecei a ler o primeiro, fui descobrindo do que se tratava: um grupo plural que transborda por várias mídias. Começaram em 1997 e, segundo uma busca rápida por notícias, são responsáveis por quase 3 MIL MORTES em cena, no teatro, onde o grupo começou. A mente por trás disso é a do diretor Paulo Biscaia Filho. Ele faz teatro, unindo o que há de melhor do trash do cinema, inspirando-se no Théâtre du Grand Guignol (do início do século XX, especializado em horror naturalista), o resultado são peças sobre policiais que bebem sangue, desenhistas com problemas de perspectivas, atrizes pornôs em cenários noir, um cataléptico vendedor de seguros e zumbis em busca de amor.
Em 2011, o grupo resolve lançar as versões dos seus personagens para os quadrinhos. E lá estão todos eles, com a facilidade espaço-temporal que os gibis podem oferecer em comparação ao palco dos teatros. À medida que lia, ficava pensando: “como diabos Biscaia consegue fazer isso no teatro?” Tem uma história sobre uma sombra viva que é uma espécie de monstro de ficção científica! Mas talvez ela só apareça no gibi, já que não conheço os espetáculos. Fiquei, realmente, muito curioso.
O segundo volume de Vigor Mortis é mais interessante que o primeiro (pelo menos, na minha opinião). Quando, no anterior, temos várias pequenas histórias apresentando seus bizarros personagens, o segundo é todo focado na desbocada Bruna Bloch, estagiária de jornalismo vivendo entre transas, drogas e crimes. A personagem é tão cativante, que, poucos anos depois tornou-se protagonista do filme Nervo Craniano Zero, interpretada pela Guenia Lemos
.
Nervo Craniano Zero nem é o primeiro filme de Biscaia, adaptado de seu universo cênico, mas trata-se de um marco na produção do diretor, pois foi um grande sucesso entre os festivais de vídeo que participou, chegando a vencer prêmios no exterior, como Califórnia, Estados Unidos e Uruguai. Fez tanto sucesso que permitiu a realização de Virgens Acorrentadas como uma produção internacional de parceria EUA x BRA. Virgens Acorrentadas recebeu o convite de produtores norte-americanos depois de assistirem seu filme anterior [Nervo Craniano].
Segundo Douglas Machado, cineasta e organizador das sessões do Teresina Shopping, “Paulo Biscaia é um mestre em filme de terror, especialmente “slasher” – aquele que envolve um assassino psicopata perseguindo e matando uma série de vítimas de maneira violenta, frequentemente usando instrumentos cortantes, embora possa ter certas variações”.
O que mais importa para nós, amantes de gibis, é experienciar a obra de Biscaia, procurando entender a pluralidade de gêneros e linguagens em que o autor trabalha, unindo cinema, quadrinhos e teatro, numa grande festa semiótica, com muito sangue e garotas bonitas.
Outro de seus filme é Morgue Story, confira o trailer:
Se você gostou do que viu, se você simplesmente ama Bruce Campbell com aquela moto serra na mão, bizarrices grotescas e humor sangrento, não pode faltar ao Teresina Shopping nessa sexta feira e bater um papo com o diretor disso tudo!
Só não se esqueça que o filme chama-se “Virgens Acorrentadas”! Depois não diga que não avisei!
ficha técnica
sinopse
Uma jovem equipe de cinema, filmando um filme de horror de baixo orçamento em um orfanato abandonado, descobre que uma família de assassinos sádicos reescreveu o roteiro do filme.
1 Comment