Os quadrinhos são uma das mídias que tiveram as maiores transformações durantes suas décadas de existência. Mesmo nos anos 30 e 40, os gibis estavam constantemente traduzindo, transformando e informando dentro dos limites do que era considerado aceitável. Nos anos 50, a natureza progressiva dos quadrinhos teve um ataque por causa da Comics Code Authority, que instituiu muitas regras e regulamentos que procuravam sufocar personagens ou histórias consideradas “inadequadas”.
Mas escritores e artistas de quadrinhos perseveraram, criando seus livros como um reflexo da sociedade. Graças à sua visão de futuro, hoje há mais diversidade em quadrinhos do que praticamente qualquer outro meio. Embora tenha havido muitos personagens ao longo dos anos que vêm de todas as esferas da vida, analisamos alguns dos críticos pesados nos quadrinhos que também se identificam como lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros.
Ontem, dia 06, po volta do meio dia, funcionários da prefeitura do Rio de Janeiro foram à Bienal do Livro realizar uma fiscalização.
A ação acontece no dia seguinte ao prefeito Marcel Crivella mandar recolher o encadernado Vingadores – A cruzada das crianças, no qual dois personagens gays se beijam, alegando “conteúdo sexual impróprio para menores”. Entretanto, a edição não possui conteúdo sexual. A organização do evento repudiou a decisão e se negou retirar o produto, logo em seguida, em menos de uma hora que o evento estava aberto, o produto estava esgotado.
Samir Naliato do Universo HQ, escreveu uma nota:
Os fiscais estavam acompanhados do subsecretário de operações da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP), o coronel Wonley Dias. Segundo ele, a vistoria acontecia para buscar material pornográfico.
“A prefeitura tem poder de polícia para isso. Se o material não estiver seguindo as recomendações, será recolhido. Estamos cumprindo orientação da procuradoria da prefeitura, não é censura”, disse ele a jornalistas no local. Entretanto, não deu detalhes ou parâmetros do que seria considerado conteúdo pornográfico e cabível de apreensão, o que abre um precedente perigoso.
Diversos estandes foram abordados, inclusive a Comix, especializada em vender exclusivamente quadrinhos.
É a primeira vez que uma fiscalização deste tipo acontece em 36 anos (19 edições) da Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Thiago Cardim do site Judao, escreveu coisas importantes, explicando onde começou tudo, explicando porque nunca devemos nos calar contra a homofobia, preconceito e que é dever de qualquer fã de quadrinho defender a liberdade de expressão, amor e respeito. Então leiam o texto do Thiago, é uma pancada na cara do prefeito do Rio de Janeiro.
Eu, Pikahcu, considero o que o Crivella fez uma paranoia que ele mesmo inventou por ser um administrador incompetente. Ele tentou usar como palco eleitoral, mas o tiro saiu pela culatra. O Brasil é um dos países que mais consomem produtos do exterior (quadrinhos, cinema, séries, game, livros). Personagens LGBT fazem parte da vida, Crivella. Hollywood, Netflix, só como exemplo, produzem seus conteúdos com personagens gays, lésbicas, bi, trans… colocar uma revista em quadrinhos dentro de uma sacola preta agrada quem? Ele perdeu a oportunidade ficar calado ou fazer realmente importante pelo bem do povo do Rio de Janeiro. Um total incompetente.
Roteiristas e artistas de quadrinhos criam seus livros como um reflexo da sociedade. Graças à sua visão de futuro, hoje há mais diversidade em quadrinhos do que praticamente qualquer outro meio.
Então como uma forma de repudiar as ações de censura que a prefeitura tentou fazer na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Conheça 12 personagens LGBTs dos quadrinhos que são incríveis. Eu queria colocar mais, mas, deixaria o texto enorme. Prometo que farei a parte dois.
12. HOMEM DE GELO
Booby Drake foi um dos primeiros X-Men, também um dos mutantes mais poderosos do universo Marvel. Mais de 50 anos que o Homem de Gelo usa seu heroísmo e brincadeiras espirituosas que é sua marca registrada para esconder que era gay e namorando com diversas mulheres, tornando a revelação de seu personagem ainda mais comovente.
A Marvel resolveu revelar isso no selo Uncanny X-Men, na edição “All-New-X-Men #4”.
A revelação vem do personagem na adolescência, em uma conversa com sua colega, Jean Grey. Ambos tinham viajado no tempo e voltado para a adolescência. Ele não dispensa a explicação por jamais ter assumido sua verdadeira sexualidade: “Porque talvez ele não conseguisse lidar com o fato de ser mutante e gay em uma sociedade que tem problemas com os dois”.
Dessa forma o Homem de Gelo jovem, pergunta para o Homem Gelo Adulto porque ele não sai do armário e assim, ele acaba assumindo que é Gay. Um marco importante para representatividade no universo X-Men.
11. DAKEN
Quando Wolverine estava treinando no Japão, ele conheceu uma mulher chamada Itsu, com quem se casou e teve um filho. Mas o Soldado Invernal mata a grávida Itsu sob ordens de Romulus, um personagem misterioso que tem perseguido Wolverine por anos nos quadrinhos.
O Wolverine não soube, mas seu filho sobreviveu devido ao fator de cura que ele herdou de seu pai. Levado por Romulus e treinado para ser um assassino, a criança, agora conhecida como Daken, torna-se membro dos Vingadores das Trevas e dos X-Men das Trevas, empenhado em se vingar de seu pai.
Além de garras retráteis e o fator de cura como o pai, Daken também tem a capacidade de produzir feromônios que podem manipular as emoções de qualquer indivíduo, incluindo as sexuais. Ele frequentemente se aproveita dessa capacidade, seduzindo homens e mulheres para conseguir o que deseja.
10. COAGULA/DANNY THE STREET
Uma das poucas personagens trans do mundo dos quadrinhos, Kate Godwin a.k.a Coagula foi criada em 1993 pela escritora Rachel Pollack quando está assumiu a publicação da Patrulha do Destino após a saída de Grant Morrison.
Com o objetivo de criar um retrato positivo de uma mulher transgênero, Pollack buscou inspiração em duas de suas amigas para nomear a personagem: a atriz e escritora transgênero Kate Bornstein e a ativista transexual Chelsea Goodwin. Sendo assim, a super-heroína com o poder de dissolver sólidos e coagular líquidos foi criada.
Apesar de ter tentado entrar para a Liga da Justiça e ter sido rejeitada, foi na Patrulha do Destino que Coagula encontrou um lar. Uma versão mais recente da HQ foi lançada recentemente pela DC Comics e com roteiro de Gerard Way, ex-vocalista da banda My Chemical Romance. Inclusive, este se mostrou bastante interessado em trazer a personagem de volta a publicação.
Além de Coagula, a Patrulha do Destino também apresentou Danny the Street, um trecho de estrada transgênero sensível com o poder de se teletransportar pela existência. Patrulha do Destino é essencial.
9. SHATTERSTAR E RICTOR
Shatterstar é um personagem cheio de camadas e com um background interessantíssimo. Criado por Fabian Nicieza e Rob Liefeld nas páginas de New Mutants #99. Desde então, o personagem foi desenvolvido de inúmeras maneiras.
Shatterstar foi criado como um gladiador, lutando em arenas pela sua vida. A partir daí ele desenvolveu um forte código de honra e moral, sendo um oponente implacável em qualquer batalha.
Quanto a sua identidade sexual, Shatterstar é pansexual, o que significa que ele está aberto a todo tipo de relação.
Ele possui um grande romance com seu colega dos Novos Mutantes/X-Force/X-Factor, Rictor.
Toda a relação havia sido bem implícita até que, em 2009, os dois acabaram se beijando pela primeira vez assim que Shatterstar recuperou a consciência após ter sido dominado mentalmente.
O casal possui uma interessante dinâmica, uma vez que eles funcionam como completos opostos. Shatterstar é o guerreiro cheio de vida e alegre, enquanto Rictor é o rapaz que por muito tempo esteve em depressão.
Rictor era um grande pegador e, ao finalmente descobrir sua sexualidade e querer entrar em um relacionamento monogâmico com Shatterstar, o outro era uma pessoa sexualmente contida que agora quer experimentar um pouco de tudo.
É justamente esse contraste entre eles que os torna um dos melhores casais LGBT dos quadrinhos.
8. JOHN CONSTANTINE
John Constantine já ganhou duas adaptações em live-action e nenhuma delas teve a coragem de explorar a bissexualidade do personagem.
Sim, o Constantine é bissexual e não tem muitas “barreiras morais” nas HQs – isso é uma das coisas mais legais sobre ele.
A sexualidade de Constantine foi tema inúmeras vezes em sua revista, Hellblazer. Apesar disso, sua sexualidade nunca foi o foco principal de suas aventuras no sobrenatural. Os escritores de Contantine tornaram a sexualidade do personagem simplesmente parte de um personagem complexo, garantindo que ela não se tornasse sua característica definidora.
7. MEIA-NOITE E APOLO
Apolo e Meia-Noite foram o primeiro casal gay de super-heróis a trocarem alianças em uma história em quadrinhos. Isso aconteceu em 2001, na edição final de Mark Millar no título do Authority.
O interessante do casal Apolo e Meia-Noite é que eles rompem com o dualismo ou binarismo herdado dos casais heterossexuais, onde uma parte do casal deve ser a dominante e masculinizada e a outra, submissa e afeminada. Isso é muito comum de ser visto em quadrinhos japoneses gays feitos para garotas, os Yaoi. Já um casal masculino/masculino como Apolo e Meia-Noite são mais comuns em outras produções como os Baras japoneses. Mas esse rompimento entre estereótipos dualistas para uma visão menos binária de um casal gay só foi acontecer na virada do século com os personagens do Authority no caso dos quadrinhos gays de super-heróis dos Estados Unidos. Outro fator importante do pioneirismo do casal Apolo e Meia-Noite, foi o deles terem adotado a bebê chinesa Jenny Quantum, que encarna o “espírito do século XXI”, compondo o que alguns enchem a boca para conceituar como uma “família moderna”.
6. DEADPOOL
Não é porque a Vanessa usou um consolo no Deadpool que isso já mostra toda a pansexualidade do personagem.
Nos quadrinhos, o próprio Deadpool já deixou claro que tem uma paixonite no Aranha, por exemplo. Assim como o Constantine, o Mercenário Tagarela não possui muitos “limites pudicos” e vai na onda que vier.
Sim, o primeiro filme deu algumas pistas sobre isso, mas nada concreto. Pode ser que essa ideia da pansexualidade do Deadpool seja explorada no futuro. Nas HQs, o Deadpool não consegue segurar a língua ao ver um cara que ele curte! Afinal, ele é o mercenário tagarela por um motivo, né?
Thor, Justiceiro, Hulking e Wiccano… O Deadpool não perde a oportunidade de flertar com outros heróis (e até vilões, na verdade). Ele sempre faz isso assim, meio em tom de piada, mas quem conhece bem o mercenário sabe que essas brincadeiras têm um fundo de verdade.
5. MULHER-GATO
A cena é de Catwoman #39 e deu fim ao antigo boato sobre a orientação sexual da Mulher-Gato, que, em diversas ocasiões, se envolveu, até casar com o Batman.
E isso foi uma cosia definitiva sobre a personagem, ou seja, não é elemento de um arco narrativo específico, como um universo paralelo ou uma história isolada.
Recentemente, Selina Kyle deixou a vida de Mulher-Gato para assumir o controle da família criminosa Calabrese. Isso deixou a porta aberta para outra pessoa assumir a persona da Mulher-Gato. A nova Mulher-Gato é revelada como Eiko Hasigaway.
Kyle e Hasigaway se vê em como aliados, e seu crescente relacionamento acabou culminando naquele beijo apaixonado. A escritora do gibi, Genevieve Valentine, foi ao Twitter quase imediatamente, na época, apontando que essa nova revelação sobre a orientação sexual de Kyle era de fato canônica. Provavelmente, uma boa jogada, já que a Mulher-Gato desenvolveu uma reputação ao longo dos anos como sendo hipersexual, e o beijo poderia facilmente ser mal interpretado como exploração da personagem.
4. WICCANO E HULKLING
Apesar de tanta polêmica, poucos sabem da história dos personagens, que fazem parte da equipe jovem dos Vingadores. Abertamente gay, Wiccano é filho da Feiticeira Escarlate com o Visão. O garoto é considerado um dos personagens mais fortes da Marvel. Já Hulkling, é um alienígena da raça Kree-skrull – inclusive, ele deve aparecer no novo filme da Capitã Marvel. Juntos, os dois foram um dos casais mais queridos da Marvel.
3. MÍSTICA
A grande história de amor de Mística foi com uma mulher chamada Irene Adler (mais tarde conhecida como a mutante Sina), sua companheira durante décadas. Elas se conheceram nos anos 30 do século XX, quando Irene era atormentada por terríveis pesadelos que se revelaram profecias. Desesperada para parar esses acontecimentos proféticos, ela contratou Mística e juntas uniram forças para impedir que as previsões se concretizassem. Ficaram juntas até a morte de Irene.
O escritor Chris Claremont queria tornar a relação das duas explícita, mas foi impedido pelas leis da época. Ficou apenas subentendido nas HQs originais e, anos mais tarde, quando as leis mudaram, ele retificou e alterou o passado de Mística para que fosse claro o seu amor por Sina.
2.BATWOMAN
Atualmente, Batwoman, ou melhor, Kate Kane, é uma lutadora de rua altamente treinada. A personagem original apareceu em 1956 pela primeira vez, com um nome levemente diferente: Kathy.
Nesse período, a personagem ainda não era homossexual. A ironia é que Kathy foi criada para ser par de Batman e diminuir as especulações de que o Homem-Morcego era gay, depois que o livro “Seduction of the Innocent”, lançado em 1954, acusava as HQs de ser má influência para as crianças. A especulação de que Batman e Robin formavam um casal começou ali, inclusive.
Nesse primeiro tratamento, Kathy era uma artista circense que, após se tornar milionária, passou a combater o crime com o alter ego inspirado em Batman.
Após um longo período afastada das histórias, Batwoman foi reintroduzida em 2006. Ganhou o apelido atual e novo background: além de lésbica, Kate tinha ascendência judia.
1. ESTRELA POLAR
Jean-Paul Beaubier ficou marcado na história da Marvel como o primeiro super-herói gay assumido da editora. Sua homossexualidade era algo há muito planejado pelos seus criadores, mas os códigos de moral da época não permitiam nada mais que sugestões deixadas em aberto.
Com a epidemia de AIDS nos anos 1980 e início dos 1990, existia um clima de ansiedade generalizado em relação à doença e à sua ligação à comunidade LGBT. Em 1992, o mutante Estrela Polar se tornou um dos super-heróis a sensibilizar o público para essa temática.
Na HQ Alpha Flight Vol. 1 #196, Jean-Paul descobre uma bebê abandonada que tinha nascido com AIDS. O mutante adota a menina e dá a ela o nome de Joanne. Infelizmente, a bebê falece após algumas semanas e Estrela Polar fica profundamente afetado com esta tragédia. Simultaneamente, Major Plátano, outro super-herói canadense da Tropa Alfa, entra em uma espiral de raiva e depressão com a morte do seu filho também infectado com AIDS.
O falecimento e a causa de morte dos seus filhos aproximam os heróis e levam à revelação de Jean-Paul. Estrela Polar decidiu se assumir publicamente como gay com a esperança de chamar a atenção de todos para os direitos LGBT e para a prevenção da AIDS. Mais tarde, Jean-Paul se tornaria ativista e escreveria uma autobiografia sobre a sua vida como mutante e gay.
Em 2012, Jean-Paul Beaubier casou com Kyle Jinadu, seu namorado de longa data. Na cerimônia, estiveram presentes vários super-heróis, entre eles uma mutante que teve duas mães: Vampira. Durante o casamento de Estrela Polar, Vampira diz que não consegue deixar de pensar se suas mães teriam gostado de se casar, em uma referência a Mística e Sina.
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