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Crítica | Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko cura sua alma

Resenha crítica do drama Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko sem spoiler e disponível na Netflix.

Makanai
Reprodução (Netflix)

Resenha crítica do drama Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko sem spoiler e disponível na Netflix.

Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko (Maiko-san Chi no Makanai-san no original) não era novidade para mim, como já disse algumas vezes por aqui, sou grande fã de mangá e animes Slice of Life, então já sabia o que poderia esperar dessa adaptação. Só não esperava que seria arrebatador.

Mas vamos do começo, Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko é um mangá de Aiko Koyama, publicado desde 2016 na revista Weekly Shonen Sunday, da editora Shogakukan. O mangá vendeu 2,7 milhões de cópias apenas no Japão e o ganhou o 65º Shogakukan Manga Award. Até o momento, a obra conta com 19 volumes encadernados e é inédita no país – porém, li em scans. Uma adaptação em anime foi ao ar em 2021 e está disponível com legendas na Crunchyroll.

A obra original e o anime em si já são belíssimas, agora fazer uma versão dela em versão drama dirigido e escrito por Hirokazu Kore-eda, torna essa produção algo realmente especial. Para quem não sabe, ele foi o primeiro japonês a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2018, pelo filme “Assuntos de Família”. O filme também concorreu ao prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar e no Globo de Ouro. Além disso, foi diretor dos filmes Pais e Filhos e Ninguém Pode Perder. Mas qual é a ideia original tanto da obra original como de sua versão em drama? Qual o papel de uma Gueixa no século XXI e o papel de uma menina que cozinha para elas?

As Gueixas, apesar de tudo, ainda são vistas com preconceitos dentro e fora do Japão. Até mesmo sua origem ainda hoje levaria horas e horas de leituras e reflexões sobre o papel “daquela que serve sorrindo”, Makanai: Cozinhando para a Casa Maiko vai além disso, é sobre como vivem essas mulheres que viveram à margem da sociedade, como elas conseguem manter viva essa arte no século 21  e principalmente sobre o papel que as mulheres que vivem neste mundo se relacionam como família dentro de uma casa. 

Na história não há violência ou vilões, apenas a sutil beleza da sensibilidade de abraçar a história e a vida dessas garotas e mulheres. Em Makanai, as melhores amigas Sumirê Herai (Natsuki Deguchi) e Kiyo Nozuki (Nana Mori), inspiradas por vê uma Geiko (Gueixa) um dia em uma viagem escolar, optaram por deixar para trás suas vidas de adolescentes normais, a avó de Kiyo e seu amigo jogador de beisebol Kenta da cidade Aomori para se tornarem aprendizes maiko (gueixas em treinamento) na casa Saku em Quioto. Mas acabamos descobrindo que a Kiyo não leva qualquer jeito para ser uma maiko. Ela é tão ruim que não consegue sequer falar corretamente a saudação tradicional maiko, por causa disso, mãe Chiyo (Keiko Matsuzaka) e mãe Azusa (Takako Tokiwa), as chefes de família e administradoras da casa, acabam optando em ficar apenas com Sumirê. Porém, Kiyo se frustrando por sua total ineficiência artística, acaba conhecendo e levando jeito para a cozinha, ela passava grande parte do tempo com a cozinheira (makanai), Sachiko, assim, acaba se apaixonando e se transformando numa grande chefe de cozinha autodidata. Enquanto isso, sua melhor amiga começa a se tornar uma estrela maiko como nunca visto por décadas.

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Embora sua expulsão tenha sido a primeira opção na casa Saku, Kiyo não sai – e não apenas porque Sumirê  implore que fique. Sachiko sofre uma lesão nas costas que a impede de desempenhar suas funções, e ela procura a ajuda de Kiyo para fazer compras e cozinhar em troca de ensiná-la mais segredos da cozinha e pratos. Sachiko insiste que a parte mais difícil da cozinha maiko é tornar os alimentos com sabor “normal” para pessoas de diferentes regiões do país com suas próprias culturas alimentares distintas. Kiyo se inspira e se destaca rapidamente. Esta experiência a encoraja a solicitar o papel do makanai, que lhe é dado, prontamente.

Como Kiyo está desfrutando de autonomia, expandindo e aprendendo suas novas habilidades na cozinha, satisfazendo sua curiosidade sobre ingredientes caros e sua nova família naquela casa maiko e tornando-se a melhor amiga de todos os vendedores no mercado, Sumirê está em um treinando mais duro que consegue suportar além de se aproximar da geiko que foi sua inspiração e que acaba virando sua mentora, a celebridade Momoko (Ai Hashimoto). Um geiko leva uma vida bem rígida e cheia de regras: não podem usar celulares, não podem usar óculos, não podem se casar, se descobrir isso corre o risco de ser expulsa da profissão. Apesar disso, Sumirê nunca perde sua motivação, embora Momoko a perca – pelo menos temporariamente.

Enquanto as outras garotas na casa  Saku lutam com suas preocupações e dúvidas, Kiyo simplesmente parece viver em outro plano existencial. Na verdade, são as melhores cenas do drama, ela acaba levando a vida de makanai a sério, se apaixonando pela cozinha, fazer comida para sua nova família e dedicar seu tempo livre aprendendo mais culinária. Na verdade,  Kiyo parece uma idosa no corpo de uma jovem rs

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O diretor Kore-eda é um gênio em fazer cenas para se contemplar o momento e ele faz de Kiyo um vaso cheio de ideias e modelos. Principalmente quando fazemos uma reflexão sobre esse mundo quase completamente feminino, mas sendo dirigido por um homem ou como ele consegue enxergar isso. Estamos assistindo uma jovem mulher virando uma cozinheira que serve seus pratos sempre sorrindo. Estamos sendo condicionados ao ambiente da cena e do drama e sem perceber não estamos enxergando uma opressão aqui? O caminho maiko/geiko é correto ser considerado uma arte genuína ou mulheres ainda são apenas objetos de olhares masculinos? Eu como homem, não consigo responder isso. Deixo essa observação para cada um/uma que assistiu ou assistirá.

Se pudermos pegar os personagens em suas palavras enquanto absorvemos as sequências vívidas e lentas de cada prato que prepara, assim como toda a cor, a cena, parecendo um ritual maiko, veremos que esses detalhes são de um valor inestimável para o telespectador. Dá vontade de chorar com os planos sequências.”Estas coisas têm valor, está vendo?”. Momoko diz a Sumirê, explicando como cada mai (dança) que ela realiza é única; como ela só existe no momento em que a realiza;  ela dá tanta importância para isso que ela fala “Sayonara” a cada mai em sua mente enquanto encarna a coreografia. Kiyo tem uma abordagem diferente mas tem a mesma profundidade: Cada refeição que ela faz será sutilmente única, embora preparada da mesma maneira. (Momoko também a inspira a dizer “prazer em conhecê-lo” aos seus ingredientes). O trabalho de Kiyo pode ser invisível para a maioria, enquanto o de Sumire é voltado para o público , mas ambos são, à sua maneira, arte pura, um tesouro. É um drama cheio de camadas, cheio de cor, vida e ele simplesmente lava nossa alma. As interpretações, fotografia e som são obras de artes.  Tem diversas personagens incríveis com suas histórias paralelas às nossas protagonistas, mas preferi deixar esse sabor para quem assistirá ou assistiu.

Vai merecer todos os prêmios que ganhará, simplesmente sem defeitos. Recomendo muito.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.