Um argumento recorrente que pesa contra os quadrinhos de super-herói são as implicações cronológicas nas tramas de seus mais famosos personagens. Após décadas de publicação, mesmo as descontinuidades e atualizações que eventualmente afetam Superman ou Homem-Aranha, por exemplo, é difícil para qualquer curioso que deseje aventurar-se no mundo dos gibis entender as citações ou referências que inevitabilidade aparecem nas histórias.
No entanto, por vezes o roteirista que chega busca, antes de tudo, contar uma boa história, que baste por si e não pretenda apenas conectar-se a tantas outras, do modo burocrático. É o caso de Batman: O Espelho Sombrio (296 páginas, R$ 104,90, Panini Comics), trabalho de estreia de de Scott Snyder nos títulos do homem morcego.
Enquanto Grant Morrison cuidava da revista principal da linha, foi entregue a Snyder Detective Comics, estrelada por Dick Grayson, que vestia o manto de Batman enquanto Bruce Wayne seguia fora de Gotham City.
Isso é tudo o que o leitor precisa saber antes de mergulhar no trabalho brilhante do roteirista, que, ao longo de 10 edições, desenvolve o psicológico de seus personagens, apresenta as ações e explora suas motivações, tendo como cenário uma Gotham viva, verdadeiro organismo povoado de vermes e esquizofrênicos, alimentados pela ganância e perseguidos por quem se coloca à prova constantemente, mantendo a jornada do herói em meio ao caos.
Pois, se o Batman de Grayson é falho, audacioso mas descuidado, guiado pela redenção que procura nos patifes, não haveria nêmesis melhor que James Gordon, o psicopata filho do comissário de polícia Jim Gordon. Snyder esmera-se em diálogos que expõem a miséria humana, sem esquecer do cansaço a que os benfeitores de Gotham se submetem, para salvar a alma da cidade.
Pequenos vilões e tramas sujas se alternam enquanto James pavimenta seu retorno à cidade e inicia um longo plano que testará a fé de seu pai, frequentemente dividido entre o amor e a repulsa pelo filho. Jock cuida das aventuras presentes de Batman, enquanto Francesco Francovilla ilustra as passagens de pai e filho e os périplos de Gordon para compreender esse episódio que revira seu passado e de sua família.
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