O Homem Que Passeia,o mangaká Jiro Taniguchi estabelece uma paz de espírito entre seu personagem e o ambiente que o rodeia, trazendo em sua trama a saída da rotina de um homem sem nome e que fala pouco, mas que transmite muito sentimento ao caminhar por rumos longe de sua rotina, conhecendo ambientes mais abrangentes do que os presentes no seu dia a dia.
Quando foi a última vez que um quadrinho/mangá trouxe até você, leitor, uma paz de espírito pelo simples ato da leitura? Não estamos falando daquela sensação de alívio ao final de uma trama complexa, mas, sim, daquela serenidade que vem ao ler algo calmo e otimista.
Em meio a tantas grandes sagas envolvendo piratas, ninjas, super-heróis, bárbaros sanguinários, guerra, terror e drama, a resposta para essa primeira pergunta se torna difícil se você não chegou a ler O Homem Que Passeia.
Até mesmo o outro mangá de Jiro Taniguchi no Brasil, Guardiões do Louvre, lançado pela editora Pipoca & Nanquim, tem seus momentos de tensão e se passam através de um narrador febril que visita o famoso museu francês.
Ouso dizer que O Homem Que Passeia é um obra ímpar nas publicações recentes do país, seja em mangás ou em quadrinhos americanos e europeus, sendo trazido ao Brasil pela Editora Devir através do selo Tsuru, responsável por, entre outros, Marcha Para a Morte, Uzumaki e Nonnonba, por exemplo.
Mas o que faz O Homem Que Passeia ser tão especial? A resposta está na forma como personagem e a sua cidade se conectam. Em 18 capítulos iniciais, acompanhamos o nosso personagem sem nome saindo de seu rumo normal e conhecendo novos caminhos pelos subúrbios de sua cidade. Tomando banho nu em piscinas fechadas, fazendo trabalhos manuais como ajeitar ninhos de pássaros, adotando um cachorro, indo por caminhos pelos quais não conhecia e, até mesmo, seguindo pessoas que o encontram.
Pode parecer estranho para quem está lendo essa matéria, sendo realmente necessário ter contado com esse mangá para comprovar o que aqui está escrito.
O ponto crucial que me levou a afastar as atitudes estranhas do personagem é que o mesmo possuí uma esposa a qual sempre encontra e parece partilhar de suas aventuras pela cidade. Talvez, se o personagem fosse alguém sozinho, o sentimento que teríamos ao ler esse mangá fosse o de tristeza e solidão, ao invés de paz e libertação que sentimos.
Pode-se dizer que a história fez e faz um grande sucesso no Brasil, já que, ao ser lançada em 2017, esgotou, tendo a editora Devir republicado O Homem Que Passeia em 2019, mantendo-o à disposição dos leitores. E verdade seja dita, ter essa excelente história fora de catálogo seria um crime contra os possíveis leitores.
Mas toda essa paz interior e as jornadas que o personagem encara seriam infrutíferas se a arte não fosse condizente com o tema. E Jiro Taniguchi é um monstro nos desenhos!
Mostrando do subúrbio às belas praias, os desenhos tem um nível de detalhe e uma movimentação entre os quadros que é de cair o queixo, sendo tudo muito delicado e sereno.
Isso muita ajuda o leitor a passar mais prazerosos momentos apreciando as histórias que o nosso personagem vive. E cruel é o leitor que virar as páginas de forma rápida e desatenta, querendo encontrar ali uma trama mais elaborada, perdendo todo o significado do que o mangá se presta.
A edição da Devir mantém o padrão do selo Tsuru, sendo O Homem que Passeia o título que deu início lá em 2017 a essa empreitada da editora. O mangá é dividido em 5 partes, tendo a primeira parte 18 capítulos que são os principais da história, sendo os capítulos II, III, IV e V a parte da trama principal.
A edição contém um índice, uma introdução por Hermano Viana, uma entrevista com Jiro Taniguchi e a biografia do autor.
Uma calmaria no meio do dia a dia e dos vários títulos que chegam ao mercado brasileiro o tempo todo. É assim que pode ser classificado O Homem que Passeia, o mangá que não se propõe a nenhuma complexidade, mas alcança um sentimento de paz e descoberta em quem se aventurar por ele, fazendo essa uma das leituras obrigatórias para aqueles que querem fugir da tormenta de acontecimentos da rotina.
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