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Guerras Secretas II – Um dos Maiores Equívocos da Marvel

Guerras Secretas foi um grande sucesso e a primeira grande saga do universo Marvel. Isso não impediu que a continuação fosse um fracasso.

Guerras Secretas foi um grande sucesso e a primeira grande saga do universo Marvel. Isso não impediu que a continuação fosse um fracasso…
A maxissérie anterior, produzida com o intuito de lançar uma linha de brinquedos, superou as expectativas e se tornou um grande sucesso. Seu término coincidiu com o lançamento da Crise nas Infinitas Terras, da concorrente DC, muito melhor produzida e que a superou em tudo o que se pode imaginar. Mesmo assim, isso não ofuscou o fato que Guerras Secretas foi muito bem sucedida, então, na ânsia e ambição de fazer ainda mais dinheiro, o roteirista e então editor, o Jim Shooter, não perdeu tempo e pouco após a conclusão da saga, tratou de correr e lançar o que prometia ser a sequência, intitulada Guerras Secretas parte 2.
Início da saga Guerras Secretas II, publicada no título Grandes Heróis Marvel nº 27, de março de 1990.

A sequência foi abraçada pela chefia da Marvel, afinal, quem não quer ganhar dinheiro? Porém, muitas vezes, a ambição não rende bons frutos, e essa sequência precoce culminaria numa das piores já produzidas na Marvel. A mesma foi lançada entre julho de 1985 até março de 1986,e foi dividida em 9 arcos. O anúncio empolgou os fãs, afinal, eles ainda respiravam o ar da saga anterior, que, mesmo não sendo um primor ou uma das maiores já vistas, cumpriu sua função e se tornou mítica por ser a primeira saga em grande escala da Marvel. Mas o que poderia se esperar dessa sequência?

Como adiantado, Jim Shooter mais uma vez se responsabilizou pelo roteiro, mas os desenhos não contaram dessa vez, com o Mike Zeck. Seu lugar foi ocupado pelo Al Milgron. A premissa da saga anterior, como sabemos, levou as principais equipes de super-heróis da Marvel, a se bater com um grupo seleto de super vilões também conhecidos. Tudo pra satisfazer os desejos megalomaníacos do misterioso Beyonder, uma entidade cósmica extremamente ultrapoderosa. Por algum motivo, o tal ser não foi apresentado em toda a saga, apenas citado no seu decorrer. Pois bem, certamente pra compensar isso, o Shooter resolve fazer dele, a figura central da sequência.
A premissa que faz do Beyonder, o protagonista, é a ideia de que ele resolve vir à Terra, e assumir uma forma humana, só pra satisfazer sua curiosidade de entender a humanidade dos habitantes daqui. Assumindo uma aparência terrestre, o figura causa pra valer em nosso planeta. Bom citar que ele de certa forma, divide o protagonismo com o vilão conhecido como Homem Molecular, fundamental para o desenrolar da trama. Basicamente, todos os arcos se desenrolam focando nesses personagens e o Beyonder dando demonstrações absurdas de seus poderes, realizando feitos que ultrapassam todos os conceitos de lógica. Disposto em suas convicções, esse personagem assume várias formas e tenta a todo custo, compreender as emoções humanas.
Em sua aparência humana, o Beyonder experimenta sensações normais, como fome, calor, medo, cansaço, etc, além de se surpreender com situações comuns do cotidiano, como aprender a se alimentar. Nessa “jornada de descoberta”, ele protagoniza situações ridículas, e esbarra com vários heróis que tentam lhe ajudar de alguma forma. Um momento totalmente ridículo ocorre quando o Homem-Aranha lhe ensina a usar um toalete (???).
Em outro momento, em mais uma demonstração de poder, ele transforma um prédio inteiro em ouro. Nos arcos seguintes, ele se alia a um cafetão, aprende a apostar, sai com mulheres, ganha rios de dinheiro, decide tomar o lugar de Wilson Fisk, o famigerado Rei do crime, até se conscientizar que, com seus poderes, ele pode dominar não só o mundo todo, mas também, os universos. E basicamente é nisso que se desdobra grande parte da saga.
Em dado momento, ele passa a controlar absolutamente tudo o que se imagina, até que sente a necessidade de experimentar o sentimento definido como amor e decide que a conhecida Cristal, a mutante capaz de transformar som em luz, será a escolhida para isso, mas, claro, a ideia não dá certo. Na sequência, após apagar as lembranças de tudo o que ele fez até então em nosso planeta, ele se esbarra com uma mutante chamada Dinamite, criada pelo Jim especialmente para essa saga ridícula. A figura acha que ele é um mutante, e como ela se dirigia justamente para a Mansão X, convence o ser a acompanhar, mas lá chegando, ao ver o Beyonder, os X-Men o atacam.
Não tem muito o que se resenhar daí em diante. A história se desdobra basicamente com o Beyonder realizando ações cada vez mais loucas, megalomaníacas e ilógicas, enquanto um sem número de personagens, sejam heróis ou vilões, dão o ar da graça em seu decorrer. Outra enorme bizarrice ocorre quando ele simplesmente, mata a Morte.
Essa péssima saga, além de tudo, refletiu nas edições de linha dos demais personagens Marvel da época, mas sem deixar nenhum legado positivo. E quanto às Guerras Secretas tão esperadas mais uma vez? Simplesmente não acontecem, esse extenso e horrendo arco só serviu pra desenvolver o personagem e mostrar que ele é todo-poderoso, os chefões apenas pegaram carona no sucesso do título anterior, pois sabiam que iria vender. O roteiro é uma sucessão de equívocos, que não causam impacto algum, visto que eles ocorrem mas seguidamente são desfeitos, sem apresentar consequências. Os diálogos são deprimentes.
Essa saga foi pessimamente recepcionada e é tida até hoje, como uma das piores ideias de toda a história da Marvel. A repercussão foi tão horrível, que mesmo nos dias atuais, é motivo de piada. Jim Shooter foi do céu ao inferno em questão de um espaço ínfimo. Colheu os louros com a primeira saga, e o pão que o diabo amassou com a segunda.
No Brasil, ao contrário do que ocorreu com a primeira saga, Guerras Secretas 2 não ganhou um título próprio, mas foi publicada em grande parte das edições de linha da Marvel, em 1990.Os capítulos foram distribuídos em edições do Incrível Hulk, Capitão América, Grandes Heróis Marvel, Homem-Aranha, X-Men e Superaventuras Marvel.
Obs: Este texto foi, gentilmente cedido pelo colaborador Heleno Santos e publicado, originalmente, no grupo Colecionadores de HQs.
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Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos