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Janeiro Literário | Sociedade E Redes Sociais: 6 livros Para Refletir

Em mais uma colaboração para nosso Janeiro Literário, Dani Marques nos propõe reflexões sobre o impacto das redes sociais em nossas vidas. Para tanto, elenca seis livros que debatem o tema com astúcia e inteligência, as tornando leituras essenciais.

 

Sociedade e redes sociais: 6 livros para refletir

Dani Marques

A popularização das redes sociais trouxe benefícios e malefícios. Quais os principais pontos a serem observados em relação a isso? Vivemos uma era que quase todas as nossas ações são mediadas por um aplicativo que capta nossos momentos e nossos sentimentos. Vivemos mais ansiosos? Até que ponto é bom ser multitarefa? Precisamos realmente estar conectados a todo momento? Deixo aqui a indicação de alguns livros pra nos ajudar a refletir sobre essa influencia das redes num sentindo micro, enquanto individuo, até um sentido macro, no que diz respeito à sociedade.

1. Hiperativos: abaixo a cultura do déficit de atenção — Christoph Türcke 

O autor defende a tese de que vivemos em uma cultura de déficit de atenção: toda a informação a que somos submetidos, desde a invenção do cinema, conspira para desgastar nossa capacidade de concentração. Como alternativa, propõe o retorno à cultura do ritual, na qual a escola tem extrema importância não como disciplina a ser introduzida à força na grade curricular, mas algo que se coloque de viés em relação à atual divisão de disciplinas e que confira a ela uma nova orientação.

A cultura do ritual seria capaz de introduzir no cotidiano escolar um eixo de desagravo e tranquilidade, ao longo do qual seria possível fortalecer a energia das crianças. Um livro para pais, professores, pedagogos, psicanalistas e demais interessados nos desdobramentos que o excesso de estímulos apelativos e permanentes pode causar nos indivíduos dos quais um dos sintomas é a hiperatividade.

2. 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono — Jonathan Crary

A disponibilidade para consumir, trabalhar, compartilhar, responder, 24 horas por dia, 7 dias por semana, parece ser a tônica da contemporaneidade. Jonathan Crary faz um panorama vertiginoso de um mundo cuja lógica não se prende mais a limites de tempo e espaço. Uma sociedade que funciona sob uma ordem que põe à prova até mesmo a necessidade de repouso do ser humano — a última fronteira ainda não ultrapassada pela ação do mercado.

No entanto, o capitalismo já se movimenta no sentido de se apoderar dessa esfera da vida: é o caso, por exemplo, das pesquisas científicas que buscam a fórmula para criar o “homem sem sono”. Embora o sono não possa ser completamente eliminado, pode ser profundamente atingido. Estudos sobre formas mais eficazes de tortura e sobre a criação de um estado de vigilância mais duradouro, que eram inicialmente restritos ao campo das técnicas militares, hoje visam atingir também trabalhadores e consumidores.

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Passando por referências como Godard, Deleuze, Aristóteles, Arendt e inúmeras outras, o livro ressalta ainda a importância do universo onírico, ameaçado pelas visões atuais que “tratam o sonho como um mero ajuste autorregulatório da sobrecarga sensorial da vigília”. 24/7 — capitalismo tardio e os fins do sono é uma instigante e perturbadora análise da realidade contemporânea.

3. Celular: como dar um tempo — Catherine Price

Seu telefone é a primeira coisa que você procura ao acordar e a última coisa na qual toca antes de dormir? Você já sentiu ansiedade de passar muito tempo longe do celular — ou muito tempo nos aplicativos dentro dele? Já se viu pegando o seu smartphone apenas para responder uma mensagem e quarenta e cinco minutos depois se assustou ao descobrir quanto tempo se passou? Já disse que gostaria de passar menos tempo com o aparelho, mas não sabe como fazer isso sem perder os benefícios que ele trouxe para a sua vida? Se respondeu sim a qualquer dessas perguntas, este livro é a solução para você.

A premiada jornalista Catherine Price apresenta um plano prático e detalhado de como dar um tempo na relação com o celular — e depois fazer as pazes. O objetivo? Um relacionamento duradouro e livre de anseios no qual você se sinta bem.

4. Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais — Jaron Lanier

Hoje as redes sociais são praticamente um segundo documento de identidade: não participar de determinada plataforma muitas vezes é sinônimo de total isolamento. Mas você já pensou como seria se deletasse os seus perfis na rede e levasse uma vida diferente?

Jaron Lanier, considerado o pai da realidade virtual e uma das maiores referências (e críticos) do Vale do Silício, não tem conta em nenhuma rede social e deixa bem claro por quê: “Evito as redes sociais pela mesma razão que evito as drogas.”

Segundo ele, as bases da internet foram fundamentadas em um modelo de negócio regido pelas propagandas. Os anúncios, nossos velhos conhecidos das mídias tradicionais, ganharam uma nova dimensão à medida que a internet se desenvolvia. O que antes era apenas a exposição de um produto agora é uma engrenagem intrincada de algoritmos que modificam o comportamento de milhões de pessoas diariamente. E o pior: sem que ninguém perceba.

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Essa dinâmica nas redes traz inúmeros efeitos degradantes: as redes acabam com o livre-arbítrio, estimulam emoções negativas, distorcem a percepção da verdade, precarizam profissões… A lista não tem fim, mas Lanier esquematizou boa parte dela em dez argumentos poderosos e convincentes para que você largue as redes sociais.

É uma tarefa complicada, e o autor sabe disso. Ele acredita, no entanto, que essa é a única forma para que um dia tenhamos redes sociais verdadeiramente dignas e aproveitemos o potencial maravilhoso do que a internet nos proporciona.

5. Sociedade do cansaço — Byung-Chul Han

O mercado de palestras e livros motivacionais está crescendo desde o início do século XXI e não mostra sinais de desaquecimento. Religiões tradicionais estão perdendo adeptos para novas igrejas que trocam o discurso do pecado pelo encorajamento e autoajuda. As instituições políticas e empresariais mudaram o sistema de punição, hierarquia e combate ao concorrente pelas positividades do estímulo, eficiência e reconhecimento social pela superação das próprias limitações.

Byung-Chul Han mostra que a sociedade disciplinar e repressora do século XX descrita por Michel Foucault perde espaço para uma nova forma de organização coercitiva: a violência neuronal. As pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados — tornando elas mesmas vigilantes e carrascas de suas ações. Em uma época onde poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a ideologia da positividade opera uma inversão perversa: nos submetemos a trabalhar mais e a receber menos. Essa onda do ‘eu consigo’ e do ‘yes, we can’ tem gerado um aumento significativo de doenças como depressão, transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout.

Este livro transcende o campo filosófico e pode ajudar educadores, psicólogos e gestores a entender os novos problemas do século XXI.

6. 21 lições para o século 21 — Yuval Noah Harari

Como podemos nos proteger de guerras nucleares, cataclismos ambientais e crises tecnológicas? O que fazer sobre a epidemia de fake news ou a ameaça do terrorismo? O que devemos ensinar aos nossos filhos?

Em Sapiens, Yuval Noah Harari mostrou de onde viemos; em Homo Deus, para onde vamos. 21 lições para o século 21 explora o presente e nos conduz por uma fascinante jornada pelos assuntos prementes da atualidade. Seu novo livro trata sobre o desafio de manter o foco coletivo e individual em face a mudanças frequentes e desconcertantes. Seríamos ainda capazes de entender o mundo que criamos?

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br