Eu tenho uma livraria e vendo aqui alguns boosters de Magic por mês. Meu foco é quadrinhos, então o trabalho que faço com Magic the Gathering é um puxadinho, um extra.
Muitos leitores de quadrinhos, a maioria criança leitores de mangá, quando chegam por aqui, veem essas cartas coloridas e logo pensam que é Yu-gi-oh ou Pokemon. Eu explico que Magic é um jogo de cartas mais antigo que esses e, pra minha surpresa, muitos já ouviram falar e ficam com curiosidade. Até querem levar.
Aí vem o problema: enquanto um baralho de Yu-gi-oh básico, novo e oficial pode ser vendido por R$40 ou R$50, o baralho mais em conta de Magic custa R$79,9. É meio proibitivo, até para quem já tem o costume de praticar cardgames, e pior para aqueles que nunca jogaram um ou outro desses jogos.
Ora! Quem que nunca jogou um cardgame na vida vai gastar R$79,9 para ter um único baralho, sendo que para se jogar é preciso dois? Ou seja, um neófito no jogo precisaria arrumar um coleguinha e comprar dois baralhos básicos para poderem jogar juntos, gastando a bagatela de R$159,8 para experimentarem algo, de certa forma, desconhecido. É um risco caro.
É preciso que a Wizard, a empresa que cria este jogo, tenha em mente que é necessário baratear o custo do baralho inicial para atrair os curiosos esporádicos a, de fato, comprarem um baralho. Mas ela parece preocupar-se cada vez mais em focar apenas nos já iniciados, lançando cada vez mais produtos especiais e com preços mais caros, como boosters que custam R$50 por 15 cartinhas ou decks montados a preços iniciais de de R$100 ou R$120 cada.
Pensando nisso, resolvi criar baralhos que custariam apenas R$18 ou dois por R$30. Juntei o que muitos “jogadores profissionais” chamam, caluniosamente, de “lixão”: milhares de cartas comuns de edições mais antigas que custam cerca de 10 a 20 centavos cada. Passei dois finais de semana montando 18 baralhos básicos para iniciantes. Jogadores mais experientes me falaram que os baralhos não serviam, que eram muitos simples, que não possuíam estratégias bem elaboradas e etc.
De fato, não vendi nenhum desses baralhos que montei para os “profissionais” da área. Eles não eram meu público. Eu estava me preparando para uma grande feira onde minha livraria iria participar, semanas depois.
Nesta feira, comecei a oferecer esses baralhos para curiosos que já conheciam Yu-gi-oh ou Pokemon mas que nunca tinham se aventurado em Magic. Em dois dias vendi os 18 e, ao longo da feira, fiz mais 20 baralhos (com a ajuda do Pikachu Sama). Vendi quase 40 decks para iniciantes que nunca haviam jogado Magic. Acho que fiz mais pela comunidade de jogadores deste jogo vendendo esses 40 baralhos em 10 dias de feira do que em quase 10 anos de livraria.
É preciso atrair jogadores curiosos e o primeiro passo é criando baralhos mais acessíveis. Não adianta colocar um planeswalker foda num baralho que custa R$150 porque o novato não entende isso e não vai arriscar seu suado dinheirinho em algo que não conhece.
Um novato precisa, inicialmente, apenas saber como jogar, como o baralho funciona. Numa analogia com o xadrez, a primeira coisa que o jogador iniciante precisa é saber como as peças se movem e não qual a melhor estratégia para vencer a partida. Logo, o novato precisa apenas de um baralho que funcione para entender a estrutura do jogo. Aos poucos, ele vai investindo no seu baralho, se gostar da brincadeira.
Abre o olho, Wizard!
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