Após termos falado da nova série em quadrinhos da Sabrina, não podíamos deixar de conferir sua adaptação para a Netflix. A criação de Roberto Aguirre-Sacasa chega ao mundo das séries em uma adaptação que pega muitas idéias dos quadrinhos mas que caminha bem com as próprias pernas. O Mundo Sombrio de Sabrina estreou dia 26 de outubro, na sexta passada, já muito bem recebido pela crítica e audiência.
Assim como o quadrinho, O Mundo Sombrio de Sabrina conta a história desta adolescente que parece ser bem comum: é linda, carismática e gentil. Também tem um bom e fiel círculo de amigos, além de um excelente namorado que a ama muito e é correspondido. Mas ela é só é comum nas aparências, pois é filha de um dos bruxos mais respeitados do coven(como é chamada cada comunidade de bruxas) de Greendale, Edward Spellman(George Daburas), que foi o Sumo-Sacerdote da Igreja da noite.
Sabrina(Kiernan Shipka, a filha de Don Draper em Mad Men) perdeu o pai e a mãe em um acidente quando ainda era um bebê e foi criada por suas tias bruxas, Hilda e Zelda Spellman. Também vive com seu primo Ambrose, um bruxo pansexual que vive confinado à casa em uma espécie de prisão domiciliar devido a um delito cometido.
E é nesse ambiente em que Sabrina, dividida entre o mundo mortal e o mundo dos bruxos, caminha em direção a um grande momento: o dia em que completará 16 anos e finalmente será reconhecida como bruxa em um importante ritual de passagem.
Trama e Personagens
Esses são dois dos pontos mais fortes da série. O Mundo Sombrio de Sabrina tem um cast mais rico e diversificado do que o quadrinho que o inspirou. E o melhor: um roteiro focado, equilibrado e que dá chance de cada personagem mostrar a que veio.E a história guarda algumas semelhanças com outra franquia sobre feitiçaria.
O elenco bruxo está bem representado. As tias de Sabrina, Hilda(Lucy Davis, que interpretou Etta em Mulher-Maravilha) e Zelda(Miranda Otto, a Eowyn de Senhor dos Anéis) são incrivelmente opostas. A primeira é excêntrica e age como uma mãe calorosa para Sabrina; já Zelda é rígida e tenta evitar que Sabrina se torne indisciplinada. O trailer dá uma idéia da relação das duas, além de mostrar tudo o que você pode esperar sobre a série.
Ambrose(Chance Perdomo) sofreu muitas mudanças em relação ao quadrinho.
Ele também não é mais tão sutil quanto à sua sexualidade e não tem os seus familiares. Mas permanece fiel à sua prima, ajudando-a não importando o quão malucas sejam as suas ideias.
E o elenco bruxo não para por aí: temos as Irmãs Estranhas, Luke Chalfant(Darren Mann), Nicholas Scratch(Gavin Leatherwood) e o Sumo Sacerdote Faustus Blackwood(um quase irreconhecível Richard Coyle, do seriado Coupling).
As três bruxas antagonizam Sabrina por esta não ser uma bruxa pura: sua mãe era mortal, uma relação normalmente proibida, mas permitida a seu pai. E elas serem em três não é uma coincidência: Prudence é um Draco Malfoy de saias, mas sem ser mimada. Agatha e Dorcas estão sempre a apoiando, sendo um Crabbe e Goyle mais refinadas.
O sumo sacerdote Blackwood é também professor e diretor da escola para bruxos do coven(como são chamados os agrupamentos de bruxos) locais. Mais uma semelhança com Harry Potter aparece com uma escola trevosa, mas com um diretor que está longe de ser um Dumbledore.
E não podia faltar um Voldemort…mais refinado e malévolo.
O elenco humano
O núcleo mortal principal consiste das duas amigas de Sabrina e eu namorado.
Harvey Kinkle(Ross Lynch) é aqui representado como um sensível e talentoso artista e fã de quadrinhos. Embora seu pai o pressione para que trabalhe nas minas da família, seu irmão Tommy o protege e o apoia. Ele e Sabrina são sua âncora.
Roz(Jaz Sinclair) e Susie(Lachlan Watson) representam suas amigas únicas. A primeira é filha do ministro local e tem uma personalidade forte. Susie é pequena e se veste de uma forma mais masculina, o que atrai a atenção negativa dos valentões locais.
A série dá uma grande valorização ao elenco humano. O desenvolvimento destes personagens avança em um ritmo bom, mostrando aos poucos os seus problemas e drama e aos poucos amarrando as suas vidas ao mundo dos bruxos.
Harvey é o menos interessante a princípio por se mostrar um pouco dependente demais. O personagem, no entanto, ainda promete um grande potencial, assim como as duas amigas de Sabrina.
Salem
Por algum tempo, todos ficamos curiosos com o personagem. De fato, na antiga sitcom, Salem era o melhor personagem disparado. Com seu sarcasmo e suas tiradas, era muito fácil roubar a cena.
Mas aqui, embora ele não seja um familiar comum e tenha sua importância, ele não é tão bem explorado. E é complicado mantê-lo relevante na trama porque o personagem não fala e sua interação com os outros personagens fica um pouco estranha.
Ele ronrona que é uma beleza, contudo.
A vilã definitiva
É impossível não comparar Wardwell à Missy, a maligna e travessa personagem de Doctor Who interpretada por Michelle Gomez. Foi um papel que pegou muito dela e é difícil dissociar a atriz de um papel tão marcante.
Mas a senhorita Wardwell, com o passar dos episódios, acaba mostrando a versatilidade da atriz em criar a vilã perfeita: ela é paciente, dissimulada, determinada e impiedosa.Como lidar com uma adversária assim?
Sabrina
Falamos tanto da série e como poderíamos esquecer de sua protagonista? O trabalho de Kiernan Shipka é impecável: suas expressões são convincentes e sempre bem dosadas. A atriz se mostra versátil convencendo quando se mostra sensível, amiga, vulnerável e também como uma bruxa cheia de recursos e ameaçadora.
A personagem só irrita um pouco quando tenta se mostrar mais rebelde e questionadora. Embora isso sirva à trama, não dá pra não se irritar com esses momentos.
Resumo da ópera
Com uma trama bem amarrada e personagens bem explorados, O Mundo Sombrio de Sabrina é uma série que vale muito à pena assistir. A série brinca muito com as expectativas e consegue ser perturbadora sem apelar. A trilha sonora dá um clima meio retrô, embora a trama se passe na atualidade.
E, pra quem prestar atenção, há referência a uma outra série famosa.
A série é um prato cheio para quem gosta de easter eggs, pois está cheia de referências à Riverdale, inclusive com citações à cidade(são inclusive cidades próximas). De fato, o produtor e criador Roberto Aguirre-Sacasa queria introduzir Sabrina ao final da primeira temporada de Riverdale. E ele não descarta a possibilidade de um crossover.
Se você curte uma série com humor negro e personagens bem trabalhados, pode ligar na Netflix e acompanhar essa maravilhosa série!
E pra quem curte MESMO referências obscuras, uma dica: o episódio três possui uma grande referência literária que já recebeu duas adaptações cinematográficas(e uma delas foi vencedora do Oscar). Consegue descobrir a referência?
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