Não deixe de conferir nosso Podcast!

O que a Netflix acertou e errou sobre sua versão de Neon Genesis Evangelion

Evangelion, Netflix
(Netflix)

Se você estava no Twitter ou outras redes sociais no fim de semana passado, ou você tem um amigo que gosta de anime, provavelmente estava imaginando que buzz foi esse sobre a série animada Neon Genesis Evangelion. Esse buzz foi porque a Netflix tornou o anime mais cult de 1996 disponível em um sentido acessível, barato e legal pela primeira vez desde o início de 2010. Além disso, uma nova tradução para as legendas e dublagem e brilhante restauração dos 26 episódios do anime.

Se você não conhece ainda o que é o Evangelion, vou dar um resumo sem spoiler. A Terra sofreu um evento misterioso e cataclísmico em 2000 que mudou os níveis globais do mar e o aumento das temperaturas. Em 2015, Shinji Ikari, 14 anos, é convocado para Tóquio-3 por seu pai, Gendo, que acredita que Shinji consiga pilotar um mecha gigante para combater entidades conhecidas como Anjos. Ao longo dessas batalhas, Shinji e os outros personagens precisam entender como fazer conexões com os outros e com eles mesmos para fazer esses colossais robôs de batalha funcionassem perfeitamente. A trama do anime gira em meio a batalhas titânicas, piadas e desenvolvimento psicológico denso que muitas vezes ficou incompreendido para muita gente que assistiu na época e acredito que até hoje. É considerado a vanguarda da animação japonesa e a Netflix acertou em cheio mais uma vez em traze-o para seu catálogo.

O lançamento da Netflix não foi sem controvérsia, no entanto, Evangelion é um anime que não tem nada tão complexo, apenas uma falha horrível de resolução nos dois últimos episódios. Mesmo assim, ele é a nata que a indústria de animação japonesa já fez ou fará. Para deixar todo mundo um pouco atualizado, mesmo que você já tenha visto, escrevi seis razões – três boas e três ruins – porque a versão Netflix de Evangelion é um grande negócio para os novos fãs e velhos de anime e cultura pop.

Evangelion
(Netflix)

As Boas

1. Está na Netflix. Evangelion não estava legalmente disponível para o ocidente desde o início de 2010. Isso aconteceu por causa da empresa de licenciamento americana (que distribui para América Latina e grande parte da Europa) original da série, AD Vision, que teve os direitos do anime embargado por causa de alguns problemas dela com a distribuidora japonesa original. A única forma de ter o anime era comprando o box que custa apenas US $ 200. Mas existem boxes que custam acima de US $ 500. Se você quisesse assistir de uma forma não legal, havia os torrentes, mas isso ninguém faz. Nos Estados Unidos, Evangelion fazia parte do bloco Toonami do Cartoon Network no início dos anos 2000. Aqui no Brasil, eu explico mais abaixo no texto.

Para uma série que é decididamente a mais influente na história dos animes, foi estrategicamente perfeita para o novo público. Evangelion é tão importante, que ele é foi um dos motivos da animação americana tenha melhorado nos últimos anos, já que a maioria dos animadores hoje em 1996, eram o publico do anime. Sério? Sim, Sabia que existem referências a Evangelion em Steven Universe, Gravity Falls e Apenas um Show? Procurem lá. Todos esses grandes nomes que dirigem animações famosas do mercado americano é fã de anime e isso já vem desde de Matrix, quando eles fizeram aquele projeto legal chamado Animatrix.

LEIA TAMBÉM:  Tudo que precisa saber sobre Kang, o Conquistador, o próximo vilão do UCM

Evangelion é marco cultural, se não um dos mais importantes programas de TV década de 1990, e o fato de que agora está facilmente disponível para cerca de 150 milhões de pessoas em todo o mundo é um grande negócio para Netflix.

2. Restaurado em Full HD. Um dos melhores motivos da lista. A versão em alta definição só estava disponível no Japão, é claro. Você consegue observar sombras, colorido vivo e uma imagem incrivelmente nítida. Se não fosse pelos designs dos personagens, seria difícil dizer que se tratava de uma série produzida nos anos 90.

A única coisa negativa sobre a transferência de imagem é que as vezes, ela fica um pouco inconsistente. Mas isso vem do fato da tecnologia que foi usada na produção nos anos 90. Mas é apenas um detalhe.

3. A Dublagem Brasileira. As dublagens anteriores da animação foram feitas pelos estúdios Mastersound (para a emissora Locomotion) e, posteriormente, Álamo (para exibição na Animax), mas quem fez o processo para o relançamento foi a VoxMundi Audiovisual, com direção de dublagem por Fábio Lucindo – curiosamente, a voz do protagonista Shinji Ikari em todas as versões. Além da série clássica, o estúdio também redublou os filmes End of Evangelion (1997) e a continuação Evangelion: Death (True)², ambos disponíveis no catálogo. E sobre a nossa dublagem: zero defeito.

Na verdade, seria interessante assistir dublado. É incrível.

Eva e um Angel
(Netflix)

As Ruins

1. Está no Netflix! Eu sei que acabei de escrever que é uma coisa boa que Evangelion está na Netflix, mas também não é. A maioria das razões foram ditas por Gen Fukunaga, o presidente da Funimation, um dos poucos grandes licenciadores americanos de anime, quando a Netflix anunciou a aquisição da licença para a Evangelion. Ele comenta isso numa entrevista em 2018, que Evangelion merece ser mais do que apenas mais um anime no catálogo da Netflix. É o anime mais importante da indústria japonesa e a Netflix não fez algo especial, já que ela, segundo o próprio Fukunaga, pagou muito caro por Evangelion. Essa insatisfação é porque a Funimation realmente queria a licença da série, mas o cheque da Netflix era infinitamente maior. Eu estou escrevendo isso porque a Funimation atualmente detém a licença da minissérie Rebuild of Evangelion, 2007, que é uma versão cinematográfica / releitura da série original.

E porque Fukunaga tem o direito de reclamar. Evangelion chegou na Netflix com o mínimo de alarde ou aviso prévio. Mas a Netflix costuma fazer isso com séries, animes que acabaram de sair no Japão e filmes. Na verdade, Evangelion está fazendo sucesso por causa dos Otakus do Twitter.

Errata 1: Segundo, minha querida amiga Lara, eu fui equivocado nas informações dos problemas na tradução. Segundo ela “tanto na dublagem como na legenda os pilotos são chamados de “primeira/segunda/terceira criança”. Então a informação abaixo que estou citando, valerá apenas para versão em inglês.

2. Problemas na tradução. Entre os fãs de anime, existe um debate que dura eras: assistir dublado ou legendado? Sinceramente, ambos sofrem com o objetivo de uma tradução mais literal do japonês original do que uma tradução que, embora talvez menos linguisticamente precisa, ainda captura o espírito do texto.

LEIA TAMBÉM:  Lista | Jogos coop para combater o tédio do isolamento Parte 2

Na versão original e também na tradução da Netflix de Evangelion, eles estão usando “first children”, “second children” e “third children” para se referir a Rei, Auska e Shinji, respectivamente. Coisa que fica gramaticalmente bizarro dublado em inglês. No entanto, a tradução está mais de acordo com o texto em japonês, coisa que já era usado na primeira versão dublada, mas ser fiel demais pode resultar nesses tipos de frases estranhas que não necessariamente fazem sentido num idioma como o português.

Levando em consideração que esse texto não tem spoiler, existe uma declaração de afeto entre dois personagens que na legenda ficou“eu gosto de você” em vez de “eu te amo”. Na versão dublada em português, ficou “eu te amo” como informa a Lara novamente. A mudança enfraquece a intensidade dramática que se segue naquele episódio, pelo menos para mim que assistiu em inglês. Mas do ponto de vista da Netflix, isso foi usado para que ela evite as leis de decência em outros países.

3. A perda de “Fly Me to the Moon”. A balada de jazz de Bart Howard, popularizado por Frank Sinatra, é tocada no final de cada episódio de Evangelion. Às vezes é um arranjo instrumental, outras vezes é uma versão de karaokê feita em estilos diferentes. Usar “Fly Me to the Moon” servia para oferecer uma pequena pausa na intensidade entre os episódios, servia também para capturar um desejo de precisamos nos conectar. Uma versão instrumental também toca durante uma poderosa cena emocional de Misato.

Mas a Netflix optou por não desembolsar o dinheiro necessário para obter o licenciamento global da música, por isso a música não é tocada nesta versão. Os créditos agora tocam um arranjo de piano do tema de Rei. Não é ruim, mas existia de verdade uma ligação dos fãs com essa música.

A decisão de não pagar pelos direitos de licenciamento de música não é uma coisa incomum para relançamentos em séries e programas antigos, as vezes, isso até atrasa o lançamento de outros programas. Para a Netflix, essa decisão faz muito sentido, porque ela não se importa com os créditos finais, já que se você continuar assistindo, em dez segundos, já pula para o próximo episódio.

Perder “Fly Me to the Moon”, mudar linhas de diálogos e modificar a dublagem, em vez de deixar isso como uma função que a gente poderia escolher dá um certo grau de violência para Evangelion como um objeto histórico. Porque isso pode ser perdido, e seria uma vergonha. Seria como perder todas as diferentes traduções de Beowulf ou A Divina Comédia e apenas manter uma versão como a versão. A história requer essas versões diferentes para sobreviver. Sério mesmo, gente.

Ainda assim, Evangelion ficará disponível na Netflix por muitos anos para ser facilmente acessível devido a sua qualidade e importância cultural.

Neon Genesis Evangelion está disponível na Netflix.

Editor de Contéudo deste site. Eu não sei muita coisa, mas gosto de tentar aprender para fazer o melhor.