Cyberpunk é um ramo do gênero ficção científica muito peculiar em diversos aspectos. Não só por toda a estética Hi-Tech Low-Life, mas também pelos temas recorrentes em suas obras.
É um engano comum achar que Cyberpunk se resume a um grupo de pessoas de preto invadindo alguma megacorporação em um futuro distópico. O gênero, apesar de ter sim estes clichês, ainda possui uma essência muito mais profunda em suas obras. Algo que tange nossa humanidade, tratando de assuntos (apesar da forma exagerada e hiperbólica) profundamente íntimos sobre nossa existência. Sobre o que somos (ou poderíamos ser) capazes de fazer.
“O Véu” (“The Veil”, do Inglês) é um jogo de RPG de Mesa que está atualmente em financiamento coletivo pela Fábrica Editora e que incrivelmente consegue não somente ser um Dungeon Crawl com metralhadoras, granadas e uma estética futurista. É um projeto que não carrega só o estilo, como também a essência, o sangue e o coração do gênero Cyberpunk.
O Véu é toda a camada de realidade híbrida que permeia a vida de todas as pessoas do mundo. É a rede virtual onde transitam as informações. O Véu é a evolução da Internet, é o espaço entre o físico e o digital criado graças a uma tecnologia de realidade aumentada extremamente avançada.
E, além de tudo, é somente um dos vários temas passíveis de serem tratados dentro do RPG. O jogo funciona a partir da engine Apocalipse World (mesma de “Dungeon World“) e é feito para manter a fluidez da narrativa. Utilizando 2d6 (dois dados de seis lados), os testes no jogo possuem resultados graduais, sendo qualquer um acima de 10 um sucesso automático; entre 7 e 9 um sucesso parcial, com alguma coisa paralela acontecendo e qualquer número inferior a 6 entrando no critério do GM para decidir o que ocorre. Simples, e rápido.
O jogo não possui um cenário imenso e sólido; preferindo dar ao leitor alguns conceitos a serem explorados, como o próprio “Véu”; o “Giri” (uma palavra do japonês que significa “Dever” ou “Obrigação”), que é um sistema de conexões entre pessoas através de “dívidas de honra” e serve para dar corda à “conexões” entre os personagens e NPCs; e sobre a simulação de emoções e sentimentos.
Como boa parte dos jogos Powered by the Apocalipse, a filosofia “joga pra ver no que dá” é regra. O cenário, que ao ser apresentado como algo maleável deve ser formado pelos jogadores em conjunto na primeira sessão. O livro básico traz uma cartilha de perguntas e dicas de como construir conflitos interessantes dentro do mundo em que estão criando, quase que como uma “ficha” à parte disso. Isso ajuda a todos os jogadores se sentirem investidos dentro do jogo e do mundo, e embora seja pouco ortodoxo tirar a noção de “controle absoluto” do Mestre, os resultados podem ser deveras interessantes.
Perguntas como “Qual o nível tecnológico do mundo?”; “Qual cor é comumente associada à tecnologia?” ou “Quais as tretas culturais que existem no mundo?” são algumas das perguntas essenciais a serem respondidas.
Humanidade é a palavra chave neste jogo. O RPG consegue continuar a ser Cyberpunk, mesmo quando não está tratando de assassinatos, neons piscando ou carros voadores.
O jogo, além de usar os 2d6 para resolver os conflitos também conta com modificadores, como a maioria dos jogos. Mas diferente da maioria dos jogos, esse modificador não vem por causa de um atributo físico como Constituição, Força ou Inteligência; mas sim do estado emocional em que o seu personagem se encontra, dando uma carga pesada de drama para o jogo.
Na ficha de jogo há um espaço dedicado para os 6 tipos de estados emocionais: Sad, Mad, Scared, Peaceful Powerfull e Joyfull (que poderiam ser traduzidos como: Triste, Chateado, Assustado, Pacífico, Empoderado e Feliz) e cada um desses atributos tem um modificador, que será usado no momento em que você faz um teste. Isso faz com que você, como jogador, fique constantemente ligado não somente à como o seu personagem pensa, mas também sobre como ele se sente; e isso pode ser uma boa pedida para jogadores mais cinematográficos.
Os aspectos das ideias da literatura cyberpunk como transhumanismo, baixa qualidade de vida paradoxal com a alta tecnologia, a segregação social e milhares de outras ideias que você pode botar no seu mundo tem impactos infinitamente maiores aqui.
Mas se você se sente perdido em todo esse universo, não se preocupe. Apesar de que uma leitura de Neuromancer ou Akira vá te ajudar, o livro também consta com algumas Cartilhas, que são basicamente temáticas que seu personagem pode tratar e é cheio de dicas sobre como fazê-lo interessante. Mais sobre isso na página do catarse.
Altas expectativas para a edição brasileira
“The Veil” é um game Indie lançado no Kickstarter por Franser Simon, e hoje conta com vários suplementos, inclusive um chamado “The Cascate” que nada mais é do que uma adaptação de Altered Carbon (Livro do qual a série da Netflix se baseou) para o sistema. Aqui, a Fábrica Editora está trazendo ambos os livros “O Véu” e seu suplemento “Cascata” em um único financiamento coletivo no Catarse.
https://www.catarse.me/oveu
O livro é recheado também de referências a livros, filmes e animes Cyberpunk, além de ilustrações belíssimas. O livro já é praticamente um sucesso pronto, já que atingiu 80% de sua meta no primeiro dia de campanha. Minha maior expectativa é com relação à tradução e qualidade física do material, já que é um livro no tamanho 16×23, em capa mole, com cerca de 400 páginas em papel offset, inteiramente ilustrado e colorido e o Cascata segue a mesma configuração em cerca de 240 páginas.
E vocês, o que acham do jogo? Já tinham ouvido falar? Comentem!
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