Não deixe de conferir nosso Podcast!

Réquiem para a Srª J – uma celebração para a morte.

Uma das melhores coisas a se fazer quando saímos de uma sessão de cinema é encontrar com amigos que estavam na mesma sessão e batermos um papo acalorado sobre nossas impressões acerca do que acabamos de ver. Definitivamente, não era o que eu queria fazer quando terminou a projeção do Réquiem para a Srª J, que assisti hoje, numa bela manhã de domingo.

Essas matinês no Teresina Shopping sempre trazem algum filme diferente e curioso para se ver. Na grande maioria das vezes, vale muito à penas ir ao cinema domingo de manhã.

Me perdoem se não trago aqui nenhuma informação exata sobre o filme em questão: quem é o diretor, atores, ano de produção, onde se passa, se ganhou algum prêmio ou algo assim. Isso não importa. Apenas, assistam ao filme se tiverem oportunidade (acredito que deve entrar em cartaz no Teresina Shopping na semana, mas esse tipo de filme nunca passa mais que 7 dias na programação).

Do que trata? A protagonista é uma mulher madura, mãe de duas filhas, uma adulta e uma criança. Eles vivem em um pequeno apartamento em algum lugar que deve ser na Rússia, e dividem com uma senhora mais velha, avó das meninas.

Existe um clima fúnebre no filme, por causa do aniversário da morte de 1 ano do marido da Srª J, que nunca superou a perda do homem que amava. Em profunda depressão, tudo que a Srª J quer é a morte, deixando tudo ao seu redor sucumbir ao descaso: a casa, a família… Ela decide se matar e o filme narra sua jornada para a preparação de sua morte, desde a encomenda para lápide, a preparação do seu último gole de cerveja ou primeiro trago de cigarro na vida, até conseguir os recursos necessários para efetivar seus planos: ou uma bala, ou um coquetel específico de remédios que a levaria à óbito.

LEIA TAMBÉM:  Crítica | O Rei (Netflix, 2019): Embora impecável, o filme se perdeu na beleza de Timothée Chalamet

Por incrível que parece, existe algo de cômico no filme, principalmente envolvendo todos os entraves burocráticos que ela precisa passar até conseguir uma simples receita médica para comprar remédios que formariam os ingredientes de sua morte, e é claro que não posso entrar em mais detalhes sobre o que vi. Posso elogiar, entretanto, que o longa surpreende em sua beleza e tem uma fotografia muito bem cuidada, deixando câmeras paradas o suficiente para estudarmos tudo ao redor que sua lente registra.

Quando a tela escureceu, antes de aparecer o crédito do diretor (imagino que seja, pois devia estar em russo), eu já estava saindo da sala e fui eu quem abri as portas para deixar a sala e meia dúzia de conhecidos que estavam lá dentro. Todo o filme ainda estava ressoando muito forte em mim e, pela primeira vez, não queria dividir o que estava sentindo com ninguém.

Sai do shopping. Entrei no carro. Não liguei o som, procurando evitar quaisquer outros ruídos. E vim pra casa.

A morte foi criada para celebrar a vida.

Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos