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Resena | Black Hammer – O Evento (Lemire, Ormston, Stewart e Rubín)

Volume 2 de Black Hammer continua com o elevado nível de qualidade apresentado anteriormente.

 

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Jeff Lemire dispensa apresentações. Um dos mais prolíferos roteiristas e desenhistas surgidos nos últimos tempos, o canadense se destaca pelo forte uso do desenvolvimento humano em suas histórias. Seja quando trabalha a história de um garoto mutante em em cenário de apocalipse (Sweet Tooth da Vertigo), ou seja quando acompanha a história de várias pessoas durante o passar dos anos em um local inóspito para se viver (Condado de Essex), Lemire busca sempre trabalhar seus personagens imprimindo o máximo de sentimentos (que nem sempre são bons) em suas ações.

Não seria diferente quando o escritor trabalha com o ramo de super-heróis. Já tendo passado pela Marvel, onde escreveu X-men, e pela DC, escrevendo uma elogiada fase do Arqueiro Verde, o escritor tem em Black Hammer a possibilidade de usar de todos os clichês do gênero e contar uma história só sua, envolvendo solidão, aceitação, perda e morte.

Como vimos no volume anterior, a trama de Black Hammer acompanha os heróis Abraham Slam, Menina de Ouro, Barbalien, Capitão Weird, Talky-walky e Madame Libélula. Seres que, após um grande confronto com um ser chamado AntiDeus, foram trancafiados em uma cidadezinha cheia de mistérios. Um local onde os heróis não podem passar dos limites do município, tendo que conviver com os humanos de lá, que tocam sua vida normalmente.

Porém, se o volume um se preocupava em apresentar esses personagens e seus dramas (fazendo homenagem a vários estilos que surgiram pelas décadas nos quadrinhos de super-heróis), nesse novo volume, Black Hammer – O Evento, enfim, somos apresentados ao herói chamado Black Hammer e a importância que ele tem na narrativa.

Contada no melhor estilo de homenagem ao herói Thor da Marvel, vimos quem era esse herói, como ele possuía características muito humanas (chegando a deixar de lutar contra um vilão, que viria a causar uma grande catástrofe, apenas para não perder o aniversário de sua filha) e como se deu sua “morte” ao chegarem nessa cidadezinha prisão.

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Aqui cabe destacar o único problema no roteiro de Lemire. Infelizmente, o sacrifício de Black Hammer ao chegar nessa nova dimensão se torna vazio, quebrando a expectativa do leitor. A morte do mesmo se dá muito mais por uma ação impensada de romper a barreira daquela realidade do que se o herói tivesse cometido um ato de nobreza, como os seus companheiros faziam crer no volume anterior.

Mas esse é um pequeno demérito dentro da narrativa cheia de mistérios e desenvolvimento de personalidades de Lemire. O roteirista dá aqui prosseguimento ao contar o passado dos heróis presos na nova realidade. E podem esperar diversas homenagens aos quadrinhos, como ao Capitão Marvel/Shazam, Adam Strange, aos famigerados anos 90 (fazendo uma “homenagem” ao desenhista Rob Liefield, símbolo desse período) e, por aí, vai.

 

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Clara homenagem de Jeff Lemire ao Cavaleiro das Trevas de Frank Miller.

 

É importante destacar que há um sentimento em comum que roda todos os personagens nesse segundo volume: a tristeza, podendo levar até mesmo à depressão. Com os fatos mostrados no passado e os acontecimentos do presente, podemos ver como Abraham Slam, Menina de Ouro e Barbalien estão quebrados emocionalmente, podendo levar até mesmo a ações extremas. Ao Capitão Weird, Talky-walky e Madame Libélula são reservados os momentos de maior virada de roteiro, tornando mais interessante e misteriosos esses personagens, mostrando que Black Hammer não é só sobre super-heróis, sendo na verdade uma trama de mistério, onde o leitor é conduzido para mais e mais perguntas.

O trabalho de arte está tão competente quanto no primeiro volume, tendo o desenhista Dean Ormston se adequado bem à trama contada até ali, misturando bem as imagens do passado (brilhantes e extravagantes) com o do presente (tudo muito deprimente, passando a ideia de solidão). Muitas das qualidades da arte se devem ao colorista Dave Stewart (um grande ganhador do oscar de quadrinhos, o Eisner). Os dois artistas estão bem sintonizados na obra e mantém a qualidade visual nesse segundo volume.

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Porém, a dupla Osmston e Stewart não cuidam de todos os capítulos de Black Hammer – O Evento. O desenhista David Rubín assume um capítulo todo focado em Capitão Weird e Talky-walky. A quebra da identidade visual do quadrinho é válida, já que essa história faz diversas homenagens às histórias de ficção científica dos anos 1950/1960, fazendo com que o traço e as cores de Rubín sejam mais adequadas que os de Osmston e Stewart.

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O bom trabalho da editora Intrínseca na edição nacional continua. Mesmo que não venha com tantos extras quanto no volume 01, é gratificante ver um quadrinho tão bom sem ser vendido em capa dura e por um preço exorbitante. Black Hammer – O Evento é o tipo de quadrinho que conquista os leitores antigos (que entendem o tanto de homenagens presentes) e, também, pode conquistar o leitor novato que se vê no meio dessa trama de super-heróis cheia de mistérios. A edição da Intrínseca conta com as capas originais, muitos esboços e o processo criativo dos desenhistas para compor algumas páginas.

 

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Black Hammer é um daqueles quadrinhos que conquistam pelas referências e pela trama em si. E, nesse segundo volume (O Evento), a equipe criativa formada por Lemire, Ormston, Stewart e Rubín mantem a qualidade já apresentada anteriormente, desenvolvendo mais seus personagens e trazendo novos elementos para a trama, com um final que deixa os leitores ansiosos pelo próximo volume. Tudo isso em uma edição na medida certa pela Intrínseca, que optou por lançar Black Hammer com capa cartão e com um preço acessível.

 

Cover Image

 

Ficha técnica:

Capa comum: 176 páginas;

Editora: Intrínseca;

Lançamento: outubro de 2018;

Dimensões do produto: 25,6 x 16,6 x 1 cm;

Preço de capa: R$ 39,90.

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.