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Opinião| Porque Drácula é um dos vilões mais assustadores que já vi.

 

Com a estreia da segunda temporada da animação Castlevania na Netflix, decidi tagarelar sobre o porquê de Vlad Drácula Tepes ser um dos melhores vilões que eu já vi na mídia mainstream.

A quem me conhece, sabe que eu sou maluco pela série de jogos do Castlevania, que nasceu no Nintendinho. Quando a netflix anunciou que ia fazer uma animação do jogo, eu deixei minhas expectativas o mais baixas que elas poderiam fisicamente ficar, mas para minha surpresa o show acabou sendo muito bom!

Tão bom que, em termos de desenvolvimento, fez mais pelos personagens em um episódio do que os desenvolvedores em quase 30 anos de franquia, pra ser bem honesto com vocês.

Nos jogos, Drácula é um vilão unilateral, que está lá só para ser derrotado por pelo o menos dez gerações de Belmonts, tendo três ou quatro variações no sobrenome do assassino de Drácula. Foi somente no jogo de PS1 Symphony of the Night protagonizado pelo Alucard que tivemos um pequeno lampejo da motivação do vilão (que, se fosse eu, já teria desistido na quinta morte pela mesma família).

Mas na animação é um pouco diferente…

Netflix-Castlevania

Sobre a motivação do personagem

A animação (roteirizada por Warren Ellis, diga-se de passagem) inspirou-se no plothook deixado por Symphony of the Night: Drácula tem um verdadeiro ódio pela humanidade porque sua esposa, e mãe de Alucard, foi morta em uma inquisição acusada de bruxaria.

Na série animada, passamos o primeiro episódio inteiro vendo a história dos dois e como um mudou o outro. Drácula ensinou alquimia e medicina para a moça; e ela estava ensinando humanidade ao vampiro, que já era meio desacreditado na raça humana.

Anos depois, quando enquanto ele estava fazendo uma viagem pelo mundo, ela foi acusada de bruxaria por usar de métodos alternativos (e funcionais) para a medicina, sendo julgada e condenada a queimar em uma fogueira. E é aí que as coisas dão merda.

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A persona de Drácula nessa animação passa por um período de ódio intenso e declara guerra contra a humanidade. Ele tem tanto ódio que ao fechar os punhos, o faz com força o suficiente para verter sangue.

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Embora os primeiros minutos nos fazem sentir simpatia pelo Vampiro, isso logo é lavado quando vemos (em detalhes) a matança que ele faz com seu exército de demônios, exatamente um ano depois.

E talvez seja por isso que eu considere ele um vilão tão assustador: Porque ele eu consigo sentir empatia por ele. Não só consigo sentir empatia, como cheguei a em vários momentos torcer por ele.

Foi só então que eu percebi que eu estava torcendo contra a humanidade. Não estou dizendo que isso acontecia frequentemente, mas acontecia. lol

O que motiva o Vampiro a declarar uma guerra pela humanidade não é somente a tristeza de ter um ente querido sendo tirado da vida dele violentamente. Não é o ódio que dá lugar a esse sentimento. É a profunda decepção com a humanidade, por ter condenado uma das poucas pessoas corajosas o suficiente para arriscar a própria vida entrando no castelo de um vampiro apenas para poder ajudar melhor sua raça. Se fosse somente ódio, tudo poderia ser resolvido com a caça dos culpados, mas essa misantropia se torna bem clara quando o personagem diz:

“Inocentes? Não existem inocentes! Não mais! Qualquer um deles poderia ter se levantado e dito, ‘não, nós não agiremos mais como animais’.”

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O impacto de uma obra sobre o público

Eu, particularmente como público consumidor, gosto de histórias com um propósito transformador. Quando o autor quer dizer alguma coisa, e bota essas mensagens dentro de personagens para interagir entre si. Para mim, Drácula é um bom (e assustador) vilão porque muito de sua raiva e misantropia podem refletir algo que sinto que eu sinto, especialmente no período em que estamos de 2018 onde vivemos pelo combo “Sentir raiva o tempo todo é cansativo e desgastante + não sentir raiva parece moralmente irresponsável”.

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Um vilão que reflete um defeito em nós, que potencializado ao extremo, me fez torcer por um genocida. E é pra isso que existem os heróis. Uma boa luta não é somente uma cena de ação onde os personagens se enfrentam em uma batalha puramente física; mas também é um diálogo corporal. É reflexo do que os personagens acreditam e daí nasce o verdadeiro conflito, onde um “argumento” sai vitorioso. Vocês podem ver mais sobre isso com esse vídeo.

Não estou dizendo que os protagonistas ou heróis precisam ser perfeitos ou “um exemplo”; até porque na própria série animada eles não são. Tramas brutais e obscuras precisam de protagonistas brutais e obscuros para fazerem parte do cenário de forma não destoante. E este também é um dos fatos que tornam Trevor Belmont o protagonista perfeito para a série (apesar da segunda temporada ter focado no meio-vampiro Alucard), pois, em menor grau ele também é desacreditado com tudo e mesmo assim faz oposição ao vampiro.

A segunda temporada, que teve uma grande parte focada no desenvolvimento dos personagens, apresenta a psique tanto de Trevor e seus amigos quanto de Drácula e seu exército de maneira mais aprofundada, o que é muito satisfatório.

Talvez para mim a experiência de assistir Castlevania tenha sido mais rica por essa sensação de empatia pelo antagonista. E vocês? O que acharam da animação? Também foram desumanizados pelo vampiro? Comentem!

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