Esse número de Almanaque Tex, que marca a estreia do famoso roteirista Chuck Dixon no universo bonelliano, se divide em duas histórias que se destacam pelos belos desenhos.
Trazendo as histórias publicadas originalmente na Itália em Tex Magazine nº 2, a edição abre com “Rancho Liberdade”, escrita por Antonio Zamberletti e com arte de Walter Venturi. Ao longo de 80 páginas, acompanhamos a trajetória de Abraham Lawrence, a partir do momento em que, servindo no exército, salva seu superior de um ataque apache. Grato pelo auxílio vital, tenente Nolan demonstra gratidão e promete recompensá-lo pelo gesto.
Corta para Tex e Carson chegando em Danson, Arizona, e se deparando com um grupo de homens brancos surrando dois rapazes negros. A dupla de rangers logo toma o partido das vítimas, afastando à base de pancadas os valentões. É quando o patrão deles surge acompanhado do xerife local e procura saber o que está acontecendo.
Feitas as apresentações e explicações, Tex é posto a par da situação em curso na cidade: o patrão dos espancadores, Charles Blisset, é um rico proprietário de terras que pretende tomar para si o rancho onde os rapazes negros trabalham, movido por um racismo odioso. Decidido a combater Blisset e pôr fim nas suas ameaças, nosso herói e seu parceiro partem com os rapazes rumo ao Rancho Liberdade.
Lá chegando, descobrem que o dono é Lawrence. O ex-militar ganhara a propriedade da família do tenente Nolan como agradecimento por ter salvo sua vida e agora administra o rancho empregando ex-escravos, indígenas e demais párias sociais em busca de uma segunda chance na vida. Tex o atualiza dos últimos eventos sem imaginar que Tanner, um pistoleiro contratado por Blisset, chegara à Danson partindo imediatamente ao ataque contra o Rancho Liberdade.
Ele e seu bando só não contavam com a resistência liderada por Tex, levando o embate às últimas consequências. O roteiro é competente e trabalha o duelo de forma ágil, destacando o papel de Lawrence como um homem aguerrido e valente, que não se submete ao preconceito. Os desenhos de Venturi são precisos e ricos na elaboração da paisagem. Traça rostos duros, apropriados à realidade que apresenta. Assim, o enredo se estende por 80 páginas enxutas, sem “gorduras”.
A história secundária presente nesse Almanaque, “Terror nos Bosques”, chama a atenção pelos roteiros de Chuck Dixon, famoso por seus trabalhos com Justiceiro, Batman e sua série autoral Mundo Invernal. Primeiro americano a escrever uma história de Tex, infelizmente Dixon não corresponde às expectativas e apresenta um trabalho irregular, que peca pela caracterização imprecisa de Kit Willer, protagonista do enredo.
Viajando de trem rumo a Santa Fé para encontrar seu pai, Kit se envolve numa confusão a bordo e acaba expulso do trem em Lumberford. Preso pelo xerife da cidade, é condenado a trabalhos forçados numa madeireira que funciona ilegalmente dentro de uma reserva indígena próxima. Enquanto se submete ao duro serviço e pensa numa forma de fugir, seu pai parte em busca de respostas para seu sumiço, investigando o caso ao lado de Jack Tigre.
Esse plot ocupa aproximadamente 30 páginas, que se arrastam numa trama sem muitos atrativos. Dixon, estreante no universo bonelliano, vacila na apresentação dos personagens em cena, a começar por Kit: em nenhum momento o filho de Tex se apresenta ou evoca seu pai de maneira clara, afim de evitar sua prisão.
Levado para a madeireira, trabalha resignado nos primeiros dias, só demonstrando certa revolta e planejando sua fuga após desentendimento com outro elemento. Ao menos os desenhos de Michele Rubini são espetaculares e compensam o fraco enredo.
No balanço final, a edição como um todo se “paga” pela arte, uma vez que os roteiros oscilam de qualidade. A revista saiu no tradicional formatinho, com capa cartão e papel jornal de agradável gramatura. Sem extras, traz um breve editorial apresentando os autores.
FICHA TÉCNICA:
- Capa cartão, com 112 páginas;
- Editora Mythos;
- Lançamento em fevereiro de 2017;
- Preço de capa: R$ 10,90.
Leave a Reply