“Amores Improváveis“, de Edney Silvestre (Globo Livros, 194 páginas, R$ 59,90) é, essencialmente, um romance sobre promessas. Promessas de amor, de vida nova. Promessas de admoestar o destino, para reescrevê-lo na busca por algo diferente, que apazigue o coração. Algumas se cumprem; outras não.
É o caso de Emiliana e Felício, que se entreolham, furtivamente, curiosos e surpresos da existência um do outro, na primeira página. Há certa expectativa de uma paixão arrebatadora, dessas que nos fazem sonhar. Mas o caso que ambos cumprem compartilhar ganha corpo lentamente, à sombra da história maior, que corre por quase todo o livro: a trajetória da família Vivacqua.
Afinal, os conhecemos ainda na Sardenha, quando o jovem casal, Vincenzo e Concetta, movido pela esperança de boas oportunidades no Brasil, atravessa o Atlântico, e segue mais um trecho de trem, até a fazenda onde trabalhariam arduamente, economizando o suficiente para retornar à terra natal depois, com um pedaço de terra garantido.
Ao perceberem as condições insalubres a que estão submetidos, sem contar a exploração no trabalho mês após mês, decidem partir. Concetta, grávida, obriga uma parada em Ourinhos, uma espécie de vila no interior do Rio de Janeiro, onde o casal pousa até que passe o resguardo. Nesse ínterim, Vincenzo começa a trabalhar no armazém do Vieira, ganha sua simpatia, sua confiança e… Bem, como se diz, a vida acontece.
Emiliana, a filha mais velha, segue o papel social a ela atribuído sem discussões, a de trabalhar duro e se colocar como suporte para seus pais. Suas irmãs mais novas desfrutam de outra sorte, podendo dedicar-se aos caprichos femininos da vaidade e do namoro, por exemplo, quando dois engenheiros passam por Ourinhos. A primogênita a tudo testemunha, ela mesmo cada vez mais perdida nos devaneios que Felício lhe desperta.
Edney (que já tivemos a oportunidade de entrevistar em outra ocasião) divide sua obra em breves capítulos, de uma página ou menos, poucas linhas, por vezes, tendo como pano de fundo as mudanças políticas e econômicas do Brasil, entre o fim do Império e os primeiros anos da Velha República, mas não busca profundidade nessa abordagem nem influencia diretamente a narrativa em cena com os fatos históricos relatados, por vezes apenas en passant. A se pesar que os próprios personagens, em sua maioria, são retratados de forma simplória, sem densidade psicológica.
Dessa forma, tudo ganha ar de curiosidade, leve como as ilustrações e fotografias que separam os capítulos. A obra, com sua economia de palavras, perde uma oportunidade valiosa em explorar alguns acontecimentos da nossa História, entrelaçando-os à trama. Entretanto, é claro ao leitor que o livro pretende, ao fim e ao cabo, ser memorialista nas reticências, conforme o autor expõe nos agradecimentos finais. Por isso, não explora com minúcias algumas passagens, sugerindo apenas controvérsias, anseios.
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