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Crítica | Arquivo X – 11ª Temporada (Bernardo Aurélio)

 
 
Por Bernardo Aurélio
Em 2016, voltaram a ser produzidos episódios inéditos de Arquivos X, após um hiato de 15 anos. Muitos não conhecem, mas a série foi uma das mais populares do mundo na década de 1990, só comparável, em número de público, com Friends e Sopranos.
Acontece que aquela retomada, 10ª temporada, não agradou a maioria dos fãs, apesar de ter atingido grandes picos de audiência, alguns maiores que os grandes sucessos na televisão atualmente, como Game of Thrones, provando que o amor dos “exers” (como são chamados os amantes de Arquivo X, semelhante aos “trekkers” de Star Trek) é grande, o que deu fôlego para que uma nova temporada fosse lançada em 2018.
Já foram exibidos 6 dos 10 episódios da 11ª temporada e nós vamos analisa-los aqui.
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1. My Struggle III (nota 2 de 5)

O primeiro episódio é escrito e dirigido pelo criador da série, Chris Carter, mas é um pouco confuso, com muitos cortes, que procura uma dinâmica que mais incomoda do que parece inteligente. Aqui nós somos introduzidos à ideia de que o último episódio da 10ª temporada deve ser entendido como uma visão premonitória da agente Scully, de um futuro próximo que ela deve evitar e somos apresentados a uma ideia que parece ter sido imaginada por Carter ainda em 2000, na sétima temporada, que envolve o filho da protagonista, que foi entregue para adoção ainda bebê como forma de resguardá-lo dos perigos da conspiração que envolve a vida dos agentes do FBI, o que faz os fãs correrem atrás de um episódio específico de 18 anos atrás para relembrar o que está acontecendo de novo aqui. Esses tornam-se o mote desta nova temporada.

O episódio falha como começo de nova temporada, apresentando todos os defeitos dos episódios “mitológicos” da temporada anterior (os episódios 1 e 6 da 10ª temporada): personagens malconduzidos, cortes frenéticos, muita informação e pouco tempo para digerir. Simplesmente, o episódio não te dá tempo para refletir e até mesmo Mulder, narrando o episódio, torna-se desnecessário e fraca lembrança do que são as reflexões do personagem quando ele realmente aparecia em off em episódios anteriores.


 

2. This (nota 2,5 de 5)

É escrito e dirigido por Glen Morgan, que também é cadeira cativa na série. O episódio acerta na nostalgia dos fãs trazendo de volta um dos personagens mais carismáticos de toda a série, o pistoleiro solitário Langly. Aqui nós temos Arquivo X flertando com as novas tecnologias. Os desavisados podem imaginar que é uma tentativa de dialogar com os espectadores de Black Mirror, mas não se enganem. Arquivo X sempre teve episódios trabalhando o uso de tecnologias de ponta, como as ameaças da Inteligência Artificial.
O ponto alto deste episódio é revelar que os criadores desta nova temporada estão empenhados em aproveitar bem o pouco espaço de tempo que possuem (são 10 episódios, o que parece muito para os dias de hoje, mas Arquivo X já teve 25 episódios em uma única temporada) construindo uma teia onde, mesmo os episódios aparentemente fora do que chamamos de “mitologia”, ainda apresentam elementos que constroem uma grande narrativa que deve conectar toda a temporada.

 
3. Plus One (3,5 de 5)
Plus One é escrito por Carter e começa a mostrar, de verdade, porque Arquivo X merece novas temporadas.
Mortes improváveis estão acontecendo na cidade, cometidos pelas próprias vítimas, por seus duplos! Os agentes vão até lá resolver e a coisa ganha outros contornos: um pouco de thriller, pouco de humor, pouco de romance, tudo misturado com paranormalidade e aquele famoso joguinho da forca que brincávamos quando éramos crianças, onde ou a gente acerta o nome da pessoa, ou o bonequinho morre enforcado.
O ponto alto é a relação entre os protagonistas, que cresce de forma muito natural e, para nós que passamos ANOS esperando por um beijo entre eles, vê-los às confidências e carinhos atenciosos no quarto de hotel, mostra que eles amadureceram muito, coisas que apenas séries com 11 temporadas podem proporcionar ao telespectador.

4. The Lost Art of Forehead Sweat (nota 5 de 5)
Escrito e dirigido por Darin Morgan é o ponto alto da temporada até agora. Darin é autor de alguns dos episódios mais cômicos de Arquivo X, como “Mulder and Scully meet the were-monster” (de 2016, na minha opinião, o melhor da temporada anterior, onde um monstro é mordido por um humano e é amaldiçoado a viver como gente toda manhã), Clyde Bruckman’s Final Repose (da terceira temporada, sobre um vidente que ajuda a dupla a resolver crimes) e “José Chung’s From Outer Space” (sobre um autor de pulps ruins que entrevista os agentes procurando inspiração para escrever um livro sobre abdução alienígena) entre outros.
Neste novo episódio, Darin nos apresenta o “Sr. Ele”. Sabem quem é “Ele”? É aquele que conhece toda a verdade. Ele! A terceira pessoa que tudo vê e tudo sabe! De forma bem-humorada, como sempre fez, Darin nos prova porque as conspirações de arquivo X hoje, no mundo da fake news e da pós-verdade, não causam mais tanto impacto. A verdade já foi tão escancarada e apresentada de todas as formas, que as pessoas não conseguem mais discernir entre o que é verdade encoberta de mentira descarada. Nós vivemos no mundo da pós-conspiração. Um tapa na cara de todos que acreditam que Arquivo X é uma série datada e que não deveria continuar a ser produzida.

 
5. Ghouli (nota 3,5 de 5)
Este episódio, escrito e dirigido pelo também veterano da série James Wong, começa, aparentemente, como um “monstro da semana”, como chamamos os típicos episódios que sempre aparecem em todas as temporadas de Arquivo X, mas aquela mitologia que venho falando aqui vai sendo amarrada e somos apresentados ao bizarro William, o filho de Dana Scully, que tínhamos visto apenas como bebê na oitava temporada (de 2001), que agora é um adolescente problemático e muito mais estranho do que o Mulder poderia sonhar em ser.
Aqui, entendemos porque Gillian Anderson, que interpreta a Scully, é a grande atriz dramática que sustenta toda a série.
Neste episódio, vimos afundar a relação de Mulder com Skinner, o diretor do FBI a quem os agentes sempre reportaram ou recorreram, que vinha problemática desde My Struggle III, o que deixa a ponta para ser amarrada no episódio seguinte.

 

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6. Kitten (nota 3)

Este episódio tem uma curiosidade: o ator Haley Joel Osmen, famoso por sua participação no filme O Sexto Sentido, é um dos protagonistas deste episódio. Ele interpreta dois personagens: um veterano de guerra do Vietnã e seu filho nos dias de hoje. O personagem de Haley lutou na guerra ao lado do diretor Skinner e o episódio busca mostrar um pouco do passado deste personagem que é quase o terceiro protagonista da série, mas que nunca teve apresentada sua vida pregressa ao FBI. A própria Scully fala no episódio que não conhecemos o Skinner.

Kitten, ao tempo que mostra uma paranoia envolvendo veteranos de guerra, estresses pós-traumáticos e gás de uso militar para controle emocional da população civil (adoro!), tenta nos revelar o lado humano de Skinner e traçar uma reaproximação de confiança mútua entre o diretor e os agentes. Digo “tenta” porque deixa um pouco a desejar. Skinner é um grande personagem e merecia um episódio melhor trabalhado, pois falha na forma como é conduzido, mas consegue construir uma cena final com um bom e bem escrito diálogo entre os protagonistas.
A temporada revela-se bem melhor que a anterior e ainda temos mais 3 até ela acabar. Não sabemos que futuro nos aguarda, fãs de Arquivo X, só nos resta sonhar com um episódio final melhor que o último da nona temporada.

Atualização

7. Rm9sbG93ZXJz (nota 3)


O título do episódio é escrito no sistema Base64, que corrijam-me os melhores informados, são geralmente usados quando há a necessidade de codificar informações binárias que precisam ser armazenadas e transferidas e permaneçam inalterados. Procurei um site que faz a transcodificação e descobri que “Rm9sbG93ZXJz” significa “Followers” (seguidores).
O episódio já pode entrar na lista dos mais “incomuns” de Arquivo X, pois não te dá praticamente nenhum background de porque a história começa naquela situação e não se preocupa em explicar o que está acontecendo.
Pela segunda vez na temporada, assim como em This, a trama envolve as novas tecnologias e o mote é “o que nós ensinamos para nossas inteligências artificiais”, que tipo de monstro estamos criando…
Os agentes experimentam todos os assustadores transtornos que a indiferença tecnológica pode nos oferecer, desde um pedido em um restaurante que é servido errado, até o incômodo de sentir-se extremamente vigiado em todos seus passos, passando por carros pilotados sem motoristas que andam em alta velocidade.
O episódio é quase todo mudo, com pouquíssimos diálogos, o que pode ser entendido como uma sacada de ironia para os dias de hoje, mas o que torna-o um pouco sacal e de pouco ritmo. Mas o incômodo da narrativa e o humor de algumas cenas nos leva até a cena final e descobrimos o porquê de Mulder e Scully serem o melhor casal da tv americana, numa simples troca de olhares ou toque de mãos.
(Foto: FOX)

8. Familiar (nota 4,5 de 5)

O episódio destaca-se na temporada como um excelente triller. A primeira impressão que temos ao vermos o risonho mascarado na floresta é que talvez estejamos diante de uma releitura de Jogos Mortais. Ainda bem que as primeiras impressões podem estar completamente enganadas…
“Familiar” nos leva para uma intricada confusão que envolve problemas familiares, injustiças em cidades pequenas, folclores locais e toda a selvageria e paranoia que uma caça às bruxas nos dias de hoje pode desencadear.
É o típico episódio de Arquivo X que não requer conhecimento prévio sobre os personagens e sua mitologia, mas que pode ser apresentado a qualquer novo espectador e ele provará o gostinho e poderá entender porque Arquivo X não são apenas “homenzinhos verdes” e teorias da conspiração. Ponto alto!

9. Nothing lasts Forever (nota 3.5 de 5)


Arquivo X sempre teve aquele tipo de episódio onde encontramos seitas estranhas fazendo coisas bizarras. Nothing Lasts Forever é um deles. O episódio procura incomodar, tanto pelas cenas nojentas quanto pela própria natureza dos personagens, que parecem uma versão macabra de um programa de matinê da TV setentista norte-americana.

Questionamos, como é comum em Arquivo X, os limites da ciência em um episódio cheio de cenas religiosas, no melhor estilo que já estamos acostumados a presenciar ao lado da agente Scully.

Infelizmente, o penúltimo episódio desta temporada tenta equilibrar uma história de clima freak ao tempo que procura desenvolver o relacionamento dos protagonistas e acaba se atrapalhando um pouco, onde uma parte da história não dialoga com a outra. Enquanto os agentes do FBI tentam resolver seu crime da semana, a série precisa arrumar a casa para o season finale no episódio seguinte e temos um episódio com dois pesos e duas medidas, dois pedaços que não formam um todo e, de novo, somos forçados a nos agarrar à simpatia dos atores e no mistério que o fim da temporada nos trará.

10.  My Struggle IV (nota 2,5 de 5)

 

O último episódio nos chega e deixa muitas dúvidas. A principal delas é saber se a série realmente vai ter uma 12ª temporada ou se tivemos um series finale com uma reticência maior do que normalmente estamos acostumados em Arquivo X.

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Chris Carter escreve e dirige o décimo episódio que consegue ser um pouco melhor que o primeiro desta temporada. O episódio tem crateras no roteiro capaz de deixar qualquer fã à beira de um precipício. Rápido e insensível, este final nos faz querer rever a nona temporada e entender que, enfim, aquilo não foi tão ruim assim.

De novo, Chris Carter, já reconhecidamente um novo George Lucas que odiamos amar, perdeu, pela terceira vez, a chance de construir um final digno para os personagens. Não falo de um final que agrade todos os fãs, falo apenas de um final de respeite os personagens que ele criou.

Se você ainda não viu, informo que, a partir de agora, teremos os SPOILLERS.

Primeiro você tem apenas 10 episódios onde o foco é saber o que aconteceu com o filho da Scully, o William, e ele aparece em apenas 2. Apesar de ser um bom personagem, afinal, Carter sabe criar bons personagens, a temporada deveria ter se focado mais nele, mostrando  melhor sua vida ao invés de apenas um resumão sobre sua adolescência traumática nas cenas antes da abertura de My Struggle IV.

A relação de distância entre William e Scully é ótima, afinal, ele nunca se relacionou com ela de fato. O inverso não é verdade. Scully gestou, criou nos primeiros meses, amamentou, sentiu a dor de ter de se separar do bebê além de toda a distância desses longos 17 anos de separação. É ridícula a cena em que ela diz para o Mulder que ela não é a mãe e ele não é o pai da criança, que ele é apenas um “experimento”. E que agora, milagrosamente (de novo) ela terá um novo filho e isso acalenta os dois, como se um filho substituísse o outro. Isso é cuspir na cara dos fãs e no sentimento de maternidade. É assim que vejo.

Todos amamos o Canceroso, mas sabemos que ele nem deveria estar nestas duas últimas temporadas. O homem sobreviveu a dois mísseis lançado por um helicóptero. Não me surpreenderia se ele voltasse numa possível 12ª temporada, afinal, levou apenas alguns tirinhos. Mas uma pergunta me incomoda: seu plano de destruir a humanidade se resumia a ele com um único frasquinho? Quer dizer, agora que ele morreu, o que aconteceu com seu plano? Com seu frasquinho?

A impressão que dá é que Carter pensou na forma mais fácil de terminar a série: vou matar todo mundo! Então, o canceroso morre, Monica Reyes morre de maneira ridícula sem o mínimo esforço de tentar justificar a mudança de sua personagem. Graças a deus não colocaram John Doggett nesta temporada! Prefiro a ausência à destruição da personagem. E o que foi aquilo que aconteceu com Skinner? Ele morreu debaixo daquele atropelamento? Se não tivermos uma 12ª temporada, já pensou o quanto é triste e insignificante o fim que ele teve? Algumas vezes você não pode deixar a reticências ou a interrogação.

E a morte de todos os membros do Sindicato de Colonização Alienígena? Uns com a cabeça explodindo, outros por um raivoso Mulder que invade sua base de uma maneira inexplicável (um tiro é ouvido do lado de fora, os seguranças vão atrás e o Mulder, que estava sozinho e que deve ter atirado, mas não estava lá fora, já estava dentro da base). Tudo muito fácil como varrer a sujeira para debaixo do tapete.

E a Scully ligando para aquele programa sensacionalista da internet para divulgar fake News? Isso é tão irracional e foge tanto da personagem! E sem necessidade! Inclusive, esse apresentador, o Tad O’Malley, que deveria ser importante nessa nova mitologia, foi completamente mal aproveitado em toda essa temporada. Tad era importante (não era como aqueles dois agentes mequetrefes cópia carbono dos protagonistas que surgiram na décima e que foram, graciosamente, silenciados nesse temporada)! Foi Tad quem, bem ou mal, reintroduziu Mulder e reiniciou a série! E ele não fez nada significativo nesses 10 últimos episódios. Ignorado, quando poderia ser um novo tipo de Garganta Profunda ou Agente X para o show.

No mais, aguardando ansioso para assistir uma 12ª temporada para continuar amando e odiando a série, ou um spin off de William, já que estamos esperando a ausência de Gillian Anderson que prometeu não voltar.

Nota média da temporada: 3,25 de 5

Thiago de Carvalho Ribeiro. Apaixonado e colecionador de quadrinhos desde 1998. Do mangá, passando pelos comics, indo para o fumetti, se for histórias em quadrinhos boas, tem que serem lidas e debatidas.