Editora Todavia trouxe o clássico Bone de volta. O quadrinho tem um histórico de lançamentos turbulentos no Brasil, já que nunca foi publicado até o final. Para a sorte do leitor, a qualidade da história, dos desenhos e da parte editorial dessa edição fazem valer essa nova chance que Bone está recebendo.
Um quadrinho da Disney que vira uma saga ao estilo O Senhor dos Anéis !
Fazer essa afirmação sobre Bone, do quadrinista Jeff Smith, não seria falsa de forma alguma. Ao contrário, comparar a história dos primos Bones (Fone, Phoney e Smiley) à editora do Tio Patinhas e a saga do Anel de JRR Tolkien é um elogio para todos os envolvidos.
Com um roteiro repleto de humor, que é o grande destaque, e acontecimentos que vão em um crescente de proporções, envolvendo dragões (que tem uma cara de tédio), um exército de ratazanas gigantes (e incompetentes), uma vovô forte como um touro, um estalajadeiro mal encarado (mas bom de coração) e uma grande guerra, onde até mesmo há uma princesa escondida.
Isso tudo é o pano de fundo que vai se desenvolvendo com os primos Bone, que abrem o volume andando no deserto após serem expulsos de Boneville. Talvez, essa seja a parte que mais cause confusão no leitor, já que não sabemos quem são esses seres pequenos (o que me veio à cabeça foi um paralelo com Frodo e seus amigos) e totalmente brancos. Até mesmo em um universo fantástico como é, a existência deles e de Boneville (que ainda não nos foi apresentada) causa estranheza, aumentando nossa vontade de conhecer o que são eles e onde moravam.
Porém, essa estranheza logo passa, devido ao carisma dos personagens. A inocência de Fone (o personagem principal), a beleza de Espinho, a rabugice da vovô Ben, a figura misteriosa do dragão vermelho, a incompetência das ratazanas gigantes, o mal humor do estalajadeiro Lucius, as tiradas sem noção de Smiley e os golpes fracassados de Phoncible P. “Phoney” Bone (uma mistura de Tio Patinhas com Dick Vigarista) são o grande charme de Bone.
Por falar em Phoney Bone, ele é indiscutivelmente o coadjuvante que rouba a cena. Ganancioso e sempre disposto a aplicar um golpe para ficar mais rico (ou sair da pobreza que se encontra), pode-se dizer que a trama anda por causa dele, já que os primos Bone foram expulsos de Boneville por culpa dele, além de existir um trato que precisa ser pago com uma misterioso figura sombria. Sem falar na hilária corrida das vacas!
Não seria um erro compará-lo ao Tio Patinhas de Don Rosa, já que Smith imbui em sua obra o espírito Disney que mestres como Rosa, Carl Banks e outros ajudaram a criar histórias que encantaram gerações.
E esse é o papel que Bone vem desempenhando desde 1991, quando de sua publicação original nos EUA. Se o leitor perceber, nesse ano (1991) o que estava vendendo horrores eram os quadrinhos cheios de testosterona e mulheres seminuas em títulos como X-men, de Jim Lee. Bone era um quadrinho independente, preto e branco e com lançamento trimestral. Não teria como ser um sucesso naquele contexto. Mas foi, para alegria dos leitores que querem boas histórias.
Aconselho fortemente quem tenha essa edição da editora Todavia leia o posfácio escrita pelo próprio Smith. Nele, há um ponto interessante que é um dos grandes desejos do Autor: não deixar que Bone saia de catálogo nunca. Chega a ser até ironia do destino fazer essa afirmação quando comparado com o histórico de publicação do título no Brasil.
Publicado anteriormente pelas editoras Via Lettera e HQM, a saga dos primos Bone nunca foi concluída no país. A torcida é grande pela Todavia, que lançou um volume caprichado, e que, nesse ritmo, publicará tudo em mais 02 volumes.
Reunindo 03 livros da saga original – Expulsos de Boneville, A grande corrida das vacas e O olho do furacão, a edição da Todavia traz ao Brasil a versão colorida da história, lembrando que Bone originalmente saiu em capítulos preto e branco. Há um cuidado especial aqui, já que acima de cada página a editora coloca o nome do livro e o capitulo respectivo. Além disso, a edição conta com as capas originais com a data de lançamento nos EUA de cada título. Sem falar no posfácio do próprio Smith.
Se depender da Todavia, Bone será finalizada no Brasil. Para nossa sorte, em um bonito e caprichado formato.
Essa é a chance do leitor brasileiro ter contato com Bone de Jeff Smith em uma edição caprichada pela editora Todavia. Um quadrinho indie que cresceu e ganhou fama mundial devido ao seu roteiro bem construído, seus lindos desenhos e seu forte senso de humor. O leitor verá que não é descabível compara-lo com a Disney e O Senhor dos Anéis. Se achar que essa afirmação não procede, está aqui a edição para tirar a prova.
Ficha Técnica
- Capa cartão, com orelhas,
- 448 páginas
- Editora Todavia
- Lançamento em novembro de 2018
- Preço de capa: R$ 79,90
- Tamanho: 23 x 15,8 x 2,4 cm
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