Lançamento da Millarworld no Brasil, Crononautas é um dos quadrinhos mais preguiçosos de Mark Millar, fugindo do desastre apenas porque os desenhos de Sean Murphy são muito bonitos.
O leitor que já conhece o escritor Mark Millar já sabe qual é a fórmula de escrever do autor: ação cinematográfica, diálogos ágeis e tramas que prestam homenagem à cultura pop.
Ele já fez isso com Starlight, onde o grande homenageado foram os quadrinhos de Flash Gordon. Ele já fez isso em Superior, uma história do Superman de Christopher Reeves. Ele faz isso em O legado de Júpiter, abordando a era de ouro dos heróis e a mudança para uma nova geração mais violenta, como em O Reino do Amanhã.
Mas se engana o leitor que pensa que Millar presta essas homenagens simplesmente com o intuito de reverenciar a cultura pop. Vamos ser claros: o intuito é vender, e não só quadrinhos. Vender propriedades intelectuais de fácil acesso para o grande público que consome cultura pop, visando adaptações para o cinema e para a TV.
Não é a toa que alguns trabalhos de Millar antes mesmo de serem finalizados já eram vendidos para grandes estúdios de cinema. E o roteirista ainda cravou uma jogada de gênio quando vendeu todo (os que ainda não estavam nas mãos de grandes estúdios) o seu catálogo de histórias para a Netflix, tornando-se um roteirista e criador exclusivo da plataforma digital.
Porém, com o objetivo de fazer com que seus quadrinhos sirvam como um storyboard para adaptações cinematográficas/televisivas fez com que o escritor escrevesse essa que é a sua obra mais desleixada: Crononautas.
Quando o doutor Corbin Quinn descobre uma forma de viajar no tempo, ele resolve realizar a primeira viagem tripulada pela história da humanidade, usando um traje que o ajuda a levar qualquer ferramenta com ele. Porém, quando Quinn se perde no fluxo cronal, seu amigo Danny Reilly é enviado para buscá-lo. Criado como uma série homenagem aos filmes De Volta para o Futuro e Top Gun (novamente, a questão de usar um produto conhecido para vender o seu quadrinho), Crononautas é uma história sobre viagem no tempo e ponto.
A ficção científica em muito aborda a questão da viagem no tempo. Desde A Máquina do Tempo, de H.G. Wells, passando pelo citado De Volta para o Futuro, umas das obras pop mais cultuadas no cinema. Nos quadrinhos, as histórias de heróis estão recheadas com situações assim. Porém, se ao ler uma história sobre viagem no tempo o leitor almeja uma história densa, mostrando as consequências de se locomover no tempo, esqueça, Crononautas é uma história rasa, apenas focada em momentos de ação e mostrar passagens históricas de forma rápida e sem aprofundar nada.
Se Millar queria homenagear De Volta para o Futuro, só conseguiu fazer uma história bem sem graça de Bill & Ted. Os personagens principais não tem caracterização, ou pior, tem, só que muito muito ruim. Em especial Danny Reilly que se torna genuinamente o personagem mais insuportável que Millar já escreveu. O narcisismo dos dois chega a enervar o leitor. Com diálogos rasos e atitudes de moleques de 12 anos, a obra não deixa de forma alguma o leitor comprar a história. Não há uma suspensão de crença que faça o leitor acreditar naquele universo. Sério, quem em sã consciência deixaria um cara que dá o dedo do meio e só fala através de falas de efeito viajar pelo tempo para realizar um resgate que mudaria o destino da humanidade???
Porém, a história rasa e seus personagens chatos não são o principal demérito de Crononautas. Mesmo com os dois personagens viajando no tempo e mudando e muito o fluxo cronológico, não há qualquer efeito no presente e nas eras que eles visitam. Mostrando que Millar não queria criar um história como (olha o filme aqui de novo) De Volta para o Futuro 02, onde Martin Mcfly ao viajar para o passado e futuro cria universos paralelos devido às mudanças promovidas no tempo. O roteirista só pensou que visitar Jesus, a era da máfia em Nova York e a era jurássica usando um jato de caça seria muito da hora e estiloso. Para mostrar que a obra não se leva a sério nem em relação a isso, na parte 04 Millar resolve explorar um pouco de Quinn e faz com que ele mexa no seu passado, adaptando-o ao que ele sempre quis. Mas volto a repetir: sem nenhuma explicação ou peso narrativo.
Porém, se Millar escreve como um adolescente, jogando fatos históricos como uma metralhadora sem alvo, o traço de Sean Gordon Murphy salva Crononautas de ser um completo desastre. Os desenhos estão de cair o queixo. As páginas duplas, as ambientações, tudo fica bonito no traço de Murphy. É uma pena que o próprio desenhista não leve muito a sério a história. Por exemplo, ao final da edição 01, um personagem leva uma flechada no peito, porém, no início da segunda edição, a flecha desaparece e tudo fica bem. Faltou não só um cuidado maior do desenhista, faltou um editor que soubesse conduzir essa história toda.
Se Millar tem essa prática de vender seus quadrinhos como se fossem ouro, prontos para serem adaptados, essa sana por dinheiro parece ter alcançado também à publicação nacional. Contando com 120 páginas (apenas 100 de quadrinhos), a edição só tem as capas originais, algumas alternativas e uma biografia rápida dos seus criadores. Porém, esse trabalho simplório custa exorbitantes R$ 54,00. É muito caro o valor que o leitor pagará por essa história sem sal. Talvez compre pelo nome do autor, já que Mark Millar ainda é muito conhecido por trabalhos como Supremos, Guerra Civil e Supeman Entre a Foice e o Martelo.
Contando com personagens rasos e insuportáveis, com uma trama que tem zero consequências ao tratar sobre viagens no tempo, mas com desenhos muito bonitos, Crononautas é o trabalho mais preguiçoso de Mark Millar, mostrando que sua escrita decai ao querer fazer meros storyboards para outras mídias.
Nota:
Roteiro: 04/10. Roteiro preguiçoso, personagens mal escritos e diálogos expositivos fazem esse quadrinho ser de rápida leitura e de fácil esquecimento.
Arte: 07/10. Belos desenhos, mas que parecem nem mesmo ligar para a história sendo contada. Porém, se não fosse por Sean Murphy esse quadrinho seria um desastre maior.
Narrativa: 06/10. A trama quase inexiste, só servindo para o autor mostrar alguns períodos históricos e diversas cenas de ação. Infelizmente, esse é um dos quadrinhos mais esquecíveis dos últimos tempos.
Acabamento da edição nacional: 5/10. 100 páginas de quadrinhos, com algumas capas e só. Cobrar R$ 54,00 por uma história que já não é essas coisas afasta o leitor mais ainda desse trabalho de Mark Millar.
Nota Final: 5.5/10.
Ficha técnica:
Formato: (17 x 26 cm)
Colorido/Capa dura
Preço de capa: R$ 52,00
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