Quando comecei a assistir a segunda temporada de Sex Education, minha mãe estava na sala, usando o celular. Os primeiros 2 ou 3 minutos da série mostra Otis Milburn, o “protagonista”, masturbando-se irrefreavelmente e em todo lugar possível. (Caso não tenha assistido ainda a primeira temporada, leia aqui nossa resenha sem spoilers).
Não consegui continuar assistindo com a presença materna do meu lado, porque esse tipo de intimidade você faz escondido. Levei o celular e assisti toda a série trancado no meu quarto, como um cidadão de bem deve fazer.
O triste é que o constrangimento inicial continuou um pouco durante todo o primeiro episódio, mesmo estando sozinho e no escuro, envolto nos lençóis da minha cama. Começos de temporada normalmente sofrem a dificuldade de reintroduzir ou reapresentar os personagens para aqueles que passaram, às vezes, mais de um ano aguardando a continuação da história. Temos isso no primeiro episódio de Sex Education.
Aqueles primeiros 50 minutos te reservam piadas forçadas de uma comédia demasiadamente adolescente. De fato, Sex Education é uma série para adolescentes, com direito, inclusive à piada de peido. Mas, passando o constrangimento inicial, e o clima meio Porky’s ou American Pie, você começa a enxergar pontos muito significativos na série, que pode agradar vários públicos.
A verdade é que Sex Education é uma série necessária. Tem indicação 16 anos e é ideal para quem precisa de informações sobre relacionamentos, sexo e autoconhecimento. Uma série informativa que passa longe de panfletos ideológicos, tratando de assuntos como homossexualidade e religião de forma madura (na maioria das vezes).
Assim como no primeiro ano da série, nesta segunda temporada temos Otis sendo engolido (sem conotação sexual aqui) pelos personagens coadjuvantes, por isso as aspas em “protagonista”. O inegável é que Otis é um personagem tão pouco simpático que seria um forte concorrente ao prêmio Shinji Ikari do ano.
Em compensação, se tivemos Eric Effoing (Ncuti Gatwa) roubando cena em 2019 e mantendo um excelente papel nesta continuação, desta vez Aimee Gibbs (Aimee Lou Wood) chama toda nossa atenção, com sua timidez, simpatia e um pouquinho de burrice envolvente. Não conseguimos ficar alheio ao drama pelo qual a personagem passa e somos levados a observar o que ela faz, mesmo que esteja em segundo plano nas cenas em que aparece.
Adam Groff é o personagem que mais cresce nesta segunda temporada, com excelente performance do ator Connor Swindells, meio distante, meio turrão, fazendo caretas às vezes vazias, às vezes cômicas e dramáticas, continua a grande e curiosa incógnita da séria, que nos leva a querer saber o que deve acontecer na próxima temporada.
Jean Milburn cresce um pouco nesta temporada, mas Gillian Anderson ainda continua uma figurante de luxo, para meu sofrimento, que sou um fã incondicional da atriz desde Arquivo X. A sexóloga tem seus momentos e suas crises com o namorado Jakob Nyman, que permanece no papel de maridão perfeito, homem sensato e maduro que parece entender a alma das mulheres melhor que a profissional que passou anos preparando-se para isso.
Neste núcleo “maduro” da série, a temporada consegue nos reapresentar a Mrs Groff, mãe de Adam, e seus problemas com o marido, abordando a questão de um casamento insosso da perspectiva de como a emancipação da mulher e a da descoberta do “amor próprio” pode reconfigurar um casamento. Ainda existem outras questões pertinentes, como a relação de Maeve com sua mãe, ou de Jackson com suas duas mães.
Além disso há uma série de possibilidades em Sex Education que envolve desde comportamentos sexuais, que vão além da questão da homossexualidade, que já não é mais tratada como um grande tabu ou um problema a ser encoberto ( vede as cenas de Eric com o namorado Rahim na igreja, por exemplo). A série, agora, aborda o sexo pelo viés de temas como o pansexualismo ou a assexualidade.
O uso de drogas, preservativos, DSTs, pílula do dia seguinte, enfim! Uma miríade de variações sobre o mesmo tema, que torna a série realmente necessária para adolescentes de todas as idades (acima de 16 anos, é bom relembrar).
Supere o primeiro episódio e maratone a série! Ela vale a pena.
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