Terra Querida consegue emocionar e, essencialmente, traz aquilo que mais é importante quando se trata do significado da Batalha do Jenipapo: a luta dos pobres e pretos, não apenas pela liberdade, mas pelo direito de não se submeter a tiranos e de possuir sua própria terra e dela tirar seu sustento.
Hoje, 28 de junho de 2022, os Cinemas Teresina tiveram uma programação incomum para o cinema piauiense. Não apenas incomum, acredito que até inédito. O filme de Franklin Pires, Terra Querida, fez uma estreia lotando duas salas da casa. Um grande feito!
Enquanto tentava me passar incógnito atrás de uma bacia de pipoca de vinte reais, pude reconhecer as mais diversas figurinhas das artes piauienses, desde atores de teatro, como o diretor do 4 de Setembro, João Vasconcelos, passando por figuras inconfundíveis como Cineas Santos, o presidente da Fundação Quixote, Kássio Gomes, Nelson Nery, presidente da Academia Piauiense de Letras ou o deputado estadual Fábio Novo.
Quer dizer, a sala não estava abarrotada apenas de elenco e figurantes. Eu mesmo estava com meu amigo e cineasta Dalson Carvalho, relembrando uma experiência de assistir na telona a produção local, como nos antigos festivais de vídeo de Teresina, que aconteciam na extinta Casa da Cultura. Andando pelo corredor, ouvi Cineas Santos dizer que fazia uns 10 anos que não entrava numa sala de cinema. Ora! Franklin conseguiu um feito e tanto! Isso não se pode negar!
Quanto ao filme em si, sou eternamente suspeito para falar do tema, pois escrevi um quadrinho sobre o conflito do Jenipapo e o próprio Franklin Pires dirigiu meu texto em várias de suas adaptações para o teatro. Então, me identifiquei com muitas passagens.
A quem me perguntasse sobre um possível filme da batalha do Jenipapo eu sempre dizia que a maneira correta de fazer era seguir o que eu indiquei em minha adaptação do quadrinho Foices e Facões para o teatro. Por questões financeiras que, claramente é um déficit que percebemos na produção de Terra Querida, eu filmaria tudo em apenas uma ou duas locações de Campo Maior, contando a vida de uma família de vaqueiro assistindo às notícias e aos cavalos portugueses passando em frente à sua porta e tentaria gastar todos os recursos possíveis numa cena de luta. Foi basicamente o que Franklin fez: a meu ver, a coisa certa diante dos recursos que dispunha.
O roteiro do filme é bom e possui imagens bonitas, com um cenário repleto de carnaúbas que sempre imaginei povoando uma produção do tipo. Inclusive, Franklin Pires comentou na solenidade de lançamento, que não foram feitas imagens em Campo Maior, mas eu outra cidade que agora esqueço o nome, mas isso não é um problema. As locações são ótimas e nenhum campo-maiorense poderia reclamar.
O filme tem pontos altos nas atuações femininas, de Alzira e sua mãe, principalmente, às quais peço desculpa por não saber o nome das atrizes. Elas são ótimas, mas o longa peca por não dar mais destaque a Alzira desde o começo, pois ela é, claramente, a melhor condutora da história e a verdadeira protagonista.
O filme tem problemas? Claro! Eu poderia dizer que esta deveria ser entendida mais como uma sessão de teste do que de lançamento, propriamente dito. Porque, na verdade, o filme não está pronto. Falta pós-produção e, principalmente necessita de uma mão mais pesada do editor, tanto para tratar melhor as imagens, corrigir as cores entre um corte e outro da mesma cena, corrigir sincronia e mixagem de áudio (algumas falas ficam escondidas atrás da trilha) e até mesmo enxugar alguns excessos, cortar a gordurinha de alguns frames, para melhorar o timing das sequencias, que por vezes se prolongam demais ou até falas que se repetem desnecessariamente.
A gente sente falta de uma grande cena com canhões e centenas de figurantes? Sim! Mas, particularmente, escutando a fala de Franklin e conhecendo a realidade da produção áudio visual local, entendo perfeitamente as decisões que o diretor tomou em “mostrar não mostrando”, ou seja, recorrendo a metáforas visuais e closes e horizontes desfocados, nunca mostrando diretamente, nem Fidié, nem seu exército. Uma decisão, provavelmente financeira, mas que se justifica na estética e na direção.
Terra Querida vale a experiência, tanto para o público quanto para Franklin Pires, que já tem histórico com produções de comédia (como Corpúsculo, Mocambinho: O filme), mas que aqui procura seu “cinema-arte”, focando no drama que conseguirá atingir um grande público.
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