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TEX é COMUNISTA, Antifascista e deixa a apolítica para lá!

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Há pouco menos de uma semana a agressão que Gleen Greenwlad sofreu, ao vivo, no programa de rádio do Pânico pelo “jornalista” Augusto Nunes acabou repercutindo no mundo dos quadrinhos.

Tudo começou após o artista Joe Bennet postar em sua rede social a seguinte frase: “Augusto Nunes, seu caboclo f#d#!! Esse tapa foi meu também! Devia ter dado era um soco!!”, revelando a natureza fascista do famoso desenhista da Marvel a favor de uma agressão a um jornalista que se posiciona, claramente, em um espectro da política contrária à sua e à do atual presidente do Brasil, Bolsonaro.

Após esses acontecimentos, alguns quadrinhistas iniciaram a campanha “Quadrinhos sem política”, e criaram uma logomarca para unir artistas e leitores em torno desse ideal.

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O grande problema dessa campanha é que ela não era uma piada irônica e genial e várias pessoas começaram a aderir. Logo, o movimento contrário ganhou força e um grande número de desenhistas lembraram de uma campanha iniciada ainda durante a CCXP de 2018, que estampava em botons por todo o evento (eu, inclusive, tenho um!): “Quadrinhistas Antifascistas”!

Caso tenham interesse em saber mais sobre esse caso, sugiro dois vídeos do youtube, um do canal Comix Zone e outro do 2quadrinhos.

Para não me alongar mais sobre a imbecilidade de uma proposta de arte apolítica, resolvi pedir emprestado o texto de Gonçalo Junior, um dos maiores pesquisadores de quadrinhos do Brasil, autor de A Guerra dos Gibis 1 e 2 (que recomendo com força) e de outros mais de 20 livros (sendo o mais recente, “Famigerado!”, uma pesquisa sobre o bandido da Luz Vermelha que está sendo sucesso de crítica). Gonçalo publicou em seu facebook um texto muito oportuno sobre Tex e política que cai muito bem na discussão atual que se está debatendo, chamado:

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“PORQUE TEX É COMUNISTA, por Gonçalo Junior

Sim, Tex é comunista e seus quadrinhos nunca foram apolíticos. Muito, muito pelo contrário. Na verdade, Tex é stalinista. Os fins justificam os meios, como diria Oscar Niemeyer. Façamos as contas. Quantas histórias de Tex saíram até hoje? Mil? Em cada uma, quantos caras ele matou? Digamos que pelo menos dez. Ou seja, o sujeito eliminou perto de dez mil canalhas da face da Terra. Todos mereceram morrer, porque ele defendia o lado mais fraco e correto. Mas Tex nunca pregou a flexibilização das armas. Pelo contrário, luta para que as mesmas não cheguem aos índios e, com isso, justifiquem os massacres promovidos pelos casacos azuis (Exército Americano). Em várias histórias, ele combate o tráfico de armas.

Tex é um ranger, agente do governo do Arizona. Nada mais bolsonariano, certo? Errado. Tex é um subversivo por natureza, um infiltrado, deveria ser demitido porque é um vermelho. Bom, pelo menos é um defensor dos peles-vermelhas, aquele povo nativo tão odiado pelo Presidente Brasileiro atual. E até se casou com uma índia e tem um filho mestiço. Ao contrário de Bolsonaro, Tex é honesto e critica bastante a política indigenista americana genocida de seu tempo. Chega a lutar e até a trair o Exército para defender os índios e as minorias – negros, mulheres e velhos. Tex é um herói romântico, claro. Mas um comunista, dentro do conceito bolsonariano e imbecil de ver o mundo. Mesmo que um bom número de seus leitores não concordem ou não enxerguem isso.

Fica a dica: quem defende Bolsonaro e lê Tex precisa prestar atenção nas entrelinhas das histórias. Está lendo mensagens comunistas sem se dar conta disso, coitados. Recomendo mandar uma cópia para João Dória ou para o Ministro da Educação, pedindo que a revista seja proibida, já que censura virou modinha. Abra o olho, rapaziada.

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(Este texto [ irônico, hein?] tem o propósito de mostrar que até Tex é quadrinho com teor político. Não existe arte sem política – não confundir arte com decoração. Mesmo de direita ou de esquerda. Não sejamos idiotas ou estúpidos).”

Sou desenhista, criador do Máscara de Ferro e autor do quadrinhos Foices & Facões. Sou formado em história e gerente da livraria Quinta Capa Quadrinhos