Antes da série, conheça uma das maiores sagas de fantasia da história, A Roda do Tempo.
“Um dia houve uma guerra tão definitiva que rompeu o mundo, e no girar da Roda do Tempo o que ficou na memória dos homens virou esteio das lendas. Como a que diz que, quando as forças tenebrosas se reerguerem, o poder de combatê-las renascerá em um único homem, o Dragão, que trará de volta a guerra e, de novo, tudo se fragmentará.
Nesse cenário em que trevas e redenção são igualmente temidas, vive Rand al’Thor, um jovem de uma vila pacata na região dos Dois Rios. É a época dos festejos de final de inverno — o mais rigoroso das últimas décadas —, e mesmo na agitação que antecipa o festival, chama a atenção a chegada de uma misteriosa forasteira.
Quando a vila é invadida por bestas que para a maioria dos homens pertenciam apenas ao universo das lendas, a mulher não só ajuda Rand e seus amigos a escapar dali, como os conduz àquela que será a maior de todas as jornadas. A desconhecida é uma Aes Sedai, artífice do poder que move a Roda do Tempo, e acredita que Rand seja o profético Dragão Renascido — aquele que poderá salvar ou destruir o mundo.”
Ler a Roda do Tempo sempre foi um dos meus objetivos na vida como fã de fantasia medieval, mas nunca consegui tempo ou oportunidade de ler essa saga tão importante para o gênero, porém, em apenas 13 dias eu já cheguei no quinto livro dos 14 que existem sobre a A Roda do Tempo. Cada livro tem em média 800 páginas, muito tempo livre? Nada. Apenas parei de dormir.
Pensando nisso e na série que está sendo produzida pela Amazon Prime, aqui tem algumas coisas que vocês precisam saber sobre uma das histórias de fantasia mais importantes já escritas pela humanidade.
Abaixo, uma foto oficial do elenco principal da série:
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Mas vamos do começo, muita gente aqui ainda não conhece a Saga como constatei fazendo algumas perguntas no twitter. A Roda do Tempo foi escrita por Robert Jordan, pseudônimo do americano James Oliver Rigney Jr, que começou a escrever em 1984 o primeiro volume da série, lançado em 1990, porém faleceu enquanto ainda trabalhava no 12º livro, em 2007, aos 58 anos. Para terminar a saga, ainda doente, o autor pediu à esposa, Harriet McDougal, que apenas uma pessoa poderia concluir sua obra, o mundialmente conhecido autor Brandon Sanderson. Sanderson terminou a saga de Robert em 2013 apenas depois do aval de Harriet, já que ele usou diversas anotações originais que Jordan havia escrito ainda nos anos 90 e muita gente acredita que ele conseguiu ser melhor que até o próprio criador.
A série é composta por 14 volumes que já ultrapassaram 40 milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro e deram origem a diversos jogos em quase todas as mídias, RPGs e outros produtos criados pelos fãs. Além disso, seu escritor Robert Jordan é frequentemente citado pela crítica especializada como sucessor de J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis).
Aes Sedai. O Dragão Renascido. Myrddraal. Trollocs. O Tenebroso. E um universo de nomes que ainda não sei se minha pronúncia está correta, já que contém apóstrofos colocados de forma aleatória são a base desta aventura. Mas isto é a Roda do Tempo e aqui você saberá apenas uma ranhura de tudo que precisa sobre ela.
Primeiro, leia os Livros
A série A Roda do Tempo (Wheel of Time) inclui 14 livros, mais uma prequela. Os volumes são enormes, têm em média 826 páginas cada. Você está se comprometendo com detalhes sobre refeições em tavernas, personagens com “dedos do tamanho de salsichas” e figurinos. Robert, era fascinado por roupas medievais e o detalhe que ele deu para cada blusa, vestido, botão, saia, bota, chega ser mais impressionante que as descrições lendárias de Tolkien.
Muitos leitores acham isso muito cansativo de acompanhar, já que para eles, a construção do mundo de A Roda do Tempo ocasionalmente atrapalha o avanço do arco da história principal. Mas eu já achei muito rico nos detalhes.
A lista completa de títulos da série é: O Olho do Mundo, A Grande Caçada, O Dragão Renascido, A Ascensão da Sombra, As Chamas do Paraíso, O Senhor do Caos – todas lançadas pela editora Intrínseca. A Crown of Swords (previsão para ser lançado este ano), The Path of Daggers, Winter’s Heart, Crossroads of Twilight, Knife of Dreams, The Gathering Storm, Towers of Midnight, and A Memory of Light. E ainda a prequela New Spring.
Neste momento, estou lendo As Chamas do Paraíso e, olha, eu não sei como será minha vida esperando as versões brasileiras. Fui atrás das versões portuguesas, mas lá na terra do Cristiano Ronaldo, eles lançaram apenas quatro volumes! Não posso ler em inglês, eu apoio e protejo, trabalho acadêmico e pesquisa de tradutores.
Mas é necessário ler todos os livros para entender o enredo? Sim, ao menos os cinco primeiros livros. Jordan gostava de escrever seus plots em alguns momentos de cada livro, porém, ele usava como artifício de escrita, algum segredo sendo revelado não em um diálogo, mas quando ele narrava determinada cidade, escrita numa pedra ou mesmo narrando um passeio de barco. O cara gostava dos detalhes.
E tenho certeza que se está aqui, você é uma pessoa que adora ler.
Segundo, entendendo o básico da trama A Roda do Tempo
Para explicar didaticamente, A Roda do Tempo é uma história sobre o bem contra o mal com uma grande quantidade de facetas, camadas e arquétipos da jornada do herói. O Mal Primordial ou Dark One ou O Tenebroso, quer influenciar o universo e o Padrão da existência para finalmente, torná-lo seu mundo. Um personagem do livro o descreve como “a personificação do paradoxo e do mal, destruidor da razão e da lógica, destruidor do equilíbrio, destruidor da ordem”.
E esse Mal personificado vem tentando isso pela eternidade, mas sempre é impedido ou quase pelo Dragão da Luz, criando ciclos de começo e fim como uma R O D A.
O Tenebroso e seus muitos lacaios lutam com nossos heróis a cada passo, às vezes até no mundo dos sonhos. Da mesma forma que as trevas tem seus agentes do caos, morte e destruição ou simplesmente Senhores do Medo, O Dragão, guiado pela Luz, tem aliados talvez iguais em número ao Dark One – eu acho legal falar e escrever Dark One. A Roda do Tempo explora como cada personagem age nesta batalha, que renasceram como o Dragão e qual o papel de várias terras e realidades.
Se não bastasse essas batalhas lendárias, Jordan usa muito bem toda sua criatividade em inventar conceitos, nomes, cidades, personagens, política e guerras.
E o que seria um mundo fantástico como este sem magia? Em A Roda do Tempo, é o Poder Único extraído da Fonte Verdadeira (o poder do Deus criador de tudo) que é baseado todo conceito mágico da Saga e; é exercido por canalizadores que têm forças ligadas aos elementos, também conhecidos como os Cinco Poderes (Fogo, Gelo, Ar, Terra e Espírito). Eles tecem os fluxos de elementos como se fossem feitiços. E o Poder Único é a chave no negócio entre O Tenebroso e o Dragão Renascido.
Duas metades compreendem o Poder Único: a metade feminina chamada de saidar e a metade masculina chamada de saidin. Mas graças ao Tenebroso, o saidin está maculado.Canalizadores masculinos são raros, muitas vezes enlouquecendo se tentarem utilizar o Poder Único. Muitas, mas não todas, canalizadoras pertencem a uma organização chamada Aes Sedai. Explicar a hierarquia e os princípios das Aes Sedai é complexo, então, por enquanto, pense nelas como uma Ordem Jedi somente para mulheres. Literalmente.
E uma observação importante: o mundo de A Roda do Tempo não tem um nome igual a Terra-média. Alguns fãs o chamam de Randland, assim chamado em homenagem ao protagonista. Mas até onde cheguei, eles simplesmente chamam de MUNDO.
Se lembram do Padrão que comentei acima? Pois bem, de uma forma sucinta, o Padrão é que rege a vida das pessoas, ao mesmo tempo que permite que indivíduos especiais possam alterá-lo, como também a divisão de encher os olhos das regiões desse mundo e suas principais instituições bélicas e políticas, e a perfeita dosagem de protagonistas masculinos e femininos, subvertendo ainda o gênero ao colocar mulheres na liderança de reinos ou como principais detentoras da magia. Em A Roda do Tempo, tudo é obra do Padrão.
Tem como fazer paralelo às obras de Tolkien?
Como já disse, Gabriel Munguba:
“É possível fazer um paralelo entre Robert e Tolkien quanto ao descritivismo de ambos os autores. Curiosamente, uma das críticas comuns à obra e a O Senhor dos Anéis é quanto ao ritmo truncado de sua narrativa. Definitivamente, a lentidão desses livros chega a desapontar alguns leitores dependendo dos gostos de cada um, como aqueles que preferem um ritmo mais ágil presente em narrativas como a do escritor Brandon Sanderson… todavia, uma obra imersiva na sua maneira de se ater aos mínimos detalhes.”
A Roda do Tempo consegue evoluir elementos dos pilares edificados por J.R.R. Tolkien. Sempre faltou ao autor de O Hobbit um toque de política, um tempero de intriga palaciana em suas obras, e se isso é balanceado nas Crônicas de Gelo e Fogo de G.R.R.Martin, Jordan faz melhor: ele une esses dois elementos, as conspirações pelo poder com a aventura por regiões enfrentando perigos à moda clássica. O resultado é A Roda do Tempo pode agradar diferentes tipos de público: o das viagens pela Terra-Média, e também os fascinados pelas reviravoltas na Guerra dos Tronos, ainda que para esse primeiro livro a história provavelmente agrade mais à primeira metade. A Roda do Tempo é, portanto, uma série transicional entre esses dois fenômenos da literatura fantástica, sendo ela também um magnum opus.
Uma obra de 14 livros com aproximadamente 100.000 caracteres é complexo resumir. Cada livro tem glossários no final para situar o leitor. Nomear os personagens principais pode ser subjetivo, mas os cinco protagonistas que são retirados de sua pequena aldeia para um mundo que é positivamente louco em comparação com suas vidas antes tranquilas são: Rand al’Thor, Egwene al’Vere , Perrin Aybara, Matrim (Mat) Cauthon e Nynaeve al’Meara. Cada personagem tem um arco que às vezes puxa outros desse grupo e às vezes se divide em uma direção solitária. Indo desde suas primeiras aparições até a última … você não vai acreditar o quão longe eles vão.
Onde cada um estará fazendo alguma coisa – os livros dividem os capítulos entre os cinco – e que essas coisas estarão ou não alterando o Padrão.
E a Série da Amazon Prime?
Por enquanto, a produção escalou atores brancos e negros para o elenco princial. E isso é bem importante, já que nos livros Jordan não especificava que determinada etnia era a superior quando se referia a raça humana. Além disso, é importante que os atores sejam capazes de transmitir os traços centrais dos personagens. Até agora, pelo que vi assistindo a algumas entrevistas e ouvindo alguns comentários de pessoas que viram esses atores em papéis anteriores, talvez dê liga.
O que me preocupa muito mais é o medo de que eles possam não direcionar a série para o público certo. O motivo de The Shannara Chronicles e Legend of the Seeker terem sido fiascos foi porque seus criadores não entendiam que o público principal deles era uma determinada faixa etária. Em vez disso, ele direcionaram para o público mais jovem e também tentaram formatá-los para que fosse transmitido em horário nobre. O motivo do Game of Thornes ter tanto sucesso é porque ele especificamente não fizeram isso, os produtores e a HBO miraram diretamente na fanbase da série, aderindo quase religiosamente à história dos livros (pelas primeiras temporadas, pelo menos) e mantiveram todos os temas incestuais / fratricidas / patricidas chocantes firmemente intactos.
Acabou que isso atraiu também o público mais jovem. Game of Thrones passou anos no topo das séries de TV de todo o planeta em todos os gêneros.A Roda do Tempo, a série, tem potencial para fazer o mesmo. Mas se eles tentarem sanar coisas como alguns dos “relacionamentos” da série, com certeza falharão. Eles não devem se esquecer da dinâmica masculino / feminino nesta série. Eles devem abraçá-lo de todo o coração. A dinâmica masculina / feminina às vezes chocante é exatamente o que poderia fazer a série funcionar. As personagens femininas que Jordan escreveu são mais do que fortes em seus próprios méritos.
Mas, por enquanto, vamos esperar pelo menos o lançamento do trailer, enquanto isso, leia a obra. É sério.
No próximo artigo, eu falo os nomes dos personagens principais com seus respectivos atores, as cores e a Ordem das Aes Sedai, quem é Lews Therin Telamon, os Abandonados. É muita coisa, porém, valerá a pena.
Você escreve muito bem! Parabéns!