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Entrevista | Edney Silvestre

Edney Silvestre já tinha uma carreira consolidada no jornalismo quando decidiu explorar sua verve literária. E o fez com brilhantismo.

Correspondente internacional da rede Globo por mais de uma década, cobriu eventos históricos, como o atentado ao World Trade Center, em Nova York. No comando do programa Globo News Literatura, já entrevistou dezenas de escritores, inclusive alguns laureados com o prêmio Nobel.

Mas foi em 2009 que Edney, nascido na cidade de Valença, no Rio de Janeiro, e apaixonado por leitura desde criança, quando descobriu os quadrinhos e os romances de Jack London, começou uma nova etapa na sua carreira, ao publicar seu romance Se eu fechar os olhos agora, premiado com o Jabuti de Melhor Romance no ano seguinte e que agora chega à televisão como minissérie adaptada por Ricardo Linhares, com Antônio Fagundes, Murilo Benício, Mariana Ximenes e grande elenco.

Com três romances publicados, além da coletânea de contos Welcome to Copacabana & outras histórias, Edney ocupa seu lugar como um dos nomes relevantes da literatura brasileira contemporânea. Conversamos um pouco sobre sua carreira literária e a adaptação vindoura de seu livro, num papo que você confere a seguir.

 

5C: “Se eu fechar os olhos agora”, seu romance de estreia, foi bem recebido pela crítica e pelos leitores, tendo ganho o prêmio Jabuti e traduzido em diversos países, como França, Inglaterra e Itália. Agora é adaptado para televisão. Qual sua expectativa quanto à recepção por esse novo público?

Edney: Meu livro é uma metáfora sobre o Brasil mestiço, sem voz, sufocado pelo patriarcado, e cruelmente destruído, mostrado através da figura da bela mestiça Anita. A minissérie adaptada de “Se eu fechar os olhos agora” escrita pelo Ricardo Linhares explicita esses aspectos, traz para ainda mais perto do público as diversas faces da sociedade hipócrita que prevalece até hoje. Acredito que será acolhida pelos telespectadores da mesma forma que leitores e críticos acolheram meu romance e pode, quem sabe, despertar interesse em conhecer esta e outras obras minhas que, igualmente, têm a história do Brasil como base.

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5C: Você se envolveu na produção de alguma forma? Acompanhou as filmagens, deu sugestões, participou da produção do roteiro?

Edney: Ricardo e eu conversamos muito, longamente, antes de ele escrever o roteiro. Desse momento em diante, eu apenas lia os capítulos, que ele mandava para mim, por mera gentileza. O roteiro é inteiro do Ricardo. Juntos acompanhamos a preparação do elenco, vimos alguns ensaios, visitamos o set de filmagem em Catas Altas (MG) e no Estúdios Globo. Criamos uma parceria e desenvolvemos nossa amizade.

5C: O enredo acompanha dois garotos que investigam um misterioso assassinato numa cidade do interior fluminense na década de 1960. Podemos vislumbrar algo pessoal nessa ambientação?

Edney: A cidade fictícia de Sâo Miguel é uma mistura de minha cidade natal, Valença (RJ), no Vale do Café, com Tiradentes (MG). Muito do que Paulo e Eduardo vivenciam no romance tem, sim, a ver com muito do que eu mesmo vivenciei na minha infância e pré-adolescência. Muitos meninos dos anos 1960 tiveram experiências semelhantes ‘as minhas, acredito.

Elenco da minissérie “Se eu fechar os olhos agora”

5C: Você já era um jornalista com uma carreira consolidada quando decidiu se aventurar na literatura, tornando-se inclusive um autor profícuo. Como se deu esse processo? Era um desejo acalentado e maturado com o tempo?

Edney: Sempre escrevi, desde que aprendi a juntar as letras. Sempre gostei de contar histórias. Eu já havia publicado alguns contos, esporadicamente, em revistas literárias. Mas a urgência de publicar o romance que fervilhava na minha cabeça veio, mais forte, depois da minha traumática experiência cobrindo as 3 mil mortes dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e da morte de algumas pessoas próximas muito queridas. O que narro no capitulo 13 de “Se eu fechar os olhos agora”, por exemplo, é intensamente pessoal e se ancora em uma dessas perdas.

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5C: Quais suas grandes inspirações e referências literárias?

Edney: Graciliano Ramos, mestre de todos os mestres. Charles Dickens, Philip Roth, Carlos Drummond de Andrade. E muitos outros.

5C: Há planos de adaptação – seja para a televisão ou cinema – para seus demais romances “A felicidade é fácil” e “Vidas provisórias”?

Edney: “A felicidade é fácil” vai virar filme, com direção de João Daniel Tikhomiroff, da produtora Mixer. Há negociações para a adaptação de “Vidas provisórias” em seriado. Mas ainda é cedo para bater o martelo.

Trinca de romances já publicados por Edney Silvestre

5C: No programa GloboNews Literatura, pôde entrevistar alguns dos nomes mais importantes da literatura contemporânea, desde ganhadores do prêmio Nobel como Mario Vargas Llosa e Orhan Pamuk a grandes autores brasileiros, a exemplo de Lygia Fagundes Telles e Milton Hatoum. Quais considera mais marcantes?

Edney: Um dos momentos mais emocionantes da minha vida, tanto profissional quanto pessoal, foi o dia inteiro que passei na casa de José Saramago, fazendo uma entrevista intensa, sincera, cheia de luz, como ele era. Há outros momentos: com Norman Mailer, com Adélia Prado, com Ohran Pamuk, Vargas Lhosa, Paulo Coelho, tantos, um privilégio repetido várias vezes, pelos quais sinto gratidão sem tamanho..

Parnaibano, leitor inveterado, mad fer it, bonelliano, cinéfilo amador. Contato: rafaelmachado@quintacapa.com.br